quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

2022 Volvo XC40 Recharge Pure Electric EV; exercitando o sexto sentido

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volvo Car Corporation

Modelo chama ainda mais a atenção na belíssima cor Fusion Red, disponível sem custo adicional.

A indústria automotiva se uniu em um esforço coletivo, de proporções globais, em prol da redução de emissões dos variados poluentes produzidos pelos automóveis. Muitas são as ideias e soluções apresentadas para se atingir esse objetivo, sendo que a principal delas trata da eletrificação dos veículos. Polêmicas e divergências à parte, são fortes as apostas na ideia de que o carro do futuro será elétrico, conectado, inteligente e amigo do meio ambiente.

Se as projeções apontam para isso, é claro que os fabricantes de automóveis passarão a direcionar seus esforços a essa causa. A proliferação de carros com diferentes níveis de eletrificação já começou e nosso teste da vez é o segundo do Volta Rápida com um modelo totalmente elétrico. Conheça o Volvo XC40 Recharge Pure Electric, o "embaixador" da nova fase eletrificada da montadora em todo o mundo.

O nome "Recharge" agora acompanha todos os modelos da marca, indicando sua eletrificação.

Mais do que um nome. Um ideal

A Volvo quer abolir carros com motores a combustão até 2030, incluindo até mesmo os híbridos. O objetivo é ter somente modelos com propulsão 100% elétrica e a nova versão do pequeno XC40, importada da Bélgica assim como as híbridas, chega como o primeiro modelo de produção da marca no mundo a atender essa proposta. Junto dele, a montadora inaugurou a era "Recharge" indicando que todos os seus carros terão algum tipo de eletrificação, seja parcial (como nos híbridos) ou total como no novo membro da família XC.

Não é à toa que o XC40 totalmente elétrico é tratado quase que como um carro à parte, separado das demais versões do modelo que usam motorização híbrida - algo que pode ser observado no site da marca, na guia "Nossos carros". Pelo preço de R$389.950, ele custa, na média do comparativo, 100.000 reais a mais do que o XC40 híbrido em suas versões Inscription e R-Design. Ele é apenas o primeiro da espécie: a divisão brasileira da marca já confirmou que comercializará o inédito C40, também 100% elétrico, a partir do primeiro trimestre do ano que vem.

Visual do XC40 elétrico é baseado na versão R-Design do modelo híbrido. O teto vem sempre em preto brilhante.

Relâmpago nórdico

O novo XC40 Recharge Pure Electric é movido por uma motorização inédita para os Volvo: o conjunto elétrico identificado pela marca como P8. Ele é composto por dois motores elétricos gêmeos (daí a plaqueta "twin" no porta-malas), sendo um para cada eixo, totalizando robustos 408cv e 67,3kgfm de potência e torque máximos, distribuídos o tempo inteiro entre as quatro rodas, dosados unicamente pela intensidade da pisada no pedal do acelerador. São números dignos dos modelos esportivos assinados pela Polestar e que conferem um desempenho brutal ao pequeno SUV de luxo.

Sendo um conjunto inteiramente elétrico, toda a cavalaria e o torque são entregues ao máximo de maneira instantânea ao se afundar o pé no acelerador, o que garante um coice que empurra os passageiros contra os assentos e leva o sueco de 0 a 100km/h em 4,9 segundos, tempo suficiente para fazer dele o segundo Volvo mais rápido do Brasil, superando o XC60 Polestar Engineered e ficando atrás apenas do S60 na mesma versão. A velocidade máxima, entretanto, é limitada em 180km/h seguindo a nova política global da montadora para todos os seus carros.

Interior traz materiais reciclados e acabamento de primeira linha.

Mordomo sobre rodas

Embora os XC40 híbridos já sejam muito bem equipados, a Volvo recheou mais um pouco a lista de itens de série do XC40 elétrico para ajudar a justificar a enorme diferença de preço diante dos irmãos mais baratos. Sem opcionais, o modelo traz alguns destaques como: faróis Full LED direcionais e adaptativos, som da Harman Kardon com 13 alto-falantes, teto solar panorâmico, iluminação ambiente em LEDs, todos os retrovisores fotocrômicos, bancos dianteiros com ajustes elétricos e memória para o do motorista, ar condicionado de duas zonas com saídas traseiras, porta-malas com acionamento totalmente elétrico, entre muitos outros.

Há o conhecido pacote de tecnologias semiautônomas que conta com piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa com correção de direção, farol alto automático, frenagem autônoma de emergência, detector de tráfego cruzado frontal e traseiro e, como exclusividade do XC40 elétrico, sistema de câmeras em 360º com simulação de vista aérea, comandos de iluminação interna e teto solar sensíveis ao toque e uma nova central multimídia com sistema Android e integração completa com serviços como Google Maps e Google Assistant, ambos nativos do equipamento que ainda conta com conexão permanente à internet.

Painel de instrumentos é feito por uma tela de 12,3 polegadas e altíssima definição.

Cápsula do tempo

O primeiro contato visual com o XC40 elétrico já provoca algumas interrogações internas nos curiosos como, por exemplo, o motivo de não haver uma grade dianteira como nos carros comuns e no próprio XC40 com motor a combustão. A explicação é simples: como não há um motor convencional ali, não há necessidade de haver uma abertura frontal para arrefecimento. Ao fechar a grade dianteira, a Volvo baixou o coeficiente aerodinâmico do SUV e, com isso, melhorou a autonomia total que é estimada em 418km com a bateria de 78kWh estando completamente carregada. Uma solução criativa para substituir o que seria o motor debaixo do capô é o pequeno compartimento de 31 litros que comporta pequenas bagagens, muito útil como extensor do porta-malas padrão.

Além de silenciosa, a partida do sueco é inteligente e diferente de tudo que já vimos: basta estar com a chave dentro do veículo, pisar no pedal do freio e mover a alavanca do câmbio para R ou D que o carro estará ligado e pronto para o uso, mostrando o ícone READY em verde no painel de instrumentos. Ao fazer isso, o freio de estacionamento (que é totalmente automático) se desativa sozinho. Para desligar o carro basta pisar no freio, apertar o botão de P próximo do joystick do câmbio e abrir a porta. Não há botão de partida, lugar para inserir chave, alavanca ou botão de freio de estacionamento... absolutamente nada. São as ações do motorista e a inteligência do carro que ditam seu comportamento, algo digno das obras de ficção científica.

Joystick do câmbio é totalmente eletrônico. Console central traz porta-copos, porta-moedas, apoio de braço, carregador de smartphones por indução, entre outros.

A inteligência do XC40 elétrico se manifesta de outras formas igualmente interessantes. O ar condicionado, por exemplo, tem cinco níveis de ventilação que se ajustam de acordo com as temperaturas programadas: se está desde o LOW (mínimo) até os 19 graus, a ventilação é mais intensa mesmo na velocidade 1, enquanto que dos 20 graus para cima, ela fica mais suave mesmo nas mais altas, entendendo que os passageiros já não estão mais com tanto calor. Falando em climatização, caso o ambiente esteja mais quente, a cortina do teto solar se fecha sozinha e, ao destravar do carro na chave, o ar condicionado se liga automaticamente para climatizar a cabine.

Outro recurso exclusivo do modelo elétrico é o chamado One Pedal Drive, uma inovação que, quando ativada, permite que o carro seja conduzido unicamente através do pedal do acelerador que também passa a atuar como freio. Parece coisa de outro mundo, mas é simples de entender: quando pressionado, o acelerador faz o carro se movimentar - quando aliviado, o veículo é freado gradativamente na mesma medida em que o peso é retirado do pedal. Se for totalmente solto, o sistema entende que o motorista deseja parar por completo e assim o faz, mantendo o carro parado sem a necessidade de se pisar no freio - da mesma forma que um Auto Hold. É um modo que aumenta consideravelmente a regeneração de energia através das frenagens e demanda certo tempo até se acostumar, mas é interessante de ver na prática e redefine o conceito de direção que sempre tivemos.

Rodas de 20 polegadas trazem acabamento com face diamantada e corpo em preto brilhante.

Boas intenções atraem coisas boas

O objetivo da Volvo com o XC40 Pure Electric é ajudar o meio ambiente, contudo, o potencial da união dos dois motores do conjunto elétrico fazem dele, não-intencionalmente, a versão de alta performance que o SUV compacto nunca teve oficialmente. As grandes rodas de 20 polegadas são calçadas em pneus Pirelli P Zero de fábrica, alguns dos melhores do mercado, de medidas distintas por eixo: 235/45 na dianteira e 255/40 na traseira. Os P Zero são voltados a carros esportivos e, somados à tração integral permanente, conferem uma estabilidade excepcional ao sueco de luxo a todo tempo.

O que também contribui com a alta estabilidade é o pesado banco de bateria localizado no assoalho, totalizando 500kg - sim, o XC40 elétrico é bem mais pesado do que seus irmãos com motores a gasolina ou híbridos, entretanto, consegue andar muito mais do que todos eles e com mais firmeza. Nessa posição, a bateria reduz o centro de gravidade atuando como lastro do carro, ajudando a diminuir bastante a rolagem da carroceria nas curvas, mas nada na vida é perfeito: com tanto peso extra e tanto desempenho disponível, a suspensão precisou ficar mais dura para não deixar o XC40 "bobo" quando exigido. Ele não tem a mesma suavidade dos irmãos mais fracos ao passar pelos defeitos da pista, porém, ainda se sai surpreendentemente bem para um veículo com rodas tão grandes, sem dar batidas secas.

Bancos dianteiros contam com o raríssimo extensor de assento, muito útil para os mais altos.

Além do completo silêncio, o mais interessante ao se guiar um carro elétrico é a forma como potência e torque são entregues às rodas. Como não existe motor a combustão que precisa girar até certa faixa para extrair todo seu potencial, seus picos de potência e torque estão disponíveis em praticamente todo o tempo, da imobilidade até atingir velocidades mais altas. O XC40 Pure Electric avança com extrema eficiência e é muito agradável de se conduzir mesmo nos lotados centros urbanos, o que também se deve ao porte reduzido diante dos irmãos que o faz mais manobrável do que eles.

Na estrada, a experiência é ainda melhor. Além de não haver um motor convencional, não há uma caixa de marchas que precisa ser avançada ou reduzida para se explorar a elasticidade do conjunto mecânico. Ultrapassagens e retomadas acontecem com a rapidez de um raio, deixando a condução mais segura e agradável. A autonomia total da bateria de até 418km pode ser ligeiramente estendida através da frenagem regenerativa e permite até viagens curtas, todavia, é imprescindível se lembrar da rede de pontos de recarga que ainda é muito limitada fora dos grandes centros urbanos.

Carregador doméstico conta com tomada industrial de três pinos, sendo o outro conector (que vai no carro) do Tipo 2.

Perguntas que não querem calar

É possível recarregá-lo em casa, na tomada comum?

Em casa, sim. Na tomada comum, não. O carregador doméstico fornecido pela Volvo traz uma tomada industrial que exige adaptação: ou a instalação de uma tomada fêmea do mesmo tipo ou um adaptador que converta o plug industrial para o plug doméstico de três pinos. A ligação precisa, obrigatoriamente, ser aterrada e de 220 volts e 20 ampéres para funcionar.

Quanto tempo leva a recarga?

Depende da potência do carregador. Na tomada doméstica exemplificada logo acima, a recarga é bem lenta e uma carga completa (de 0 a 100%) pode, facilmente, levar mais de um dia. Em carregadores mais potentes, a recarga é mais rápida mas na melhor das hipóteses, dificilmente levará menos de 30 minutos. O tempo de recarga também depende de fatores climáticos e, é claro, do quanto que o proprietário deseja recarregar até poder sair.

Quanto tempo dura a bateria?

Não se mede a autonomia da bateria pelo tempo, mas sim pela quilometragem. Isso porque a maior demanda de energia vem dos motores na hora de movimentar o carro; acessórios como faróis, rádio e ar condicionado também puxam energia, porém, o motor é o que mais exige. Com o carro parado, o tempo de duração de uma bateria carregada é extremamente longo.

Andar rápido aumenta o consumo de energia?

Sim. Nisso, os carros elétricos são iguais aos de combustão: quanto mais você acelera, mais ele consome. Embora haja desempenho de sobra, o interessante do carro elétrico é manter o pé leve para garantir uma viagem tranquila e com autonomia mais do que suficiente.

Carro elétrico pode dar choque? Posso pegar chuva ou passar em alagamentos?

Respondendo a primeira: não. Nada no carro elétrico que possa ser tocado e acessado pelos passageiros dá nenhum tipo de choque. Respondendo a segunda: sim. É evidente que nenhum carro foi feito para ser totalmente submergido, mas o XC40 elétrico pode ser dirigido normalmente na chuva, além de transpor regiões alagadas até certa altura com tranquilidade.

XC40 Pure Electric apreciando o pôr-do-sol em uma das praias de Saquarema, no RJ.

Considerações finais

O XC40 Pure Electric é uma amostra do que a Volvo ambiciona para seus carros futuros. O modelo entrega desempenho digno de carros esportivos, autonomia acima da média dos demais elétricos e um pacote tecnológico que o deixou ainda mais recheado e inteligente. O grande porém da coisa toda ainda é a rede limitadíssima de pontos de recarga, especialmente fora dos grandes centros urbanos, o que exige um planejamento especial antes mesmo da compra do modelo. Nossa dica é: se você usa muito o carro e precisa viajar com frequência, os modelos híbridos ainda são mais indicados - o XC40 R-Design Hybrid que avaliamos há alguns meses é um bom exemplo disso.

Se não pretende sair da cidade e sabe que terá facilidade de acesso a pontos de recarga, então, já pode pensar com mais tranquilidade no SUV elétrico. Vale lembrar que seu preço o aproxima do XC60, seu irmão maior, na versão de entrada Inscription que é apenas 10 mil reais mais cara e traz o conjunto híbrido identificado pelo código T8, o que o enquadra no caso de ser mais indicado para quem usa muito o carro. Encare o XC40 Pure Electric como uma versão bastante divertida do menor SUV da marca, capaz de oferecer uma experiência digna dos irmãos bem mais caros em uma embalagem mais compacta e estilosa, além da inteligência embarcada que nos passa a sensação de haver um sexto sentido capaz de aguçar e interagir com todos os outros.


O modelo avaliado não possui concorrentes diretos na categoria SUV compacto premium elétrico.

Concorrentes indiretos (entre 370 e 420 mil reais): BMW X3 xDrive 30e, Audi Q5 S line Black, Land Rover Evoque SE, R-Dynamic SE ou R-Dynamic HSE, Jaguar E-Pace R-Dynamic S


Ficha técnica

Motor: dois motores elétricos (um para cada eixo)
Potência máxima: 408cv
Torque máximo: 67,3kgfm
Bateria: 78kW
Autonomia: 418km (ciclo WLTP)
Tração: integral
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 235/45 R20 na dianteira, 255/40 R20 na traseira
Comprimento: 4,42m
Largura: 1,86m
Entre-eixos: 2,70m
Altura: 1,65m
Peso: 2.184kg
Porta-malas: 414l

0 a 100km/h: 4,9 segundos
Velocidade máxima: 180km/h (limitada eletronicamente)


Matéria em vídeo



Fotos (clique para ampliar):