quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Prestes a mudar, Peugeot 2008 Style entrega estilo e conforto, contudo, parou no tempo

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Pintura Cinza Artense custa R$2.450 à parte.

A temporada de avaliações de 2024 ainda não começou, porém, nós já temos a primeira matéria do novo período. Isso porque nosso fim de ano foi ao volante de um modelo que já se despediu, mas que está com centenas de unidades em estoques das concessionárias e, inclusive, continua no configurador do site oficial do fabricante. Estamos falando do Peugeot 2008, o SUV compacto da marca francesa que teve sua produção em Porto Real (RJ) encerrada no mês de Novembro.

A nova geração, já vendida por aqui em versão somente elétrica (e-2008), vem rodando em testes pelo mercosul e será apresentada agora em 2024 com mais configurações, todas com motores a combustão e produção concentrada na Argentina. Seu lançamento pode ser ainda no primeiro semestre, entretanto, enquanto isso não acontece, nós avaliamos o modelo que se despede do mercado para saber se ainda é uma boa compra. Ele chegou ao ano/modelo 2024, porém, as únicas alterações foram na gama de versões.

Aplique em preto brilhante liga as lanternas e faz referência aos carros mais atuais da marca.

O que mudou?

O 2008 chegou ao Brasil em 2015 e, de lá para cá, recebeu atualizações bastante pontuais, nada radicais ou que marcassem uma revolução. A linha 2023 ganhou a versão Style como principal novidade, apostando em detalhes visuais para tentar cativar o consumidor - faróis com máscara negra, rodas aro 16 em preto brilhante, lanternas com LED para luzes de posição, freio e seta, teto e grade frontal em preto brilhante e, por fim, um aplique também em preto interligando as lanternas.

O para-choque dianteiro é o mesmo do facelift anterior e o traseiro não teve mudanças, bem como a cabine do SUV compacto que é, essencialmente, a mesma desde o lançamento. Apesar dos quase dez anos nas costas, o visual do pequeno utilitário ainda chama atenção e consegue arrancar elogios dos outros nas ruas, especialmente por conta dos toques escurecidos da versão Style, embarcando em uma tendência cada vez mais procurada no mercado de acessórios.

Motor 1.6 aspirado é um velho conhecido dos carros da extinta PSA.

Cara de leão, miado de gatinho

Na linha 2023, a versão Style estava disponível com duas motorizações 1.6: aspirada e turbinada. O aspirado é o conhecido EC5 que, hoje, é compartilhado pela nova geração do Citroën C3 na versão top de linha e pelo C4 Cactus nas configurações mais baratas, capaz de entregar até 120cv e 15,7kgfm quando abastecido com etanol. Já o turbinado é o famigerado THP e, na linha 2024, passou a ser a única configuração disponível para a versão Style, ou seja: o nosso Style avaliado com motor aspirado durou pouquíssimo tempo no mercado.

Ambos os motores trabalham com uma transmissão automática de seis velocidades que permite trocas manuais na própria alavanca, além de contar com dois modos de condução: Sport e Eco, selecionáveis por botões próximos ao pomo do câmbio. A caixa da japonesa Aisin é moderna e funciona com bastante suavidade, porém, carece de uma programação mais inteligente - estica as marchas desnecessariamente no modo normal, o que pode ser amenizado no modo Eco que, em contrapartida, deixa o conjunto excessivamente preguiçoso.

Não é difícil entender porque o 2008 Style sem motor turbinado durou pouco. O visual "malvado" da configuração não combina com o desempenho quase sempre apático do 1.6 sem sobrealimentação que só consegue entregar seu máximo de torque a altos 4.500rpm. Abaixo dos 2 mil giros, o SUV aspirado não tem disposição alguma mediante os menores obstáculos da pista e precisa ser "esticado" para, efetivamente, sair do lugar. Além disso, seu preço ficava perigosamente próximo ao dos carros da "irmã" Citroën, gerando concorrência interna.

Cabine do 2008 não tem luxos, porém, é bem montada e conta com uma boa seleção de superfícies.

Muito bom... para 2015

Oferecido sem pacotes opcionais, o 2008 Style com motor aspirado traz alguns itens de série como: quatro airbags, freios ABS, central multimídia com espelhamento via cabo para smartphones, ar condicionado digital de duas zonas, câmera de ré, rodas aro 16 em liga leve, faróis de neblina, faróis com luzes diurnas em LED e projetores halógenos, piloto automático, computador de bordo, volante multifuncional revestido em couro e com ajustes de altura e profundidade, entre outros. Em relação ao Allure, de entrada, os únicos recursos extra são o volante em couro e o ar dual zone.

Considerando os R$106.990 que o 2008 Style aspirado custava quando chegou (e que custaria ainda menos hoje, uma vez que a versão foi descontinuada e pode receber descontos na hora da compra de um 0km pela concessionária), a lista de recursos não é ruim, porém, comete graves deslizes, especialmente em segurança: não há controles de tração e estabilidade, bem como qualquer mínima assistência semiautônoma de segurança e recursos de comodidade para os passageiros traseiros como saídas de ar, luzes de cortesia ou portas USB.

2008 compartilha sua plataforma com o hatch 208.

Essência compactada

Rodamos pouco mais de 1.100km ao longo dos 17 dias em que ficamos com o 2008 Style, porém, não é preciso rodar tudo isso para perceber, de imediato, algumas coisas onde o SUV se destaca - para o bem e para o mal. De positivo, temos o ótimo isolamento acústico que mantém todos os barulhos do lado de fora do carro, que é o correto, bem como o comportamento da suspensão que alia suavidade ao passar pelos defeitos da pista e uma certa firmeza para os momentos onde o carro é mais exigido. O volante diminuto também é uma das soluções interessantes do francês.

O painel de instrumentos mostra tudo o que o condutor precisa ver, até mesmo o marcador de temperatura do líquido de arrefecimento - algo que vem sumindo dos carros. Por outro lado, certos aspectos desagradam bastante e o principal deles é, sem dúvida, o espaço interno limitado. Na verdade, ao volante do 2008, dá para se sentir no comando de um hatchback compacto qualquer (como o irmão 208), passando a mesma sensação de um Volkswagen Nivus em relação a um Polo. Quem almeja a tão sonhada posição mais alta de dirigir, certamente se decepcionará. Por fim, se os ocupantes da frente forem altos, os de trás passarão aperto.

Bancos mesclam couro e tecido.

Ao volante, o 2008 nos remete aos carros japoneses convencionais - é pacato e sereno o tempo inteiro, mostrando reações lentas e priorizando o conforto acima de qualquer outra coisa. Se quiser (ou precisar) ver seu outro lado, não há milagre: é preciso afundar o pé no acelerador ou reduzir as marchas pelo modo manual da transmissão. Nessa circunstância, o SUV francês consegue ter esperteza o suficiente para atender ao desejo do motorista.

No mais, a simplicidade do 2008 até consegue agradar, especialmente se você não tem interesse em experimentar modernidades como as inúmeras assistências semiautônomas cada vez mais comuns nos lançamentos de hoje, telas espalhadas por toda a cabine e coisas do tipo. Com a chegada da nova geração, tudo isso promete mudar radicalmente e o SUV perderá sua pegada mais analógica e, de certa forma, "raiz".


Avaliação geral

Design: o 2008 envelheceu muito bem e a versão Style deu um toque bastante acertado de modernidade. Os detalhes das reestilizações (como o para-choque frontal "bochechudo" e o aplique preto conectando as lanternas) conseguiram alinhá-lo com os demais produtos da gama sem, necessariamente, encarecer o produto e o conjunto arrancou elogios nas ruas. Muito bom. Nota: 9

Interior: como dissemos anteriormente, a cabine do 2008 não traz luxos, porém, é bem montada, não mostrando peças desalinhadas, rebarbas aparentes ou outros tipos de defeitos que agridem aos olhos. O acabamento usa e abusa de plástico como é padrão na categoria, entretanto, a Peugeot teve o cuidado de não aplicar plásticos de aspecto barato; algumas superfícies sequer parecem ser feitas desse material. Apesar disso, o pomo do câmbio destoa do resto do cockpit com iluminação amarela (enquanto todos os demais comandos são brancos) e o avanço do painel na região que abriga a central multimídia é bastante estranho, para não dizer desnecessário. O volante diminuto é maravilhoso. Nota: 6

Mecânica: o conhecido 1.6 aspirado é um motor "ok", mediano - não é ótimo, nem péssimo. Dá conta do 2008 e, de quebra, não maltrata o bolso na hora da manutenção, uma vez que se trata de um bloco de concepção mais antiga e já utilizado em inúmeros carros da extinta família PSA. De igual modo, o câmbio não é nenhuma novidade, porém, dá conta do recado - só podia ser mais inteligente. Por fim, os freios a disco nas quatro rodas surpreendem positivamente, mas a suspensão traseira por eixo de torção o nivela aos demais concorrentes. Nota: 7

Tecnologia: por pouco mais de 100 mil reais, você leva ar condicionado digital de duas zonas, multimídia com espelhamento via cabo, computador de bordo, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, câmera de ré, rodas de liga leve, faróis e lanterna de neblina, quatro airbags, trio elétrico, entre outros. Ruim? Não, porém, algumas faltas bestas (que já citamos anteriormente) não fazem com que seja uma lista ótima. Nota: 7

Conveniência: a chave canivete tem trava e destrava remota do carro, porém, não há abertura e fechamento das janelas. Os quebra-sóis trazem espelho, mas sem iluminação. Há duas portas USB para os ocupantes da frente e uma única luz de cortesia no teto - quem vai atrás não tem absolutamente nada disso. Podia ser bem melhor. Nota: 3

Acomodações: os dois ocupantes da frente viajam muito bem, entretanto, os de trás vão mais apertados e, como acabamos de dizer logo acima, não possuem nenhum mínimo recurso de comodidade - para compensar, há cintos de três pontos e encostos de cabeça para todos. O porta-malas de 355 litros não chega a esbanjar espaço, mas não é dos menores. Nota: 5

Funcionalidades: nos primeiros dias de teste, o capô do 2008 simplesmente não queria abrir - era como se a alavanca de destrava da peça, localizada ao lado da porta do motorista, embaixo do painel, não conseguisse acionar o mecanismo no capô. Conseguimos resolver o problema, entretanto, segundo uma breve pesquisa, percebemos que parece ser algo recorrente no SUV. Além disso, em um dos dias, começamos a receber mensagens de alerta de problema nos airbags, o que causou preocupação, porém, não impediu o uso do carro. O aviso sumiu da mesma forma que apareceu: do nada e sozinho. Fora essas duas questões, tudo funcionou perfeitamente o tempo inteiro. Nota: 7

Desempenho: o 2008 pesa pouco mais de 1.200kg, o que é muito bom para um SUV compacto. Não há explosões de performance e, no geral, seu comportamento é bastante calmo, mas ele consegue ser mais esperto quando exigido - bastante exigido, diga-se de passagem. Nota: 7

Segurança: o 2008 brasileiro nunca passou pelo crash test do Latin NCAP, porém, seu irmão 208 já passou e saiu com apenas duas estrelas, uma nota bem diferente da obtida pelo 208 europeu que gabaritou o Euro NCAP em 2012. Essa grande diferença se deu, literalmente, pelo empobrecimento que a marca promoveu na variante brasileira do 208, o que nos leva a crer que o 2008 nacional passou pelo mesmo processo e, portanto, não pontuaria tão diferente do hatch. São apenas especulações, entretanto, uma coisa é fato: a falta de controles de tração e estabilidade é inexplicável... e inaceitável, especialmente porque as versões dotadas do 1.6 turbinado trazem ambos. Errou feio, dona Peugeot. Nota: 1

Custo X Benefício: SUV compacto com câmbio automático por menos de 110 mil reais, no mercado de carros novos, é algo cada vez mais difícil de se encontrar. Pelo preço, o conjunto do 2008 Style com motor aspirado é agradável, desde que você abra mão de algumas coisas e não se importe muito com outras. Se a carteira estiver mais recheada, vale a pena pensar em um concorrente mais moderno, espaçoso ou equipado... e que não tenha saído de linha. Caso esses tópicos não representem um problema para você, vá em frente; as chances de ser feliz com o SUV francês são grandes. Nota: 5

Avaliação final: 50/100

O segmento transparente da parte interna das lanternas, no porta-malas, não tem função. As setas ficam no segmento externo, na parte da lanterna fora da tampa do compartimento.

Considerações finais

O 2008 chegou "causando" no mercado e até conseguiu, por breves períodos, figurar entre os 10 SUVs mais vendidos do Brasil. Entretanto, o tempo passou e o francês começou a sentir o peso da idade - e da falta de alterações mais significativas. Por um lado, isso ajudou a manter seus preços sempre competitivos e, hoje, é possível ter um 1.6 turbo por menos de 130 mil reais, faixa onde a grande maioria dos rivais ainda utiliza motores 1.6 aspirados ou 1.0 turbo, entregando desempenho inferior.

Apesar disso, é evidente que o 2008 não é infalível, cometendo deslizes que podem afastar possíveis compradores e/ou comprometer o convívio diário com ele. Na nossa opinião, vale a pena esperar pela próxima geração e ver o que ela trará de interessante - e o quanto a Peugeot cobrará por seus atributos. Podemos esperar as mesmas qualidades do atual 208 como a boa dirigibilidade, o pacote tecnológico recheado e o visual sedutor... e os mesmos problemas como o espaço interno limitadíssimo, por exemplo. A saber.


Ficha técnica

Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 120cv (E) / 113cv (G) a 6.000rpm
Torque: 15,7kgfm (E) / 15,4kgfm (G) a 4.500rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/60 R16
Comprimento: 4,15m
Largura: 1,73m
Entre-eixos: 2,54m
Altura: 1,58m
Peso: 1.222kg
Porta-malas: 355l
Tanque: 55l
0 a 100km/h: 14,1 segundos
Velocidade máxima: 185km/h


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