quarta-feira, 11 de setembro de 2019

2019 Ford Edge ST 2.7 V6 AT8; por um mundo menos óbvio

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)


Não se deixe levar pelas fotos: o Edge é grandalhão e imponente nas ruas.


Todo mundo que gosta de carro já tem uma ideia prévia de qual viatura colocaria na garagem se tivesse X ou Y na conta. Dependendo do segmento ou do que se espera daquele carro, certas escolhas são muito óbvias seja pelo desempenho, pela tecnologia embarcada, pelo design matador ou por uma mistura harmoniosa de tudo isso. Acontece que ser óbvio, por vezes, é muito chato e faz com que você seja apenas mais um na multidão. Nossa avaliação da vez traz um veículo que é perfeito para quem se enquadra no grupo dos "rebeldes": o Ford Edge ST.

O motivo da rebeldia é até bem simples: o preço da brincadeira. Atualmente, o Edge ST é vendido pela Ford do Brasil por R$299.000, valor equivalente ao de modelos de marcas premium, distintos em proposta, porém, mais atraentes para os que buscam status acima de tudo. É fato que um Ford não é a primeira opção que vem na mente de quem deseja gastar 300 mil em carro e é exatamente isso que faz do Edge ST uma escolha interessante para quem quer viver em um mundo menos óbvio.

Parada durante a subida que leva ao município de Nova Friburgo, região serrana do estado do Rio de Janeiro.

O que é, o que é?

O ST é a versão de alta performance do Edge, SUV intermediário de porte médio-grande na gama da montadora e o segundo veículo mais caro da Ford no Brasil, atrás apenas do Mustang. É a primeira vez que o Edge recebe o tratamento ST (sigla de Sport Technologies) e é, também, o primeiro utilitário da marca a ser preparado pela divisão Ford Performance e receber a sigla destinada aos veículos esportivos - Fiesta e Focus para ser mais preciso, além do ST original que foi o Mondeo ST24 de 1997, exclusivo do mercado europeu.

O tratamento esportivo veio junto do facelift da segunda geração, aquela que foi lançada em 2015 e chegou aqui dois anos depois por aproximadamente 230 mil reais, mas, não vingou. Entretanto, com o sucesso do Mustang em solo tupiniquim e o surgimento do Edge ST lá fora, a montadora viu a chance de tentar fazer seu SUV brilhar novamente por aqui ao oferecê-lo para os que queriam um Mustang e precisavam de espaço para a família - tanto é que, nos dias atuais, o Edge só é vendido por aqui na versão esportiva e sem qualquer previsão de retorno das convencionais.


Capô é sustentado por amortecedores. A capa central traz o escrito V6 EcoBoost em alto relevo e plaqueta Ford Performance

Operários canadenses

Importado do Canadá, o Edge ST conta com um 2.7 V6 biturbo da família EcoBoost, capaz de gerar até 335cv e 54,5kgfm e passar toda essa força para as quatro rodas através de uma caixa automática de oito velocidades. Mesmo pesando pouco mais de duas toneladas, o SUV esportivo consegue um 0 a 100km/h na casa dos 6,4 segundos, porém, a máxima é limitada a meros 210km/h por questões de segurança devido ao porte do carro. Sim, sabemos que existem SUVs maiores e mais pesados que atingem velocidades mais altas, contudo, também são bem mais caros e, por conta disso, contam com uma mecânica mais refinada de modo geral.

Para manter tudo isso sob controle, há rodas de 21 polegadas e uma suspensão mais baixa, de acerto que preza pelo equilíbrio entre conforto e firmeza de rodagem. Vale lembrar que o sistema de tração integral é do tipo AWD, ou seja, é gerenciado eletronicamente e atua sob demanda: para o uso cotidiano, a tração fica apenas nas rodas dianteiras, passando para as quatro quando o motorista pisa mais fundo ou o sistema detecta a necessidade, como numa repentina perda de estabilidade. Essa dupla personalidade ajuda o grandalhão a economizar combustível: nossa média geral foi de 9,3km/l, sendo 6,7km/l o pico de consumo e 12,4km/l o pico de economia (sempre com start-stop desativado), números muito bons considerando o peso do conjunto e a força bruta do motor.


Painel de instrumentos é o mesmo do Fusion e Ranger. A peça 100% digital como no Mustang não veio pra cá.

Tirando o atraso

Muita coisa aconteceu desde 2015, ano de lançamento dessa geração do Edge, para cá. Naturalmente, era de se esperar que o modelo ficasse defasado diante da concorrência mais moderna, mas, a Ford buscou contornar isso não apenas na mecânica como também no pacote tecnológico. O ST vem para cá completo, sem opcionais: sua lista de equipamentos inclui faróis Full LED adaptativos, sistema Co-Pilot 360 de condução semiautônoma (piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa, etc.), som Bang & Olufsen com doze alto-falantes, multimídia com telas individuais para os ocupantes traseiros, teto solar panorâmico duplo, sensores de estacionamento em 360 graus com câmeras na frente e na traseira, retrovisores fotocrômicos (interno e do motorista), bancos dianteiros e volante com ajustes elétricos, entre muitos outros.

Apesar de ser uma lista bem recheada, algumas faltas menores são sentidas e ficam até "feias" para um carro desse valor, por exemplo: não há rebatimento elétrico dos retrovisores, os vidros traseiros não possuem função um-toque e o sistema de ar condicionado é de duas zonas - deveria ser de três zonas como acontece em alguns carros mais baratos. Pelo menos, os passageiros de trás contam com saídas de ar no console central e sistema de aquecimento dos assentos das extremidades.


Telas individuais permitem duas programações diferentes. Há entradas USB, auxiliar e HDMI.

De modo geral, o Edge ST consegue agradar a todos os que viajam a bordo. O preto domina a cabine em todos os cantos, do assoalho ao teto, fazendo contraste com os detalhes em alumínio que decoram as portas, volante e console central. Apesar de compartilhar o painel de instrumentos, comandos de multimídia e climatização com o sedan Fusion (o que deixa a cabine com um ar datado), o acabamento interno é melhor que o do irmão três-volumes, trazendo painel tipo emborrachado, portas forradas em couro e assentos mesclando couro e tecido perfurado - os bancos dianteiros trazem aquecimento e refrigeração, sendo que há três posições de memória para o do motorista.

O porte médio-grande do Edge ST confere um espaço generoso na cabine: graças ao entre-eixos de 2,85m, há acomodações para as pernas de quatro pessoas com folga - o passageiro traseiro do meio ainda sofre um bocado por conta do console central dianteiro que se estende até ali. São cinco lugares confortáveis em largura e um porta-malas de 602 litros com acionamento elétrico ou por movimento debaixo do para-choque traseiro: basta passar o pé rapidamente e a tampa se levanta ou abaixa, acompanhada de um aviso sonoro.


Parada na praça central da cidade de Nova Friburgo

Acertando os ponteiros

Andar com o Edge ST na rua é uma experiência um tanto intrigante. Começa no contato inicial, pois, o modelo acomoda bem e já "mima" o motorista pelo Smart Entry que posiciona banco e volante automaticamente. A partida é silenciosa (até demais para um esportivo) e ele se movimenta sem qualquer dificuldade; é curioso ver algo tão grande e pesado capaz de avançar tão rápido, o que requer suavidade extra no pé direito. Apesar de trazer a sigla ST, a impressão inicial é a de que a Ford pensou mais no conforto: além do escape silencioso demais, as janelas trazem isolamento acústico e deixam quase todos os barulhos do lado de fora da cabine. É o tipo de paz que a gente espera de um veículo de 300 mil, entretanto, quem quer ver o "tempero" da coisa pode achar monótono demais.

Por falar em tempero, o visual do Edge ST consegue ser discreto e, ao mesmo tempo, evidenciar seu caráter mais agressivo: o exterior traz detalhes em preto brilhante, acabamento trapezoidal nas saídas de escape, pouquíssimos cromados e uma postura mais intimidadora, mais baixa do que normalmente se vê em SUVs. É uma fórmula que permite ao utilitário rodar sem chamar tanta atenção, exceto por ser figura raríssima nas ruas e por ser maior que os demais carros.



O "porém" do tratamento ST fica para a hora da prova de fogo. Apesar da suspensão ter ficado mais rígida e baixa, o porte e peso do Edge impedem que o carro seja mais abusado em trechos sinuosos e também afetam a frenagem, exigindo que o motorista afunde mais o pé para conseguir parar o mamute americano com segurança. Seu ponto alto está na aceleração: basta pisar fundo para o câmbio jogar uma marcha menor e o utilitário devorar o asfalto sem dó, enquanto o urro vigoroso do V6 ecoa na pista e é simulado na cabine pelo sistema de som. O câmbio de oito marchas confere elasticidade ao veículo, trazendo modo Sport no próprio seletor ou permitindo trocas manuais pelas aletas no volante.

Ainda assim, no final das contas, a impressão que fica é a de que o Edge ainda se comporta mais como um bom veículo familiar do que como um esportivo. O rodar silencioso consegue até ser surpreendentemente confortável em pisos que não estejam 100%, mesmo com as rodas de aro 21, mas, a suspensão mais dura faz o carro "quicar" com as imperfeições da pista. No geral, podemos dizer que a Ford Performance fez do Edge ST uma escola para projetar outros SUVs de proposta esportiva em um futuro próximo; nosso veredito é o de que a divisão está no caminho certo, porém, precisa redobrar a atenção em alguns pontos para fazer do Edge ST um modelo tão empolgante quanto seus irmãos menores de sigla. Já como um bom e discreto SUV de luxo, o carro não deve em nada a outros oferecidos no segmento premium.



Considerações finais

Optar pelo Edge ST é, ao mesmo tempo, uma decisão fácil e difícil de tomar. Fácil porque ele está, de certa forma, sozinho em sua categoria e faixa de preço: seus rivais de proposta esportiva oscilam nos extremos do "muito mais barato" ou "muito mais caro". O lado difícil fica pelo apelo do status: nessa faixa de preço, a maioria dos consumidores prefere um veículo até menor ou mais fraco mecanicamente, mas, que seja de uma marca com mais prestígio. Pesam a favor do Ford a rede de concessionárias bem maior que a de qualquer marca premium, além dos fatores raridade (quantos Edge ST você já viu rodando?) e discrição, pontos que também podem pesar muito na hora de fechar negócio.

Como dito anteriormente, o Edge ST é uma boa opção para quem busca um SUV com algo a mais e recheado de tecnologia, além de espaço de sobra para a família e suas bagagens pessoais. Se levar a família não é sua prioridade número um no momento ou você procura um utilitário que também permita o uso fora-de-estrada esporadicamente, procure nos rivais: por causa das características voltadas ao desempenho, o Edge não foi feito para andar fora do asfalto. Um SUV menor será mais adequado para se mover nos centros urbanos, estacionar em casa ou no trabalho, entre outras situações do nosso cotidiano.



O modelo avaliado não possui concorrentes diretos em sua faixa de preço.

Concorrentes indiretos (entre 280 e 320 mil reais): Land Rover Range Rover Evoque R-Dynamic HSE, Volvo XC60 D5 Inscription ou T8 R-Design, Audi Q5 Ambition, Mercedes-Benz GLC 250 4MATIC Sport, BMW X3 xDrive30i X Line


Faróis de neblina também são do tipo projetor com tecnologia LED

Ficha técnica

Motor: 2.7 biturbo, 6 cilindros em V, 24 válvulas, gasolina
Potência: 335cv a 5.550rpm
Torque: 54,5kgfm a 3.250rpm
Transmissão: automática de oito velocidades
Tração: integral permanente (AWD)
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 265/40 R21
Comprimento: 4,79m
Largura: 1,92m
Entre-eixos: 2,85m
Altura: 1,73m
Peso: 2.031kg
Porta-malas: 602l
Tanque: 70l

0 a 100km/h: 6,4 segundos
Velocidade máxima: 210km/h

Fotos (clique para ampliar):