sexta-feira, 19 de novembro de 2021

2022 Toyota Corolla Cross XRE 2.0 CVT; uma jogada de mestre

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Toyota do Brasil

A cor do nosso carro de teste se chama Vermelho Granada e custa R$1.950 à parte.

Alguns nomes de produtos são tão fortes, mas, tão fortes que seus fabricantes adotam estratégias especialmente dedicadas a eles. No caso do mercado automotivo, se tornou comum as montadoras transformarem modelos de sucesso em submarcas com famílias de produtos voltados a diferentes segmentos, visando ampliar o market share (presença em um determinado mercado/segmento) e a lucratividade.

Nosso carro de teste da vez é um ótimo exemplo disso. Embarcando no sucesso e na força do nome Corolla, a Toyota viu a chance de entrar no lucrativo segmento dos SUVs médios com o Corolla Cross, um modelo diretamente derivado do sedan consagrado, mas, com design próprio e posicionamento diferenciado. Passamos uma semana com a versão XRE, a mais cara com motor 2.0 aspirado flex e câmbio CVT.

Apesar de ser derivado do Corolla sedan, o SUV tem design próprio. Escapamento tão aparente é motivo de queixas (com razão) pela falta de capricho.

Ter Q.I. (Quem Indica) é fundamental

Embora o Corolla Cross seja um modelo inédito no portfólio da Toyota, seu nome dispensa praticamente quaisquer apresentações. Ele é quase que inteiramente oriundo do Corolla sedan da atual geração: plataforma, motores, transmissões, tecnologias... Tudo veio dele. O "quase" citado ali em cima fica por conta de algumas alterações mecânicas, estruturais e tecnológicas que o distanciam do irmão de três-volumes por questões estratégicas que falaremos mais adiante.

Ele foi lançado no Brasil em março deste ano e chegou em quatro versões: XR, XRE, XRV e XRX. As duas primeiras usam o novo motor 2.0 aspirado que estreou no atual Corolla com câmbio CVT que simula 10 marchas, enquanto as duas posteriores recebem o 1.8 híbrido flex que também está no Corolla, novamente com a mesma transmissão do sedan. Cada uma das versões foi pensada para equivaler às do sedan: a "nossa" XRE, por exemplo, equivale à XEi.

SUV é mais alto e mais largo do que o sedan, mas mais curto e com menor entre-eixos.

Quase um gêmeo... Quase

Além do design, o que muda no Corolla Cross em relação ao sedan? Vamos lá: entre-eixos, comprimento, altura, largura, capacidade do tanque de combustível, suspensão traseira, acabamento e detalhes internos, pacote tecnológico, peso, porta-malas e, é claro, preço. O entre-eixos do SUV, por exemplo, é de 2,64m contra 2,70m do sedan, enquanto o comprimento é de 4,46m no SUV contra 4,63m no sedan e a altura é de 1,62m contra 1,45m no sedan. A largura é de 1,82m no SUV contra 1,78m no sedan e o tanque de combustível do 2.0 no SUV é de 43 litros contra 50 litros no sedan; no 1.8 híbrido, o SUV comporta 36 litros enquanto o sedan leva 47 litros.

A suspensão traseira do Cross é por eixo de torção ao invés do sistema independente do sedan. Por dentro, o freio de estacionamento do utilitário é por pedal ao invés de alavanca como no sedan e há menos porções em soft touch no SUV se comparado ao sedan. O Cross traz saídas traseiras de ar com portas USB extras inexistentes no sedan, além de faróis em LED mais eficientes, porém, sem lanternas inteiramente em LEDs como no sedan (nas versões que trazem faróis Full LED). O SUV também é um pouco mais pesado e tem menos capacidade de porta-malas do que o sedan.

Motor 2.0 aspirado alia injeções direta e indireta de combustível.

Um novo velho conhecido

Debaixo do capô da versão XRE se abriga o mesmo motor 2.0 "Dynamic Force" que estreou no atual Corolla, um bloco aspirado flex de quatro cilindros que entrega até 177cv e 21,4kgfm de picos de potência e torque quando abastecido com etanol. A tração é somente dianteira e ele trabalha com a igualmente nova transmissão automática do tipo CVT denominada Direct Shift, dotada de uma primeira marcha por engrenagem para auxiliar nas saídas do SUV.

O Corolla Cross é montado sobre a mesma plataforma TNGA-C do Corolla sedan e a parte boa é que a nova carroceria não teve grande impacto no peso: comparado com o sedan na versão XEi, seu equivalente, o Corolla Cross pesa apenas 15kg a mais, totalizando 1.420kg contra 1.405kg do sedan. No mais, motor e transmissão não possuem diferenças entre os modelos e, embora traga suspensão mais simples, o SUV conta com os mesmos freios a disco nas quatro rodas presentes no sedan.

Cabine do Corolla Cross XRE é praticamente a mesma do Corolla XEi.

Calcanhar de Aquiles

Lembra que dissemos que a versão XRE é equivalente à XEi do sedan? Além da mecânica, isso se explica pela lista de equipamentos. Ela contempla: sete airbags, central multimídia com tela de 8 polegadas e espelhamento para smartphones, ar condicionado digital com saídas traseiras, chave presencial com partida por botão, sensores crepuscular e de chuva, faróis Full LED, volante multifuncional com paddle-shifters, faróis de neblina em LED, sensores traseiros de estacionamento com câmera de ré, retrovisor interno fotocrômico, entre outros.

As diferenças sobre a XEi ficam nos faróis principais em LED, nas saídas traseiras do ar condicionado com portas USB, no sensor de chuva, nos retrovisores externos com rebatimento elétrico, nas rodas aro 18 e nos sensores traseiros de estacionamento, todos itens ausentes do sedan. Apesar das outras pobrezas em relação ao sedan, os equipamentos a mais poderiam até justificar uma pequena diferença de preço diante do sedan; o problema é que o XRE custa exatos 19 mil reais a mais do que o XEi que não se pagam nos itens a mais e tornam a compra um tanto irracional.

Como se não bastasse, o Corolla Cross na versão XRE custa R$164.190, valor que o deixa perigosamente próximo de rivais diretos como o Volkswagen Taos por R$168.490 na versão Comfortline e o Jeep Compass por R$166.990 na versão Longitude T270, ambos bem mais equipados e com mecânica superior. Há rivalidade até mesmo dentro de casa devido aos R$169.690 que a Toyota pede pelo Corolla sedan na versão Altis Premium, muito mais equipado do que o Corolla Cross XRE, o que deixa o SUV sem muitos argumentos que justifiquem sua compra.

Dianteira com "cara de mau" obtida através dos faróis estreitos e grade avantajada confere imponência ao SUV japonês.

Filho de peixe, peixinho é

Sendo um derivado direto do sedan, é de se esperar que o Corolla Cross se comporte de maneira muito parecida. De fato, o SUV consegue rodar com o mesmo conforto e tranquilidade do Corolla tradicional, bem do jeito que o típico cliente Toyota gosta; a troca da suspensão traseira por uma construção mais simples não impactou o comportamento geral do carro, pelo menos no uso cotidiano. É claro que, em uma tocada mais agressiva, o SUV não tem a mesma desenvoltura devido ao centro de gravidade mais alto e a ausência do sistema independente, mas, para o dia-a-dia, não se nota diferença.

Como não existem alterações em motor e transmissão e o peso extra é muito pouco, o Corolla Cross também consegue andar com decência assim como o sedan; não tem a esperteza dos rivais turbinados, contudo, não deixa a desejar quando é exigido. Em condução normal, o CVT deixa o motor sempre entre 1.000 e 1.500rpm, garantindo uma viagem silenciosa e tranquila, além da engenhosidade da primeira marcha física que auxilia nas saídas. Um botão "PWR" (de Power) próximo do câmbio serve como um modo Sport para fazer o CVT segurar um giro mais alto, a fim de deixar o motor mais próximo de suas faixas de potência e torque máximos para auxiliar em ultrapassagens, por exemplo.

Banco do motorista traz regulagem de altura. Volante tem ajustes de altura e profundidade.

Das vantagens que o SUV traz sobre o sedan, destacamos as saídas traseiras de ar que ajudam a refrescar melhor a cabine em dias quentes, o sensor traseiro de estacionamento que auxilia consideravelmente nas manobras e os faróis Full LED que utilizam projetores melhores que os do sedan. Sobre as desvantagens, o tanque de combustível menor exige mais idas ao posto (especialmente para quem roda mais em perímetro urbano) e o entre-eixos menor já não garante o mesmo conforto encontrado no sedan para os mais altos.

Os bancos acomodam bem até os mais "cheinhos" (como este que vos fala) graças aos apoios laterais pronunciados e o encosto de cabeça na posição correta, além do apoio de braço que pode ser deslocado horizontalmente e continua utilizável mesmo com o banco na posição mais alta. A substituição da alavanca do freio de estacionamento por um terceiro pedal não chega a incomodar, mas, um carro desse preço pede um sistema eletrônico por botão - que ainda permitiria a inclusão do Auto Hold para aumentar o conforto em congestionamentos, por exemplo.

Nome CROSS se destaca no centro da tampa do porta-malas.

Considerações finais

O Corolla Cross é um carro ruim? Não. Pelo contrário: ser derivado do Corolla é ótimo, pois, o sedan está em sua melhor fase e evoluiu de forma significativa, tornando-se um produto capaz de agradar a quase todos os gostos - o que, por consequência, se estende ao SUV. O grande problema dele é custar muito mais do que o sedan sem oferecer características suficientes para justificar o preço mais alto. Se fosse nivelado ao mesmo preço ou se tivesse um pacote tecnológico bem mais recheado, a conversa seria outra.

Apesar disso, não há como negar que a jogada da Toyota foi genial, digna de mestre. Mesmo diante dos contras abordados aqui, o novato já é o segundo carro mais vendido de seu segmento, superando com folga o Volkswagen Taos e de olho em tirar o Jeep Compass da liderança; chegou, inclusive, a vender mais que o Corolla em alguns meses. Como diz o velho ditado: "contra fatos não há argumentos" e o fato é que o Corolla Cross já é um sucesso, trazendo a força de um nome que se consolidou no país e reunindo todas as qualidades que consagraram o irmão mais velho.


Concorrentes diretos (pela categoria SUV médio): Jeep Compass Longitude T270, Volkswagen Taos Comfortline, Mitsubishi Eclipse Cross GLS, Kia Sportage P.252, Suzuki S-Cross 4Style-S ALLGRIP

Concorrentes indiretos (pelo preço entre 155 e 175 mil reais): Honda HR-V Touring, Mitsubishi Outlander Sport HPE 2WD ou AWD, Suzuki Jimny Sierra 4Style ALLGRIP automático, Vitara 4Sport ou 4Style


Ficha técnica

Motor: 2.0, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 177cv (E) / 169cv (G) a 6.600rpm
Torque: 21,4kgfm (E/G) a 4.400rpm
Transmissão: automática CVT com dez marchas simuladas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 225/50 R18
Comprimento: 4,46m
Largura: 1,82m
Entre-eixos: 2,64m
Altura: 1,62m
Peso: 1.420kg
Porta-malas: 440l
Tanque: 43l

0 a 100km/h: 9,8 segundos
Velocidade máxima: 195km/h



Fotos (clique para ampliar):