terça-feira, 20 de setembro de 2022

2022 Honda City Touring 1.5 CVT; quem não tem cão...

Depois de um breve hiato, a Honda retorna ao Volta Rápida com a nova geração do City. Passamos uma semana com a versão top de linha do sedan para atestar suas qualidades.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Honda Automóveis do Brasil

Nosso exemplar veio na cor Azul Cósmico, disponível sem custo algum.

A Honda do Brasil tem dado o que falar com suas últimas novidades apresentadas e algumas que ainda chegarão, mas, que já foram confirmadas - falamos sobre elas aqui. A primeira delas foi a nova geração do City que estreou no país há quase um ano, em Novembro de 2021, e que veio causando polêmica por ter "enterrado" o finado Fit com uma inédita (por aqui) carroceria hatch, além da tradicional sedan. É a sétima geração na história global do modelo e a terceira no mercado brasileiro.

Para nossa avaliação padrão de uma semana, a montadora cedeu um exemplar da carroceria sedan na inédita versão Touring, a mais cara da gama. Tabelada atualmente em R$132.200, traz recursos exclusivos dela e alguns que já eram muito aguardados no City, além de itens que não existiam nem mesmo no Civic que também sofrerá uma drástica mudança em breve, tornando-se um modelo de nicho com motorização híbrida.

Na internet, alguns veem uma ligeira semelhança entre as lanternas do City e do atual BMW Série 3.

O que mudou?

Quase tudo. Visualmente, o novo City brasileiro é o mesmíssimo carro apresentado na Tailândia em 2019, exceto pelo acabamento das rodas que mescla diamantado com preto brilhante no carro brasileiro. A carroceria cresceu em largura e comprimento, deixando o City 2cm mais comprido e apenas 1cm mais estreito do que um Civic de nona geração, por exemplo, além de 9,4cm mais comprido e 5cm mais largo do que o antigo City; o entre-eixos, porém, permaneceu nos 2,60m e o porta-malas reduziu de 536 para 519 litros.

A plataforma continua sendo a GSC, entretanto, ela recebeu atualizações para abrigar as novas tecnologias e demais alterações que o japonês recebeu. Antes do lançamento, eram fortes os rumores de que o City adotaria um suposto motor 1.0 turbo inédito para se nivelar aos rivais, porém, não foi o que aconteceu: ele segue oferecendo um 1.5 aspirado como única opção, mas, com novidades que melhoraram os números de desempenho e economia. Não há mais oferta de transmissão manual em nenhuma versão.

Motor 1.5 aspirado é totalmente novo, de acordo com a Honda, mas é uma boa atualização do antigo.

Mais com o mesmo

Contrariando expectativas, o City não ganhou motor turbo em nenhuma versão. Manteve o bloco 1.5 aspirado da família L15, todavia, introduziu novidades como tuchos hidráulicos e injeção direta de combustível para gerar até 126cv e 15,8kgfm. São 10cv e 0,5kgfm a mais em relação ao 1.5 do antigo City e o mesmo nível de potência com qualquer combustível, porém, o torque máximo continua aparecendo apenas em rotações muito altas, o que deixa o japonês em desvantagem perante os rivais sobrealimentados, principalmente na condução urbana.

Para tentar compensar, a transmissão automática CVT ganhou uma nova calibragem que melhorou ainda mais o comportamento em todas as situações, o que ameniza a sensação de falta de força em rotações mais baixas e, de quebra, faz o sedan consumir bem pouco; ainda há o recurso das sete marchas simuladas que podem ser acionandas através dos paddle-shifters no volante, além  da posição S na alavanca de câmbio. Nossa média geral com gasolina e em percurso misto foi de exatos 16km/l.

Interior mudou totalmente em relação ao modelo antigo.

Uma nova fase

Ocupando o topo da gama, a versão Touring é a mais recheada e trouxe itens muito aguardados no City. Não há opcionais, o que significa que todos os recursos citados aqui são de série. A lista contempla: seis airbags, ar condicionado digital, rodas aro 16 com acabamento diamantado, chave presencial com partida por botão, câmera de ré e sensores traseiros de estacionamento, central multimídia com espelhamento sem fio para smartphones, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, retrovisor interno fotocrômico, retrovisores com ajustes e rebatimento elétrico, entre outros.

Das boas novidades da nova geração, destacamos os controles de tração e estabilidade que finalmente deram as caras, além das saídas traseiras de ar condicionado e o sistema LaneWatch com câmera de ponto cego no retrovisor direito. O painel de instrumentos também ganhou uma tela de 7 polegadas na porção esquerda que exibe diversas informações do carro misturadas com o conta-giros. Por fim, os itens exclusivos da Touring são os faróis Full LED, faróis de neblina por projetores de LED, sensores dianteiros de estacionamento e o acabamento interno com elementos em couro claro.

O City Touring também estreou o pacote Sensing de recursos semiautônomos de segurança para os carros mais baratos da marca. Ele inclui piloto automático adaptativo, farol alto automático, assistente de frenagem autônoma de emergência e assistente de permanência em faixa com correção ativa de direção. Com tudo isso, o japonês se posiciona como o mais caro da categoria atualmente, contudo, também é um dos mais equipados de todos.

Bancos claros são raridade no segmento, mas dependem da cor externa.

O novo velho carro

Rodamos 500km ao longo da semana com o novo City e a primeira coisa que podemos dizer é que, apesar das novidades, a sensação ao volante é a mesmíssima do modelo anterior. Se isso é bom ou ruim, vai depender de duas coisas: de quem está dirigindo e da expectativa da pessoa. Normalmente, quando um carro muda de geração, é esperada uma evolução na maioria dos seus aspectos e, desse ponto de vista, o novo City decepciona quando é dirigido. Por outro lado, quem era fã do japonês pela condução pacata e econômica, se sentirá em casa, principalmente porque esses dois pontos foram reforçados.

O motor 1.5 confere uma direção bastante comedida, sem emoções, pois, o CVT costuma mantê-lo abaixo dos 1.500rpm na condução normal; tem vezes em que mal dá para ouvi-lo. A coisa muda de figura quando é preciso mais força para, por exemplo, realizar uma ultrapassagem ou encarar um aclive mais acentuado; o câmbio age rápido para elevar as rotações, a fim de deixar o motor mais próximo de sua faixa máxima de entrega de força. É nessas horas que o City consegue ser mais esperto e fazer o que precisa, entretanto, a paz da viagem é comprometida pelo ruído do quatro-cilindros que invade a cabine sem cerimônia.

Em comprimento, o City já é maior do que os Civic mais antigos.

Embora o City tenha crescido, o entre-eixos permaneceu o mesmo, mas, a Honda realizou mudanças nos bancos para melhorar o espaço interno. O sistema Magic Seat de assentos modulares está presente apenas no hatch, entretanto, o sedan conseguiu melhorar as acomodações para todos mesmo sem mexer nas medidas internas, especialmente para as pernas. Apesar da redução no porta-malas, o compartimento continua com bons 519 litros e promete atender a todas as necessidades.

A marca também mexeu na suspensão para deixar o City mais confortável, contudo, observamos uma velha e incômoda característica que se manteve no modelo novo: com o carro cheio, a traseira abaixa com facilidade e o faz raspar em quebra-molas, algo que não acontece quando há apenas os ocupantes dianteiros. Por fim, os bancos deixam as pernas ligeiramente mais flexionadas por conta do ângulo levemente mais pronunciado dos novos assentos.

Faróis em LED são parecidos com os do antigo Civic.

Avaliação geral

Design: o City ganhou ares de Civic e Accord, principalmente na dianteira. Manteve o perfil bem definido de sedan com os três volumes devidamente marcados e, de maneira geral, passa uma sensação maior de refinamento em relação ao antigo. É uma pena que ele traga aquela típica característica de carros asiáticos emergentes onde as rodas, por maiores que sejam, parecem pequenas demais no conjunto da obra - mesmo problema do Toyota Yaris, por exemplo, causado pelos para-lamas com excesso de volume. Nota: 8

Interior: a cabine mudou completamente em relação ao modelo anterior - para melhor. Também traz suas semelhanças com alguns irmãos mais caros, mas, possui personalidade própria e ainda conta com o diferencial do acabamento em dois tons. Continua trazendo bastante plástico por todos os lugares, porém, não há como fugir disso na categoria; todos os outros também são assim. Os comandos passam uma boa sensação de qualidade e a ambientação ficou digna de sedan médio. Nota: 10

Mecânica: a permanência do 1.5 aspirado pode ter frustrado a quem esperava um bloco turbinado, mas, a Honda tratou de atualizá-lo para que reduzisse a discrepância para os rivais. O câmbio CVT, que já era bom, melhorou. Os freios traseiros continuam a tambor, bem como a suspensão traseira por eixo de torção. Resumindo, o novo City continua na média do segmento, sem surpresas. Nota: 7

Tecnologia: aparentemente, esse foi o grande foco da Honda. Todas as versões já são bem equipadas e a Touring vai além com assistências semiautônomas de segurança, bem como "mimos" extras - sensores dianteiros e faróis em LED, por exemplo. Com isso, o City se tornou o sedan compacto mais equipado da categoria. Nota: 10

Conveniência: há chave presencial com partida remota e abertura/fechamento remoto das janelas, duas portas USB para os ocupantes da frente, quebra-sóis com espelho (sem iluminação), luzes de cortesia na dianteira e no meio da cabine, além de tomadas de 12v na frente e atrás. Uma tomada USB para os ocupantes de trás seria mais útil do que a tomada 12 volts, mas, não dá para dizer que está ruim nesse aspecto. Nota: 9

Acomodações: a Honda inclinou os assentos levemente para cima nas extremidades, o que deixou as pernas mais flexionadas e mais confortáveis, principalmente para os mais altos. Os bancos são confortáveis e os encostos de cabeça são usáveis sem que seja necessário deitar o corpo para trás - como acontece em alguns modelos da Renault, por exemplo. Mesmo sem mexer nas dimensões da cabine, a Honda promoveu alterações inteligentes que deixaram o City melhor de andar para todos. Os altos é que precisam ter atenção caso andem no banco de trás, pois, podem raspar a cabeça no teto. Nota: 8

Funcionalidades: tudo no novo City funcionou o tempo inteiro, sem travamentos ou bugs de qualquer espécie. Nota: 10

Desempenho: o incremento na potência máxima foi bom, mas, os 15,8kgfm só aparecem em altos 4.600rpm, o que prejudica a desenvoltura do japonês em rotações e velocidades mais baixas. O excelente funcionamento do CVT consegue amenizar um pouco a situação, porém, o City ainda fica devendo esperteza na hora do "vamos ver", especialmente se estiver cheio. Já a suspensão até se sai bem em piso adequado, todavia, começa a reclamar mais do que o desejado quando o asfalto piora. Um carro de mais de 130 mil reais deveria ser melhor nisso. Nota: 6

Segurança: o novo City ainda não passou pelo crash test do Latin NCAP, mas, foi avaliado pelo Asean NCAP e saiu com nota máxima. Acontece que os critérios do Asean NCAP são ligeiramente inferiores aos do Latin, então, ele servirá apenas como uma referência de potencial. Recursos de segurança existem de sobra e, se fosse apenas por isso, o City já teria garantido nota máxima por atender ao protocolo, porém, ainda precisamos averiguar a qualidade estrutural do conjunto. Daremos um voto de confiança pela boa avaliação pregressa e a fartura de recursos. Nota: 7

Custo X Benefício: agora que o Civic se tornará carro de nicho, a Honda teve mais liberdade para reposicionar o City no mercado brasileiro. Sendo o mais caro da categoria, o japonês agrada na lista de equipamentos e nas acomodações internas, mas, não entrega o desempenho dos rivais turbinados que são mais baratos e, muitas vezes, igualmente econômicos. Se você gosta do modelo e pensa em adquirir, nossa dica é: só leve o Touring se fizer extrema questão dos recursos semiautônomos de segurança. Se não faz, os EX e EXL já lhe atenderão tranquilamente. A versão top de linha até consegue agradar e é bem recheada, entretanto, isso não é o suficiente pelo preço pedido. Nota: 5

Avaliação final: 80/100

Lanternas trazem LEDs nas luzes de posição e freio.

Considerações finais

O novo City ficou mais tecnológico do que nunca e tenta cumprir a ingrata missão de acalentar os fãs do Civic. Isso fica evidente pela evolução do produto e seu reposicionamento no portfólio da marca. Ao mesmo tempo, ele manteve muito dos modelos antigos como o feeling ao volante e esse é o ponto-chave pelo qual essa "substituição", na prática, nunca acontecerá. Mesmo com as novidades, o novo City continua sendo o City de sempre - para o bem e para o mal.

Como a gente sempre diz, há espaço para tudo no mercado e é bom ver que ainda existem opções mais tradicionais no que diz respeito ao conjunto mecânico. Entretanto, quando se cobra tanto dentro de um segmento, é esperado que aquele produto se sobressaia em tudo ou, pelo menos, no máximo de quesitos possíveis. A questão é que esse é o mercado de hoje: sedans já não são tão estimados quanto antes, pois, os SUVs estão dominando tudo. Diante disso, vale aquela máxima: quem não tem cão, caça com gato. No caso da Honda, quem não tem Civic, pode ir de City.


Concorrentes diretos (pela categoria sedan compacto premium): Volkswagen Virtus Highline, Toyota Yaris Sedan XLS, Nissan Versa Exclusive, Hyundai HB20S Platinum Plus, Chevrolet Onix Plus Premier

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos entre 120 e 140 mil reais.


Ficha técnica

Motor: 1.5, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 126cv (E/G) a 6.200rpm
Torque: 15,8kgfm (E) / 15,5kgfm (G) a 4.600rpm
Transmissão: CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 185/55 R16
Comprimento: 4,54m
Largura: 1,74m
Entre-eixos: 2,60m
Altura: 1,47m
Peso: 1.170kg
Porta-malas: 519l
Tanque: 44l

0 a 100km/h: 10,9 segundos
Velocidade máxima: 187km/h

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Fotos (clique para ampliar):