quarta-feira, 12 de julho de 2023

2023 Nissan Sentra Exclusive 2.0 CVT; o que vale é a intenção

Nova geração desembarcou no Brasil em duas versões e um bom pacote tecnológico. Testamos a top de linha por uma semana.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Nissan do Brasil

Nossa unidade avaliada traz o interior bicolor por R$1.700 + a cor Branco Diamond com teto preto que custa R$3.000.

Faz um bom tempo que não avaliamos um sedan médio aqui no Volta Rápida. Pudera: o segmento encolheu severamente ao longo da última década e, até a virada deste ano, só contava com o Toyota Corolla e o Chevrolet Cruze como integrantes. Uma vez que o Volkswagen Jetta (oferecido apenas na versão esportiva GLI) e o Honda Civic (vendido unicamente com conjunto híbrido) se tornaram carros de nicho, acabam ficando de fora do páreo, entretanto, um velho conhecido do brasileiro voltou a dar as caras para tentar animar as coisas.

Trata-se do novo Nissan Sentra que demorou, mas finalmente chegou ao Brasil após quase quatro anos de atraso - tanto é que alguns mercados já comercializam o modelo reestilizado. A oitava geração do sedan japonês finalmente desembarca no mercado nacional e chega em duas versões, começando pela Advance que custa R$149.990 pela tabela atual e a Exclusive, top de linha e nossa testada da semana, que começa em R$173.290 e pode encostar nos 178 mil reais quando configurada como o nosso exemplar de teste.

Visual do sedan médio inspirou a atual geração do Versa.

Tudo novo; tudo MESMO

Esqueça absolutamente tudo o que você sabe ou lembra sobre a sétima geração, oferecida por aqui entre 2013 e 2021. A atual geração do Sentra é completamente nova; trocou a plataforma V pela CMF-C/D, está muito mais equipada do que as anteriores e melhor acabada tanto por dentro quanto por fora. O design também evoluiu consideravelmente, permitindo que os brasileiros conheçam de onde veio a inspiração para o visual bem acertado do atual Versa (que chegou primeiro no Brasil, entretanto, foi lançado depois do Sentra no mercado global).

O que não mudou praticamente nada foi o porte do três-volumes - as maiores diferenças ficam nos 4cm a menos de altura e nos 5cm a mais de largura, bem como nos 37 litros a menos de porta-malas. No mais, as medidas são praticamente as mesmas do Sentra de sétima geração, trazendo diferenças na casa dos milímetros; ainda assim, o perfil mais esguio, a altura menor e a largura maior são suficientes para fazê-lo parecer maior e mais assentado, passando um ar mais nobre de modelo "premium".

Debaixo do capô, um 2.0 totalmente novo.

Não parece, mas também mudou

Para mover o novo Sentra no Brasil, a Nissan apostou no conservadorismo. Ainda é um motor 2.0 naturalmente aspirado de quatro cilindros, porém, é um bloco totalmente novo, dotado de injeção direta e que só bebe gasolina, capaz de entregar até 151cv e 20kgfm e potência e torque máximos. De igual modo, a transmissão continua sendo automática do tipo CVT, entretanto, conta com simulação de oito marchas que podem ser trocadas por paddle-shifters, resolvendo uma antiga queixa de muitos donos; ela também traz modo Sport e L (Low) que simula uma reduzida, privilegiando as rotações altas em baixas velocidades para auxiliar na superação de obstáculos específicos.

Uma notável particularidade do novo motor é seu funcionamento: ao invés do tradicional ciclo Otto, ele opera em ciclo Atkinson, utilizado normalmente em conjuntos híbridos por favorecer a economia de combustível em detrimento da performance. Na prática, o novo Sentra consegue ser mais econômico do que o anterior, porém, a melhora no desempenho foi mínima - o torque máximo aparece um pouco mais cedo, enquanto que a potência máxima aparece mais tarde. Por fim, a suspensão traseira agora é independente, melhorando consideravelmente o comportamento dinâmico.

Cockpit do novo Sentra mescla elementos modernos e tradicionais com harmonia.

Parede sem reboco

O pacote de itens de série do novo Sentra é bom desde a versão mais barata, não trazendo nenhum recurso opcional. A lista contempla: seis airbags, faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, faróis de neblina por projetor de LED, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, cluster de instrumentos analógico com tela multifuncional de 7" ao centro, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade e paddle-shifters, central multimídia de 8" com espelhamento via cabo para smartphones, banco do motorista com ajustes elétricos, bancos dianteiros com aquecimento, ar condicionado dual zone, freio de estacionamento por pedal, rodas aro 17 diamantadas, chave presencial, entre outros.

A versão Exclusive se diferencia da Advance por incluir: teto solar elétrico, câmeras em 360 graus, retrovisor interno fotocrômico e externos com rebatimento elétrico, partida remota, sistema de som Bose com 8 alto-falantes e os recursos do Safety Shield que incluem piloto automático adaptativo, monitoramento de pontos cegos e de tráfego cruzado na traseira, frenagem autônoma de emergência, farol alto automático e assistente de permanência em faixa. Diante de tantos recursos, não entendemos a falta de saídas traseiras de ar condicionado, sensor de chuva, espelhamento sem fio, carregador de smartphones por indução, um-toque para todos os vidros e vários outros detalhes que um carro que beira os 180 mil reais não deveria deixar de fora.

Bancos, painel e portas são totalmente pretos por padrão, mas há a opção do couro "Sand" na versão top.

Atualização de status

Rodamos cerca de 770km com o novo Sentra, sendo que a maior parte do tempo foi em trecho rodoviário que é, de fato, onde ele se sente mais à vontade. O contato inicial causa um certo choque pelo visual elegante e a altura do sedan; é um carro baixo, o que causa um pouco de estranheza mediante tantos SUVs ao qual nos acostumamos nos tempos atuais. De igual modo, as acomodações são baixas e tendem a fazer com que o joelho fique bem acima da cintura, quase como em um modelo esportivo, deixando os passageiros um tanto "afundados" nos bancos - não chega a incomodar, porém, pessoas de mais idade ou com alguma dificuldade de locomoção podem ter problemas ao entrar e sair dele.

A direção conta com assistência elétrica e é deveras pesada para um sistema desse tipo; acreditamos que a Nissan a tenha calibrado assim por ser a preferência do público-alvo primário do Sentra. Para compensar, ela é bem direta e agradável no geral. O que realmente desagrada é a apatia do 2.0 aspirado que, embora entregue seu torque máximo em uma faixa de giro menor do que o motor antigo, essa entrega só acontece a altos 4.000rpm, exigindo que se afunde o pé no acelerador em qualquer situação que demande mais força; isso deixa o Sentra atrás (literalmente) dos modelos turbinados em matéria de aceleração e pede atenção redobrada em ultrapassagens, por exemplo.

Espaço interno para quatro adultos é na conta, sem sobras ou faltas.

Ainda assim, novamente, o Sentra busca compensar essa questão com novidades como a possibilidade de trocar as marchas virtuais pelas aletas no volante, o que dá muito mais controle e permite que o sedan japonês se movimente com mais esperteza se comparado aos antecessores; o melhor é que o motor é quase inaudível mesmo quando as rotações vão nas alturas graças ao isolamento acústico bastante eficiente. Também há como ativar o modo Sport por um botão na alavanca do câmbio, que segura o giro em uma faixa mais elevada automaticamente, porém, é provável que você sequer lembre de usá-lo diante da eficiência dos paddles no volante.

Já o comportamento dinâmico é primoroso, digno de carro esportivo, graças ao aumento na largura e a adoção da suspensão traseira independente. Passar por buracos e outros defeitos das pistas brasileiras também não é um problema para o sedan, entretanto, observamos algumas batidas secas em determinadas ocasiões que não esperávamos, indicando o que pode ser um curso excessivamente curto da suspensão para o nosso país. O consumo médio também foi um ponto alto, pois conseguimos bons 16,7km/l com uso alternado de ar condicionado e de uma a quatro pessoas a bordo, dependendo do dia.

Na dianteira, apenas as setas trazem lâmpadas convencionais.

Avaliação geral

Design: o Sentra evolui a cada geração que passa e a oitava geração, até agora, pode ser considerada o ápice dessa evolução. As linhas mesclam elegância e esportividade com excelência e as opiniões favoráveis são unânimes. Ele atraiu olhares e arrancou elogios por onde passou (alguns em alto e bom som) e, no caso do nosso exemplar testado, o visual ficou ainda mais chique graças ao teto contrastante e os bancos em revestimento claro. Só lamentamos uma coisa: para quem não gosta do teto preto, a única opção de cor é o prata. O desenho em geral merecia um 10 fácil, porém, tiraremos um ponto por essa limitação sem sentido na paleta de cores. Nota: 9

Interior: felizmente, a cabine do novo Sentra acompanhou a evolução do exterior e também mudou da água para o vinho. Há superfícies macias ao toque por todos os cantos e uma mistura agradável de detalhes prateados com preto brilhante, sem excessos. Não havíamos gostado do couro "Sand" por fotos, mas ao vivo, é muito bonito e uma ótima escolha para quem quer fugir dos interiores monocromáticos. Mais uma vez, seria fácil conceder 10, entretanto, a Nissan repetiu a pobreza do Versa de não uniformizar a iluminação do ambiente, trazendo elementos brancos no painel/multimídia e avermelhados nos demais comandos. É um detalhe bobo, porém, como sempre falamos, quando se paga quase 180 mil reais em um carro, todo detalhe conta. Nota: 9

Mecânica: a troca de plataforma e a evolução da suspensão traseira fizeram muito bem ao Sentra, porém, a nova geração merecia mais disposição vindo debaixo do capô. O novo motor e o câmbio atualizado são bons, entretanto, ser apenas "bom" não é o suficiente para se destacar nos dias de hoje. É fato que certas decisões foram tomadas porque a Nissan sabe que ele não será nenhum best-seller, porém, com um conjunto mecânico mais adequado, ele poderia se aventurar a mudar esse cenário; do jeito que está, sua posição de lanterninha já foi sacramentada desde o começo. Nota: 6

Tecnologia: o novo Sentra trouxe coisas que os antecessores não ofereciam nem em sonho e não deixa que se sinta falta de quase nada. A opção pelo freio de estacionamento por pedal impossibilita a adoção do auto hold, recurso cada vez mais querido por quem enfrenta congestionamentos todos os dias, e os belos e eficientes faróis por projetores de LED ficaram de fora em favor dos refletores convencionais - são bons, mas não se comparam em eficiência. Além disso, cadê o carregador de smartphones por indução que até o Versa traz? Nota: 7

Conveniência: como pontos positivos, há quebra-sóis com espelho e iluminação, luzes de cortesia para todos, duas portas USB na frente (sendo uma do tipo C) e uma na traseira, além de aberturas internas do bocal de abastecimento e do porta-malas. Como pontos negativos, a chave presencial exige acionamento por botão na maçaneta ao invés dos sensores, não há abertura ou fechamento remoto das janelas na chave (nem mesmo o rebatimento dos retrovisores mediante travamento do carro) e o mais grave: não há travamento automático das portas por velocidade, um recurso elementar de segurança que qualquer carro 0km à venda atualmente oferece. Vamos retirar três pontos unicamente por isso, entretanto, de todo modo, a nota não seria 10 por conta de outras falhas citadas anteriormente. Nota: 3

Acomodações: os bancos são muito confortáveis e não cansam mesmo em viagens longas, porém, o espaço interno deveria ser melhor; com quatro adultos mais altos a bordo, as canelas de quem vai atrás raspam no banco da frente. Há apoios de braço na frente e atrás, porém, não há saídas traseiras de ar condicionado. Os porta-copos são grandes, entretanto, a falta de fixadores internos incomoda por permitir que copos e garrafas colocados neles fiquem soltos, podendo entornar ou cair. Nota: 6

Funcionalidades: tudo funcionou no novo Sentra 2023 o tempo inteiro, sem travamentos ou bugs. Nota: 10

Desempenho: o comportamento dinâmico primoroso não combina com a falta de apatia no geral. Para ver do que o novo Sentra é capaz, é preciso afundar o pé direito e esgoelar o motor, porém, ainda assim, não espere explosões de performance. O comportamento pacato não chega a desagradar no uso diário, mas é consenso que a novidade merecia um motor mais condizente com sua proposta e preço, especialmente porque ele também ficou cerca de 40kg mais pesado do que o anterior (que já não era dos mais leves). Nota: 6

Segurança: apesar de não ter passado pelo Latin NCAP, o atual Sentra já foi avaliado nos EUA e obteve notas oscilando entre razoáveis e boas, dependendo de certos equipamentos. Segundo o IIHS, por exemplo, o sedan só consegue a pontuação máxima quando equipado com os faróis principais por projetores de LED - aqueles que citamos mais acima e que ficaram de fora do modelo brasileiro -, pois os  refletores de LED foram considerados inadequados pelo órgão. Já a estrutura obteve boa classificação, bem como os recursos de segurança. Em suma, ele não se destaca positiva ou negativamente por nada em especial. Nota: 7

Custo X Benefício: no cenário e preço atuais, o Sentra Exclusive possui dois rivais diretos - o Chevrolet Cruze na versão Premier e o Toyota Corolla nas versões Altis Premium, GR-S e Altis Hybrid. Mediante o Cruze, ele perde em desempenho, porém, supera em tecnologia embarcada, acabamento e acomodações. Se comparado ao Corolla, ele também perde em desempenho, entretanto, se nivela em tecnologia embarcada e nas acomodações, superando em acabamento. A favor do Sentra, existe um certo apelo de "exclusividade" que pode agradar a quem deseja sair da mesmice, pois faz muito tempo que o brasileiro só olha para o Corolla quando pensa em sedan médio. Na nossa opinião, embora seja um bom produto no geral, o novo Sentra merecia um motor melhor para se posicionar com mais conforto no segmento e, consequentemente, se mostrar uma compra mais interessante. Nota: 5

Avaliação final: 68/100

Lanternas trazem lâmpadas convencionais em todas as funções.

Considerações finais

Antes tarde do que nunca, certo? Nesse caso específico, acreditamos que sim. O fato é que ficamos felizes de ver um fabricante do segmento generalista voltar a pensar em um sedan médio para o Brasil sem transformá-lo em um produto de nicho e, por isso, batemos palmas merecidas para a Nissan. Infelizmente, todo mundo sabe que o segmento não deve resistir por muito mais tempo e esse é o principal motivo que levou a montadora a tomar certas decisões polêmicas na hora de planejar o "pacote Brasil" do três-volumes.

O Chevrolet Cruze promete sair de linha até o fim do ano e, com isso, restará apenas o Toyota Corolla como sedan médio "acessível" ao lado do Sentra. Nesse embate de japoneses, o novato consegue passar um certo ar de produto premium e ainda é figurinha muito rara nas ruas, diferentemente do Corolla que pode ser visto em qualquer esquina - ao que tudo indica, isso não mudará. Ainda assim, como a gente sempre diz, é ótimo ter opções para quem deseja sair do óbvio e a intenção da Nissan, apesar de não ter sido executada da melhor forma, foi muito boa.


Principais concorrentes diretos (na categoria sedan médio): Toyota Corolla Altis Premium, GR-S ou Altis Hybrid, Chevrolet Cruze Premier


Ficha técnica

Motor: 2.0, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina
Potência: 151cv a 6.000rpm
Torque: 20kgfm a 4.000rpm
Transmissão: CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/50 R17
Comprimento: 4,64m
Largura: 1,81m
Entre-eixos: 2,70m
Altura: 1,45m
Peso: 1.405kg
Porta-malas: 466l
Tanque: 47l

0 a 100km/h: 9,7 segundos
Velocidade máxima: 201km/h


Matéria em vídeo




Fotos (clique para ampliar):