sábado, 5 de fevereiro de 2022

2021 Nissan Versa Sense 1.6 MT5; redefinindo o carro de nicho

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Nissan do Brasil

Nossa unidade de teste veio na cor Branco Diamond, perolizada, por R$1.600 à parte.

Talvez você não tenha percebido, mas o câmbio manual está, aos poucos, sumindo do mercado. O que antes era normal nos carros brasileiros, agora se restringe às versões mais baratas de alguns poucos modelos oferecidos no país e o câmbio automático, antes um "artigo de luxo", se tornou preferência nacional, especialmente devido ao crescente caos urbano que sacrifica cada vez mais os motoristas. É claro que parte da culpa deve ser atribuída aos constantes aumentos nos preços, o que obriga os fabricantes a rechearem mais os seus carros para que fiquem condizentes com as quantias pedidas - embora isso nem sempre aconteça.

E essa não é a única transição que vem acontecendo no mercado automotivo nacional: de igual modo, os motores aspirados vêm perdendo espaço em favor dos turbinados, mais fortes e eficientes. Acontece que nem todo mundo faz questão das "tranqueiras" mais modernas do momento e o nosso teste da vez é um produto pensado para esse público: é o novo Nissan Versa na configuração Sense, a mais barata da linha equipada com câmbio manual, que custa hoje R$93.890 e é movida pelo conhecido motor 1.6, contrariando as expectativas de que a Nissan fosse adotar blocos sobrealimentados.

Design do novo Versa traz muitas semelhanças com o novo Sentra, indisponível no Brasil.

O que mudou?

Bastante coisa, mas não tudo. O visual é oriundo da nova geração do March, nunca oferecida no Brasil, e deixou o Versa com ares de novo Sentra - que também não chegou para nós. De um modo geral, o conjunto ficou muito bem acertado e é difícil encontrar quem não dê uma olhada ou não faça elogios, principalmente se comparado a seu antecessor que estava longe de ser uma unanimidade em design. Já a cabine renovada não traz a mesma originalidade no visual: isso porque é, basicamente, a mesma do Kicks. Painel de instrumentos, comandos diversos... tudo veio do SUV compacto.

Já na parte mecânica, nada mudou significativamente. O novo Versa manteve a plataforma V compartilhada com sua antiga geração, o March e o Kicks, bem como o motor 1.6 naturalmente aspirado de quatro cilindros e as transmissões. Era esperado que a marca adotasse o bloco 1.0 turbo utilizado no modelo estrangeiro, mas não foi o que aconteceu. Se foi uma decisão acertada ou não, é o que vamos responder nos parágrafos seguintes.

Motor 1.6 é a única opção do novo Versa.

Avesso às "modinhas"

Debaixo do capô do Versa não há novidades. O motor é o mesmo 1.6 flex de até 114cv e 15,5kgfm de sempre, capaz de levar o sedan de 0 a 100km/h em cerca de 11 segundos e atingir velocidade máxima de 183km/h. No comando dele temos uma transmissão manual de cinco velocidades e, no mais, o pacote tradicional de sedans compactos em versão de entrada: suspensão por eixo de torção na traseira e freios a disco somente nas rodas dianteiras. A versão Sense também pode ser comprada com a transmissão automática do tipo CVT que, novamente, é a mesma do modelo anterior.

Os números do 1.6 aspirado não são os piores do mercado, mas ficam atrás dos pequenos turbinados dos principais concorrentes, especialmente pelo fato do torque só se manifestar integralmente a altos 4.000 giros. Entretanto, pesando 1.074kg nessa configuração, o Versa consegue entregar desempenho satisfatório e, como ponto alto, bebe pouquíssimo: nosso pico de economia foi de 20,7km/l, sendo que o pico de consumo foi de 11,5kml e a média geral foi de 16,3km/l.

Cabine renovada traz muito do Kicks.

Valorizando o que tem valor

Sem opcionais, o Versa Sense traz a seguinte lista de itens de série: seis airbags, controles de tração e estabilidade, volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade, chave presencial com partida por botão, rádio com conexão Bluetooth, trio elétrico (vidros, travas e retrovisores), bancos em tecido, sensores traseiros de estacionamento, rodas aro 15 de ferro com calotas, banco do motorista com ajuste de altura, ar condicionado, faróis com ajuste elétrico de altura, duas portas USB dedicadas aos passageiros traseiros, entre outros.

O legal é que, apesar de ser uma versão de entrada, a Nissan manteve certos "mimos" que não costumam compor o pacote de carros assim, mas precisamos lembrar que se trata de um produto de quase 100 mil reais, o que já deveria englobar itens como uma central multimídia, rodas de liga leve, luzes diurnas e faróis de neblina, no mínimo. Pelo menos os itens de segurança estão ali, apesar de não haver nenhum componente do chamado Safety Shield - exclusivo da versão top.

Bancos de tecido são bonitos e confortáveis.

Jeito pacato

Rodamos 500km com o Versa e, além da economia, nos chamaram atenção a ergonomia e a dirigibilidade do sedan compacto. Tirando o pedal da embreagem que devia ser mais macio, o japonês é bastante agradável de ser guiado: a alavanca da transmissão é firme, de curso curto e com engates diretos como todas deveriam ser, além do bom escalonamento das marchas que deixa a condução eficiente. Claro que um motor turbinado não faria mal, mas o 1.6 não faz feio quando necessário, embora seja importante lembrar que é um motor aspirado, o que exige que reduções sejam feitas em ocasiões que pedem força.

É fácil encontrar uma boa posição de dirigir e há espaço adequado para todos; com 2,62m, o Versa é dono de um dos maiores entre-eixos da categoria, ficando atrás apenas do Volkswagen Virtus (2,65m) e do Renault Logan (2,63m) mas superando o Chevrolet Onix Plus e Honda City (2,60m), Hyundai HB20S (2,53m) e Fiat Cronos (2,52m), por exemplo. A ambientação da cabine é surpreendentemente bonita para uma versão de entrada, quebrando o preto do painel e bancos com detalhes na cor creme e apliques imitando fibra de carbono nos puxadores das portas; pena que a iluminação avermelhada dos comandos destoa do branco do painel de instrumentos.

Calotas até são bonitas, mas por 93 mil reais, deveriam ser rodas.

Um ponto que merecia atenção é a suspensão traseira: com o carro cheio, ela abaixa a ponto de fazê-lo raspar em quebra-molas, o que não acontece tendo apenas os ocupantes da frente. É o único ponto fraco de um conjunto que se mostrou eficiente na absorção de impactos, sem dar batidas secas e fim de curso em momento algum, o que também se deve aos pneus de perfil 65, mais adequados para o nosso asfalto lunar.

De um modo geral, o novo Versa ficou bastante interessante e tem potencial para agradar mesmo em sua versão mais barata. O que realmente incomoda são alguns detalhes que faltaram em um modelo desse valor como, por exemplo, a inexplicável falta de luzes diurnas e de um sistema de infotenimento mais condizente com os tempos atuais - e o preço do produto.

Medidas do novo Versa são muito parecidas com as do modelo antigo.

Considerações finais

Já pensou que chato seria se todas as fabricantes fizessem todos os produtos com as mesmíssimas características? Como a gente gosta de lembrar, existe todo tipo de consumidor e, portanto, é necessário que exista todo tipo de carro e o novo Versa, apesar de ser novo, é uma boa opção aos que ainda não desejam colocar um carro turbinado na garagem. O motor 1.6 dá conta do recado e, além disso, ele manteve os principais atributos que fizeram sua fama como a economia de combustível e o espaço interno favorável para todos os ocupantes.

Apesar disso, uma coisa é fato: a opção pelo câmbio manual só faz sentido se você fizer muita questão de passar as marchas e/ou usa pouco o carro, pois o câmbio automático é mais vantajoso em qualquer outro cenário. Além de manter o ótimo nível de consumo de combustível, o CVT da Nissan conta com um acerto acima da média, o que não prejudica o desempenho do veículo e oferece mais conforto para o pesado uso diário. Se não precisa tanto de espaço interno, talvez algum dos concorrentes seja a compra mais indicada para você. São eles:

Concorrentes diretos (pela categoria sedan compacto "premium"): Chevrolet Onix Plus LT 1.0 turbo, AT 1.0 turbo ou LTZ 1.0 turbo, Volkswagen Virtus MSI manual, Hyundai HB20S Platinum 1.0 turbo, Fiat Cronos Drive 1.3 manual

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos.


Ficha técnica

Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 114cv (E) / 111cv (G) a 5.600rpm
Torque: 15,5kgfm (E ou G) a 4.000rpm
Transmissão: manual de cinco marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 195/65 R15
Comprimento: 4,49m
Largura: 1,74m
Entre-eixos: 2,62m
Altura: 1,45m
Peso: 1.074kg
Porta-malas: 466l
Tanque: 41l
0 a 100km/h: 11 segundos
Velocidade máxima: 183km/h


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