domingo, 18 de fevereiro de 2024

1991 Porsche 944 S2 Cabriolet; a Alemanha para quem quiser

Antigo modelo de entrada da marca, o 944 foi um sucesso e ainda é um dos ingressos mais acessíveis para o universo da Porsche sem perder as qualidades típicas de sua escola.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
A convite do proprietário

O exemplar da nossa matéria ostenta o sempre presente Guards Red na carroceria.

Quando você ouve o nome "Ferrari", logo imagina um carro vermelho, de duas portas e um visual bastante arrojado. Quando pensa em "Mercedes", imediatamente imagina um sedan elegante e com detalhes cromados em diversos cantos. É a mesma coisa que acontece quando falamos em "Porsche" e o mitológico 911; é a associação automática que vem à mente. Não é à toa, afinal, o coupé alemão de linhas curvilíneas e motor traseiro é um dos maiores clássicos da história, porém, nem só de 911 vive a marca.

Interior com detalhes em couro e capota são finalizados em preto tradicional.

Na verdade, a rica história da Porsche começa bem antes do nascimento do 911 e envolve uma série de modelos com personalidade própria, cada um com seu jeito especial de agradar e um lembrete de que a montadora também é competente na concepção de outros produtos além do nosso querido nine-eleven. Nossa matéria da vez é com um desses exemplos de como a Porsche sabe agradar de diferentes formas - o 944, um misto de coupé com hatchback que foi um dos maiores sucessos de vendas da marca em seu tempo.

Capota fica protegida por uma cobertura própria.

Essência versátil

O 944 é, ao mesmo tempo, um sucessor e uma evolução do 924 - isso significa que se trata de um modelo novo, mas que pega muito do seu antecessor para misturar com ingredientes atualizados, resultando em um carro ainda melhor e que ajudou a Porsche financeiramente em seu tempo. O 911 nunca foi um carro barato e, por isso, não vende o bastante para sustentar a marca sozinho; antes do Boxster, Cayenne e Macan, um dos produtos que foram essenciais na vida financeira da montadora foi, justamente, o 944. Ele foi produzido entre 1982 e 1991, sendo que o exemplar de nossa matéria é do último ano/modelo na carroceria conversível, da versão S2 - quando novo, seu preço nessa configuração ficava em torno de 53 mil USD (dólares americanos), alguns milhares de dólares abaixo do 911 Carrera de entrada (na época, da geração 964).

Vidros verdes antecipavam a tendência dos nacionais de anos depois.

Ele é um esportivo compacto, composto pela típica configuração de 2+2 lugares - dois convencionais e dois menores, exclusivos para crianças. Sua concepção geral foge bastante do que vemos no 911: motor dianteiro, faróis escamoteáveis, dianteira longa, chave de ignição à direita do volante, capô plano delimitado até antes dos faróis... em suma, se não fossem os emblemas, é provável que a grande maioria das pessoas jamais fosse imaginar se tratar de um Porsche. Até mesmo o motor é completamente diferente do que costumamos ver nos 911, embora, o 944 partilhe características como a transmissão manual de cinco marchas e a tração traseira.

Capô é sustentado por amortecedores.

No caso da versão S2 que protagoniza nossa matéria, estamos falando de um bloco de quatro cilindros em linha, naturalmente aspirado e com nada menos do que 3 litros - isso mesmo, é um 3.0 de quatro cilindros e 16 válvulas com comando duplo. Até hoje, é um dos maiores four-pots já utilizados em um carro de produção, produzindo saudáveis 211cv e 28,5kgfm de potência e torque máximos, o suficiente para levá-lo de 0 a 100km/h em pouco mais de 6 segundos e atingir a máxima de 240km/h. Nada mau para um "trintão" que pesa em torno de 1.420kg, cerca de 60kg a mais do que o 944 S2 fechado.

O badge "16 Ventiler" faz menção ao motor de 16 válvulas.

O 944 foi um grande sucesso, tendo comercializado mais de 170 mil unidades ao longo dos nove anos em que foi produzido, divididas entre a versão base, S, S2, Turbo e Turbo S. Da carroceria conversível, a Porsche vendeu apenas as versões S2 e Turbo, sendo que nossa protagonista S2 Cabriolet teve pouco mais de 5.600 unidades fabricadas. Atualmente, é possível adquirir um 944 base por menos de 10 mil dólares no mercado norteamericano - evidentemente, o valor sobe bastante nos exemplares em melhor estado de conservação e/ou das versões mais desejadas, podendo até passar dos 30 mil dólares. Ainda assim, é um dos ingressos mais acessíveis para o universo da Porsche, sem deixar a diversão e o prestígio alemães de lado; um S2 Cabriolet como o da matéria, por exemplo, dificilmente sai por menos de 20 mil dólares.

Além do preto, o interior podia vir em outras opções de cores, além de combinações para deixar a cabine bicolor.

Externamente, um traço marcante (e muito bem vindo) do 944 S2 é trazer o mesmo bodykit das versões Turbo: o para-choque frontal é mais integrado ao restante da carroceria, contando com finos segmentos âmbar para as luzes de seta e posição, bem como um outro segmento retangular mais abaixo com os faróis de neblina e alto. De lado, para-lamas mais musculosos e, na traseira, um discreto spoiler na parte inferior, logo abaixo e ligeiramente recuado do para-choque. Por dentro, bancos e alguns outros detalhes em couro, volante de quatro raios e, como destaque no console central, o sistema de som da Blaupunkt com equalizador por controles deslizantes.

Faróis escamoteáveis não eram nada comuns na Porsche.

Nas ruas, o 944 S2 deve pouco ao Turbo convencional, sem o S; dotado de freios por discos ventilados nas quatro rodas e suspensão traseira independente, o pequeno alemão entrega um comportamento muito bom e equilibrado. Não espere a "explosão" de um 911, é claro, porém, permita se surpreender com a esperteza e suavidade que o 944 entrega de maneira geral. Tanto é que alguns o consideram como um grand tourer, os famosos GT que são veículos pensados para proporcionar conforto em longas viagens pelo continente.

Linhas limpas e fluidas como todo Porsche.

Um ano após o encerramento de sua produção, o 944 foi sucedido pelo 968 que, embora seguisse a mesma proposta, não chegou nem perto de repetir o sucesso de seu antecessor; foi fabricado apenas entre 1992 e 1995, comercializando pouco mais de 12 mil unidades ao todo. Isso coloca o 944 como o modelo de maior sucesso do trio iniciado com o 924 e, consequentemente, um dos mais queridos por quem deseja um Porsche, mas, por qualquer motivo, quer fugir do "lugar comum" de partir para um 911.