terça-feira, 24 de agosto de 2021

2021 Ford Bronco Sport Wildtrak 2.0 AT8; um herdeiro digno

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)

A cor da nossa viatura de teste é perolizada e se chama Vermelho Zadar. Nenhuma das cores possui custo adicional.

Fazer coisas atuais com inspiração em outras mais antigas é uma moda que se iniciou no fim da penúltima década e parece estar com força total até hoje - pelo menos no setor automotivo. Nos últimos anos foi possível ver alguns nomes famosos voltarem ao mercado após um longo tempo engavetados e, sem dúvida, um dos que mais "causaram" no mercado global foi o Ford Bronco, um SUV de grande porte nascido na década de 60 que fez sucesso entre os norteamericanos ao longo de cinco gerações.

O nome Bronco já não era mais explorado pela Ford desde 1996, ano em que a última unidade da quinta e então última geração foi produzida, mas a situação mudou agora em 2021 com o lançamento da sexta geração do utilitário. Ela veio acompanhada de uma derivação inédita e de pegada mais urbana: o Bronco Sport. Montado no México, o SUV médio é menor e mais barato que o Bronco convencional, mas promete ser quase tão capaz quanto o irmão maior; além disso, ele é o responsável por inaugurar o nome Bronco no mercado brasileiro e nós passamos uma semana com a novidade para atestar suas qualidades e defeitos.

Para o Brasil, o teto do Bronco Sport sempre virá em preto brilhante.

Muito prazer!

O Bronco Sport é um modelo inédito no mercado global e, por conta disso, é importante pontuar as diferenças existentes entre ele e o Bronco convencional. Enquanto o Bronco é um SUV de grande porte montado no tradicional esquema de carroceria sobre chassi, o Bronco Sport é um SUV médio e sua estrutura é do tipo monobloco, utilizando a plataforma modular C2 que é compartilhada com modelos como a atual geração do Focus, o Escape e a recém-lançada picape Maverick.

Importado do México, o utilitário chega ao Brasil em versão única chamada Wildtrak, um pacote recheado que se baseia na versão Badlands (top de linha nos EUA) e que foi concebido especialmente para o mercado brasileiro, não possuindo opcional algum. Seu preço é de R$264.690 e ele já engloba as nove opções de cores disponíveis, sendo três perolizadas. Já o interior vem sempre em uma mescla de tons de marrom e bronze com detalhes em cinza e preto.

O carro é novidade; o motor, não.

O bom filho a casa torna

Apesar do Bronco Sport ser um modelo novo, o conjunto mecânico responsável por movimentá-lo traz um conhecido de longa data do brasileiro. Trata-se do mesmo 2.0 turbo de quatro cilindros da família EcoBoost que está presente em vários modelos da Jaguar Land Rover e, claro, dentro da própria Ford como o finado Fusion. Aqui, ele gera 240cv e 38kgfm de picos de potência e torque, trabalhando somente com gasolina, e é gerenciado por uma caixa automática de oito marchas; lá fora, o Bronco Sport pode receber um 1.5 turbo também da família EcoBoost. Com o motor 2.0, o SUV vai de 0 a 100km/h em 8 segundos e a velocidade máxima é de 180km/h.

O grande destaque do Bronco Sport é o sistema de tração integral: do tipo AWD (gerenciamento eletrônico sob demanda), ele conta com acoplamento de embreagem dupla na traseira e funciona como um 4x2 normalmente, ativando o eixo traseiro quando necessário e sendo capaz de bloquear cada roda individualmente; a distribuição de torque é coordenada entre os eixos e até 70% da força pode ser concentrada apenas na traseira. Além disso, há bloqueio do diferencial traseiro e um sistema próprio de arrefecimento para o conjunto. Embora ele não conte com tração reduzida, é uma arquitetura mais sofisticada e complexa do que a utilizada na maioria dos 4x4 comercializados no Brasil.

Cabine do SUV é bonita, silenciosa e bem montada.

Rústico chique

Como dissemos anteriormente, o Bronco Sport vendido no Brasil vem em um pacote bastante recheado de itens de série e sem opcionais. A lista engloba elementos como: faróis Full LED, ar condicionado digital de duas zonas, teto solar panorâmico, carregador de smartphones por indução, seletor de modos de condução, start-stop, som premium da Bang & Olufsen, banco elétrico para o motorista, retrovisor interno fotocrômico, aquecimento para os bancos dianteiros, entre muitos outros. Há ainda um conjunto de tecnologias de condução semiautônoma como piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa, farol alto automático, frenagem autônoma de emergência e monitoramento de tráfego traseiro.

O acabamento interno mescla plástico e porções do tipo "soft touch" com bancos em couro e camurça, além do assoalho que é totalmente emborrachado para facilitar a limpeza. A mescla de cores é agradável e deixa o ambiente elegante, mas algumas coisas fazem falta diante do preço do utilitário: não há sensores dianteiros de estacionamento ou retrovisores com rebatimento elétrico, elementos presentes em carros que custam menos da metade do Bronco Sport. Embora o americano queira conquistar um público que não se preocupa muito com "firulas" (o que fica evidente ao se olhar o painel ainda com elementos principais analógicos), certos itens precisam compor o pacote de um carro de mais de 250 mil reais.

Teto solar é amplo e deixa a cabine mais iluminada e arejada, mas a abertura do vidro poderia ser maior.

Um pequeno grande carro

Uma coisa que percebemos ao analisar comentários e reações de nossos leitores diante das fotos do SUV é que o Bronco Sport não entrega seu porte até que seja visto pessoalmente. Embora não pareça, ele é um carro "parrudo" e mais alto do que a grande maioria dos veículos convencionais: com 4,38m de comprimento, 1,88m de largura, 1,81m de altura e 22cm de vão livre do solo, ele é -para efeitos de comparação- apenas 3cm mais curto, 7cm mais largo e 16cm mais alto do que um Jeep Compass. Seus ângulos de entrada, central e de saída também são maiores que os do Jeep, assim como o entre-eixos de 2,67m e o porta-malas de 488 litros - no Compass são 2,63m e até 410 litros.

Além de ser alto, o Bronco Sport parece ainda maior quando se está dentro dele. O capô é comprido e reto, ligeiramente mais alto do que a linha de cintura, o que faz com que o utilitário passe a sensação de ser bem maior do que é - ao ponto de não dar ao motorista a real noção do posicionamento do veículo. Não foram poucas as vezes em que, ao estacionarmos, a distância deixada do obstáculo à frente era grande exatamente pela falta de noção; há uma câmera dianteira que serve tanto para o off-road quanto para manobras, mas ela precisa ser acionada por um botão próximo da tela do multimídia, algo que nem todo motorista irá lembrar. Os sensores dianteiros seriam mais intuitivos e ajudariam muito na tarefa.

Com pneus de uso misto de série, Bronco Sport se sai bem em qualquer lugar.

Sem tempo ruim

A primeira coisa que chamou atenção ao volante do Bronco Sport foi o silêncio a bordo. O isolamento acústico da cabine é primoroso e o motor é altamente silencioso, sendo imperceptível aos ocupantes mesmo com as janelas abertas - só mesmo nas ultrapassagens. A condução do SUV também é muito agradável devido a leveza das manobras e a facilidade com a qual ele se movimenta; o torque máximo de 38kgfm só aparece aos 3.000rpm, mas por não haver reduzida, a Ford escalonou o câmbio de um modo que as marchas iniciais possuam uma relação mais curta, o que faz com que o veículo tenha uma boa saída e avance com rapidez surpreende para seus 1.718kg.

Ser tão diferente do Bronco convencional se mostra um ponto positivo para o Bronco Sport no uso diário. Isso porque, graças às suas dimensões e características, o SUV grande se torna indigesto e um tanto desengonçado ao se movimentar pelos centros urbanos, algo que não acontece em seu derivado de menor porte. A pegada mais urbana do Bronco Sport é proposital e fica mais evidente conforme o dirigimos, pois ele também consegue se sair muito bem no asfalto mesmo que seja acidentado: a suspensão de curso longo e acerto mais firme não dá batidas secas e o deixa muito à vontade em todos os lugares, embora não permita abusos nas curvas mais rápidas e fechadas onde o utilitário chega a "cantar" os pneus com facilidade.

G.O.A.T. Modes transforma direção do Bronco Sport.

Um dos maiores destaques do Bronco Sport é o seletor de modos de condução cujo nome foi pensado como uma brincadeira divertida da Ford. Chamado de G.O.A.T. Modes, ele faz alusão ao bode (goat em inglês) e, segundo a marca, é uma sigla para Goes Over Any type of Terrain - Vai Sobre Qualquer tipo de Terreno em bom português. Os fãs da montadora e do Bronco também consideram como Greatest Of All Times (maior de todos os tempos) mas, brincadeiras à parte, o fato é que o sistema G.O.A.T. Modes conta com nada menos que sete modos distintos para o carro. São eles: Escorregadio, Sport, ECO, Normal, Lama/Terra, Areia e Rocha.

Ele é responsável por alterar os seguintes parâmetros: peso e sensação da direção (volante), nível/forma de atuação dos controles de tração e estabilidade, resposta do acelerador e câmbio, som do motor e, por fim, funcionamento do sistema de tração integral sob demanda. Eles podem ser selecionados por um controle giratório próximo do comando do freio de estacionamento eletrônico e o motorista pode alterá-los durante a condução sem problemas; uma animação na tela do computador de bordo é mostrada e, de acordo com o modo selecionado, a temática e coloração da tela é alterada.

Normalmente limpamos os modelos para as fotos do site. Com o Bronco Sport, resolvemos deixar o carro mais sujo... e deu certo.

Bom companheiro

O Bronco Sport possui algumas sacadas que o deixam mais interessante e diferenciado diante dos rivais. Além do já citado assoalho inteiramente em revestimento emborrachado, há duas bolsas com zíper atrás dos bancos dianteiros que são úteis para acomodar pequenos objetos. Um outro compartimento fica escondido abaixo do assento da segunda fileira e pode ser acessado ao se erguer o banco direito, sendo útil para itens compridos como, por exemplo, uma vara de pescar que possa ser desmontada. O porta-malas conta com revestimento emborrachado até a parte traseira do encosto dos bancos traseiros que, quando rebatidos, criam um amplo espaço para bagagens que é fácil de limpar e cuidar.

Ainda no porta-malas há ganchos para fixação de bagagens dos dois lados, uma tomada de 110v (fora a outra tomada localizada no console central voltada para os passageiros de trás) e uma mesa dobrável que pode ser colocada em diversas posições, inclusive como divisória do porta-malas. Por fim, há dois potentes spots de LED direcionais na tampa do porta-malas e um inusitado abridor de garrafas que fica oculto próximo da lanterna direita, embaixo da tampa. A ideia do Bronco Sport é ser um bom companheiro para, por exemplo, um acampamento ou excursão em ambientes pouco habitados e baixa disponibilidade de energia elétrica.

Além de amplo, porta-malas do Bronco Sport é muito versátil e traz soluções únicas na categoria.

Topa qualquer parada

Rodamos mais de 900km com o Bronco Sport ao longo de nossa semana de testes e pegamos quase todo tipo de circunstância possível: trânsito urbano livre, congestionado, percurso rodoviário, subida de serra e até um off-road leve com andanças por areia fofa. Em todos os cenários é possível constatar a eficiência do Bronco Sport ao se movimentar graças ao bom trabalho executado pela dupla de motor e transmissão. As marchas são avançadas de forma imperceptível e o SUV ganha velocidade rápido, além de responder ao acelerador com eficiência até demais; o pedal é sensível e demanda um certo tempo até o condutor se acostumar. Tal sensibilidade só incomoda em determinados momentos onde o sistema segura uma marcha menor sem necessidade devido ao peso do pé no acelerador, exigindo que o motorista busque manter o máximo de leveza possível.

Rodando no modo Normal com ar condicionado ligado a maior parte do tempo e start-stop desligado, conseguimos 11,3km/l de média geral (percurso misto), sendo 13km/l o pico de economia e 9,5km/l o pico de consumo. Não são médias ruins se considerarmos o peso e motorização do SUV e, graças ao tanque de 64 litros, a autonomia geral também consegue ser satisfatória, mas fica aquém do que é possível ser feito com modelos movidos a diesel como o Jeep Compass. Grande parte das boas médias de consumo se deve ao trabalho eficiente do câmbio: permitindo trocas manuais pelos paddle-shifters atrás do volante, a caixa trabalha com bastante rapidez o tempo todo e chega a lembrar um sistema de dupla embreagem, deixando a condução mais prazerosa.

Bronco Sport no pôr-do-sol da região dos lagos, no RJ.

Considerações finais

É evidente que, embora tragam o mesmo nome, o Bronco e o Bronco Sport são produtos muito diferentes, mas não há motivo para lamentações. Enquanto o Bronco pode ser considerado como um "brinquedo" para os mais ousados e dificilmente se sairia bem como único carro da casa, o Bronco Sport se mostra bem mais adequado para cumprir esse papel (quando for o caso, é claro) e, consequentemente, mais interessante pelo dinheiro que se paga. Ele não é tão "trilheiro" quanto seu irmão maior, mas não decepcionará os aventureiros esporádicos, pois traz uma mecânica eficiente e sofisticada que o torna bom de guiar em todos os momentos.

O que realmente incomoda no Bronco Sport é a falta de alguns itens muito básicos para sua faixa de preço e o mau aproveitamento do espaço interno, pois os passageiros da segunda fileira ficam com as pernas apertadas caso os ocupantes da frente sejam mais altos. Apesar disso, no conjunto geral, o utilitário agradou e mostrou ter competências para atrair o interesse dos mais exigentes. Resta saber se foi uma boa aposta para o mercado brasileiro, pois a Ford mira nos modelos de marcas premium e a polêmica decisão de parar de fabricar carros no país abalou a confiança de muitos potenciais clientes.


Concorrentes diretos (na categoria SUV médio aventureiro): Jeep Compass Trailhawk

Concorrentes indiretos (entre 240 e 280 mil reais): Mercedes-Benz GLB 200 Advance, BMW X1 sDrive20i GP, Audi Q3 Prestige Plus ou Black, Toyota RAV4 SX Connect, Toyota SW4 SRV 4x2, Mitsubishi Outlander HPE-S 3.0 V6, Honda CR-V Touring, Volvo XC40 Recharge Inscription


Ficha técnica

Motor: 2.0 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina
Potência: 240cv a 5.500rpm
Torque: 38kgfm a 3.000rpm
Transmissão: automática de oito marchas com paddle-shifters
Tração: integral sob demanda AWD
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 225/65 R17
Comprimento: 4,38m
Largura: 1,88m
Entre-eixos: 2,67m
Altura: 1,81m
Peso: 1.718kg
Porta-malas: 488l
Carga útil: 441kg
Capacidade de reboque: 900kg com ou sem freio
Tanque: 64l

0 a 100km/h: 8 segundos
Velocidade máxima: 180km/h


Matéria em vídeo



Fotos (clique para ampliar):