quinta-feira, 12 de novembro de 2020

2021 Fiat Strada Volcano 1.3 MT5; evolução da espécie

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por FCA Brasil

Nova geração aproximou a picape do irmão Toro em design, o que deu um ar mais sofisticado.

O ano de 2020 nem acabou, mas, já se tornou marcante em inúmeros aspectos, inclusive no mercado automotivo. Foi um ano onde algumas novidades significativas chegaram ao mercado e, no caso do Brasil, um dos grandes destaques é a nova geração do Fiat Strada. Lançada em Junho, a picape mudou profundamente e nós recebemos a versão Volcano, top de linha, para avaliar por uma semana e conferir suas qualidades e defeitos.

Além de ter mudado por completo, o novo Fiat Strada trouxe elementos estéticos e tecnológicos que veremos nos futuros lançamentos da marca, a exemplo do novo emblema que traz as letras "soltas" na dianteira e traseira da carroceria, o detalhe da Fiat Flag na grade dianteira, o multimídia com espelhamento sem fio para smartphones e outros que serão comentados nos parágrafos abaixo.

Apesar do visual lembrar bastante o Toro, o porte do Strada ainda é de picape compacta. Medidas gerais mudaram pouquíssimo comparadas às do modelo anterior.


Evolução sem revolução

A nova geração do Fiat Strada mudou bastante, mas, aproveitando e/ou mantendo alguns elementos conhecidos. Chamada de MPP, a nova plataforma é uma mescla de componentes de Mobi, Uno, Argo e Fiorino, mantendo algumas características como a suspensão traseira por feixe de molas, o que confere mais robustez e reduz custos. Boa parte da cabine (até a coluna B), portas e vidros dianteiros são os mesmos do subcompacto, enquanto que a coluna A e o para-brisa vem do Uno (do qual o Mobi também é derivado) assim como comandos internos de ar condicionado e base do painel de instrumentos.

A parte mecânica também já é conhecida: enquanto as versões mais baratas usam o antigo motor 1.4 Fire flex, as mais caras adotam o moderno 1.3 Firefly aspirado, também flex, sempre com transmissão manual de cinco marchas. A opção do 1.8 E.torQ saiu de cena e, em um futuro não muito distante, a picape receberá a nova caixa automática CVT que a FCA vem desenvolvendo, além de novos motores turbinados da família Firefly.

Versão Volcano conta com faróis principais do tipo Full LED, exclusivos dela, que se estenderão ao Toro, Argo e Cronos em seus respectivos facelifts.


Na ponta do lápis

A versão Volcano, mais cara da gama, é tabelada atualmente em R$83.990 e traz alguns itens de série como: quatro airbags, controles de tração e estabilidade, faróis Full LED, faróis de neblina, rodas aro 15 com pneus de uso misto, central multimídia com espelhamento para smartphones sem fio, sensores traseiros de estacionamento com câmera de ré, protetor de caçamba com capota marítima em lona, monitoramento de pressão dos pneus, luzes diurnas em LED, chave canivete com abertura remota de janelas, volante e banco do motorista com ajuste de altura, retrovisores com ajustes elétricos, entre outros.

A lista de equipamentos, embora não seja perfeita, não é ruim para um carro dessa faixa de preço. O que realmente incomoda é que, mesmo sendo uma versão top de linha, a Volcano não traz grandes diferenças internas diante das versões mais baratas; as portas e painel são inteiramente em plástico, sem qualquer detalhe ou material que faça uma mísera distinção visual para minimizar a sensação de "pobreza". Além disso, já que a Fiat não adotou o painel do Argo/Cronos como alguns especulavam, poderia, pelo menos, ter aproveitado o mostrador de instrumentos da dupla - ainda que fosse apenas para a versão Volcano. Quem paga a mais por uma variante do topo quer sentir e ver essa diferença.

Interior agrada mas deveria ser melhor, principalmente na versão top de linha.


Comedido até demais

Como dissemos anteriormente, o Fiat Strada na versão Volcano é movido por uma única opção de motor e transmissão: o conhecido 1.3 Firefly aspirado flex de até 109cv e 14,2kgfm (com etanol) e câmbio manual de cinco marchas. Não são números empolgantes, mas, são melhores que os do 1.4 Fire das versões mais baratas e suficientes para empurrar os 1.174kg da picape quando vazia; o 0 a 100km/h ocorre na casa dos 11,4 segundos enquanto que a máxima é de 168km/h. Rodamos mais de 600km ao longo da semana e a média geral com etanol foi de 12,5km/l, sendo 8,7km/l o pico de consumo e ótimos 16,3km/l de pico de economia.

Se o 1.3 Firefly é suficiente para levar a picape vazia, a coisa muda de figura quando se coloca peso. Apesar da capacidade de carga ser de bons 650kg na caçamba da cabine dupla, o utilitário carregado deixa evidente a falta do 1.8 para quem usa o carro de forma mais severa; por faltar torque em giro baixo, é necessário esticar bem as marchas para que o motor entregue seus picos de potência e torque, conseguindo se mover com eficiência. Para amenizar isso, a Fiat mostrou que ouviu as constantes queixas sobre a transmissão e melhorou o conjunto, conferindo engates mais precisos e uma embreagem menos cansativa de se trabalhar, mas, as relações ainda precisam de atenção especial.

Motor 1.3 dá conta para o uso comum mas o 1.8 faz falta na hora da labuta.


Dia a dia amigável

Se você já viu o novo Strada pessoalmente, deve ter percebido que a picape "engana": nas fotos, parece muito maior do que é. Na prática, as medidas mudaram pouquíssimo em relação ao modelo anterior e a nova continua se tratando de uma picape compacta, o que a deixa bastante à vontade na correria do dia a dia: é fácil de estacionar e manobrar, além de oferecer uma ótima visibilidade. Dois adultos + duas crianças viajam com tranquilidade, mas, só leve quatro adultos se o passeio for curto ou se todos os ocupantes forem de menor estatura; o espaço traseiro é bastante limitado e os bancos, por serem muito verticais, não oferecem tanto conforto.

Em contrapartida, os ocupantes da frente viajam muito bem graças aos bancos com abas laterais pronunciadas e o revestimento agradável ao toque. O banco do motorista possui ajuste de altura por alavanca e o volante fica devendo o ajuste de profundidade, mas, também oferece o de altura e ajuda o condutor a encontrar uma boa posição de dirigir com facilidade. Falando em facilidade, a nova central multimídia Uconnect com espelhamento sem fio manteve a fluidez típica do sistema e é boa de usar, respondendo com rapidez e mostrando tudo que o motorista deseja sem complicação.

Central Uconnect é um dos pontos fortes do carro: funciona muito bem, é repleta de funções e a imagem é de ótima definição.


O novo Strada apresenta uma certa dualidade que se mostra bastante interessante no uso cotidiano: parece um carro comum com caçamba e, ao mesmo tempo, tem uma leve pegada de picape graças aos feixes de mola da suspensão traseira - o carro "quica" de leve quando vazio, característica típica de picapes maiores. Outra novidade bem-vinda é a adoção dos faróis Full LED, muito superiores aos halógenos em eficiência e vida útil, porém, a falta de um sistema de ajuste elétrico de altura é grave: com o carro carregado, a tendência do facho do farol baixo é ficar mais alto com a inclinação do carro para trás e, assim, quem vem contra é incomodado pela luz e pode sofrer acidentes.

Outro ponto que merece atenção é o escalonamento das marchas, pois, a primeira é extremamente curta e a quinta deveria ser mais longa. São exatamente os mesmos problemas que relatamos no teste do Argo Trekking e que tornam a condução deveras cansativa; a 95km/h, o motor já chega nos 3.000rpm, o que deixa as viagens rodoviárias barulhentas e que seria amenizado com uma sexta marcha - ou uma quinta mais longa. Talvez, a preferência da Fiat por relações mais curtas seja para tentar disfarçar a falta de força do motor em situações mais exigentes, o que reforça ainda mais a necessidade da chegada dos prometidos Firefly turbinados.

Visual inspirado no Toro deixou a tampa bipartida de fora; no Strada, a peça é convencional como nas demais picapes do mercado.


Considerações finais

A evolução do novo Fiat Strada diante do modelo anterior é perceptível: dá para ver e sentir quando se coloca a picape no uso cotidiano. O problema é que picapes são, por definição, veículos para trabalho e a nova geração parece ter sofrido um certo processo de "gourmetização" que, embora tenha melhorado bastante o dia a dia, comprometeu sua função principal. É verdade que, para essa finalidade, existem as versões mais baratas com caçamba maior e mais capacidade de carga, entretanto, quando se paga mais de 80 mil reais por um produto, o mínimo que se espera é que o mesmo consiga realizar sua tarefa primordial com maestria.

Sendo mais carro do que picape, o novo Strada se mostra uma compra interessante para quem usa o veículo no dia a dia e precisa, eventualmente, transportar cargas maiores ou mais altas de lá para cá sem precisar pagar um frete à parte. A falta de um motor mais forte (como o 1.8) limita o uso mais pesado do carro e a falta de certos mimos e/ou caprichos o faz não ser tão atraente para quem só usa como meio de transporte; um sedan compacto (que atualmente oferece ótimo espaço interno) se mostra mais vantajoso, inclusive com opções dentro da própria Fiat como o Cronos.



O modelo avaliado não possui concorrentes diretos e/ou indiretos em sua categoria e faixa de preço.


Ficha técnica

Motor: 1.3, 4 cilindros em linha, 8 válvulas, flex
Potência: 109cv (E) / 101cv (G) a 6.250rpm
Torque: 14,2kgfm (E) / 13,7kgfm (G) a 3.500rpm
Transmissão: manual de cinco velocidades
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos sólidos na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/60 R15
Comprimento: 4,48m
Largura: 1,73m
Entre-eixos: 2,73m
Altura: 1,59m
Peso: 1.174kg
Caçamba: 844l
Carga útil: 650kg
Capacidade de reboque com freio/sem freio: 400kg
Tanque: 55l

0 a 100km/h: 11,4 segundos
Velocidade máxima: 168km/h


Matéria em vídeo


Fotos (clique para ampliar):