segunda-feira, 2 de maio de 2022

2022 Volvo C40 Recharge P8 EV; a vida imita a arte

Segundo modelo 100% elétrico da montadora no planeta, o Volvo C40 não demorou para desembarcar no Brasil. Passamos uma semana com a novidade para atestar suas qualidades.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volvo Car Corporation

Nosso exemplar de teste veio na cor Fjord Blue, oferecida sem custo adicional assim como as demais opções.

A humanidade sempre gostou de imaginar como as coisas seriam no futuro. É um exercício criativo muito interessante que, inclusive, já rendeu obras marcantes que mudaram as nossas vidas em vários aspectos. Filmes, séries, músicas, livros... há uma infinidade de peças que trazem inúmeras leituras diferentes sobre o que o futuro da humanidade reserva. Falando de carros, até que existe um certo consenso sobre como será o automóvel do futuro: inteligente, conectado, ecológico e dono de um design radicalmente inusitado.

A gente sabe que é um pouco clichê unir "carro elétrico" e "futuro" na mesma conversa, mas é difícil evitar, especialmente diante de um modelo como a nossa última viatura de avaliação semanal. Passamos alguns dias com o Volvo C40, a novidade 100% elétrica da montadora para o mundo que desembarcou há poucos meses no Brasil em versão única e uma etiqueta de R$419.950. É o segundo modelo com propulsão inteiramente elétrica da marca e conta com soluções que podemos esperar para outros Volvo no futuro.

Para o Brasil, as barras laterais do teto virão sempre em preto brilhante para dar continuidade ao teto panorâmico.

Beta Tester

O C40 é um modelo inédito e importante para a história da Volvo devido a alguns marcos que achamos interessante citar aqui. Para começar, ele é o primeiro carro de produção da marca desenvolvido desde o começo para ser unicamente elétrico, diferentemente do XC40 Pure Electric que nada mais é do que uma variante 100% elétrica do SUV compacto lançado em 2018 com motorização somente a gasolina. Embora o C40 tenha um forte parentesco com o XC40, ele consegue ter suas peculiaridades e se distanciar do irmão mais velho em vários pontos.

Além disso, trata-se do primeiro e único "SUV-coupé" da Volvo até agora, se mostrando uma alternativa mais descolada do que os tradicionais SUVs quadradões e que pode acabar atraindo novos clientes. Por fim, seu interior é totalmente livre de couro: a marca mescla materiais reciclados com microfibra e um composto sintético chamado Microtech para criar um ambiente ecologicamente amigável sem perder a pegada premium característica - e mais do que obrigatória em um veículo desse preço.

Como não há um motor convencional, a Volvo colocou um pequeno porta-malas debaixo do capô.

Tratamento de choque

Por hora, o C40 chega em versão única com o mesmo conjunto mecânico utilizado no irmão XC40, identificado pelo código P8. Ele é composto por dois motores elétricos idênticos que geram robustos 408cv e 67,3kgfm de potência e torque máximos; como é um motor por eixo, a tração é permanente nas quatro rodas e o desempenho é de carro esportivo. O C40 consegue ir de 0 a 100km/h em 4,7 segundos, o que faz dele o Volvo mais rápido do Brasil, uma vez que o sedan S60 Polestar deixou de ser oferecido por aqui. Para fins de comparação, ele acelera tão rápido quanto um Porsche 718 Cayman T.

A energia necessária para mover o sueco vem de uma bateria de 78kWh que garante uma autonomia de até 444km com a carga completa. Apesar de ser a mesma bateria presente no XC40 elétrico, a quilometragem ligeiramente maior se deve ao perfil de coupé que reduz o arrasto aerodinâmico e, portanto, faz o carro se mover melhor durante a condução. Vale lembrar que a autonomia depende de fatores variados como, por exemplo, o peso do pé do condutor no pedal do acelerador. Quanto mais rápido você quiser andar, mais rápido a bateria será drenada, assim como em um carro convencional movido a combustível.

Cabine é a mesma do XC40. O acabamento de primeira tem detalhes em alumínio.

Tudo e mais um pouco

Oferecido em pacote fechado e na configuração mais equipada, o C40 vendido no Brasil não possui opcionais e traz os seguintes itens de série: sete airbags, bancos dianteiros elétricos com memória para o do motorista, conjunto ótico totalmente em LEDs, faróis direcionais com ajuste automático de altura, painel de instrumentos 100% digital, ar condicionado de duas zonas, central multimídia vertical com internet nativa, GPS e espelhamento sem fio para smartphones, rodas aro 20, iluminação ambiente, teto panorâmico fixo, sensores dianteiros, laterais e traseiros de estacionamento, câmeras em 360º, sistema de som da Harman Kardon com 13 alto-falantes, todos os retrovisores fotocrômicos, entre muitos outros.

Como de costume nos Volvo atuais, o C40 também traz um conjunto completo de assistências e equipamentos de condução semiautônoma como piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa com correção de direção, leitor de placas de trânsito, monitoramento de pontos cegos e de tráfego cruzado, serviço On Call de monitoramento do veículo e auxílio ao condutor e muito mais. Por fim, o C40 inaugura os faróis Pixel LED para os Volvo, uma tecnologia mais sofisticada do que o sistema Matrix que secciona o facho de farol alto para não ofuscar os carros à frente, mantendo a iluminação nos demais pontos para maximizar a visão durante a condução noturna.

Interior de fábrica é monocromático, mas pode vir parcialmente em Fjord Blue independentemente da cor da carroceria, sem custo algum.

Honrando a família

Rodamos pouco mais de 500km ao volante do C40 e, embora a experiência com seu irmão XC40 elétrico ainda estivesse fresca do teste em Novembro do ano passado, conseguimos ter surpresas ao volante do novato e, de quebra, relembrar como modelos totalmente elétricos conseguem ser estupidamente divertidos e prazerosos de guiar. Começando pelo contato inicial, este que vos escreve "pagou a língua" e constatou que o C40 apenas não é muito fotogênico: não havia gostado quando vi por fotos, porém, curti muito o jeito diferentão pessoalmente. Talvez (muito provavelmente) a cor azul tenha ajudado.

Ao entrar nele, outras surpresas chamam atenção como o revestimento azulado pelo carpete e os detalhes nas portas dianteiras e painel com a topografia do Parque Nacional de Abisko, na Suécia, retroiluminados por LEDs. O material publicitário do C40 não faz muita justiça a esses apliques, pois faz parecer que seu brilho é exagerado quando, na verdade, eles permanecem discretamente acesos à noite e dão uma ambientação bem interessante na cabine, diferente de tudo o que já foi feito na indústria automotiva. É o tipo de capricho e criatividade que se espera de uma marca premium.

Detalhes em alto relevo se iluminam á noite e deixam a cabine mais interessante.

E as surpresas não param por aí. Ao olhar para cima, ao invés de um teto solar padrão, encontramos um teto fixo inteiramente em vidro que vai até as janelas traseiras e não possui cortina retrátil para bloquear o sol; quem faz essa função é o próprio vidro do teto, projetado para filtrar 95% da entrada de luz e 80% da radiação de calor e raios ultravioleta. De fato, mesmo debaixo do sol típico do Rio de Janeiro, não deu para sentir calor dentro do C40 e o eficiente sistema de ar condicionado sem controles físicos e saídas traseiras ajuda nisso. É uma pena que a Volvo ainda não ofereça um mínimo ajuste de ventilação ou temperatura individuais dedicados aos passageiros de trás.

Por fim, apesar do caimento do teto na parte traseira, os ocupantes da segunda fila não se sentem sufocados ou com falta de espaço para a cabeça. Um dos motivos é, justamente, o fato do teto de vidro ser fixo: os mecanismos de abertura de um teto solar padrão e da cortina quebra-sol obrigariam o forro a ser mais baixo para acomodar tudo, roubando preciosos centímetros da região e fazendo a cabeça dos passageiros raspar no teto. Mesmo sem poder ser aberto, o teto de vidro fixo é interessante e deixa a viagem mais divertida, especialmente para as crianças.

O único ponto negativo do teto do C40 é a ausência das alças de teto para os ocupantes traseiros.

No mais, o C40 se comporta exatamente igual ao XC40 elétrico, o que significa que é difícil chamá-lo de "carro normal". Ao se pisar fundo, a aceleração é brutal e os ocupantes são empurrados contra os assentos enquanto o SUV de quase 2,2 toneladas ganha velocidade de um jeito espantoso; uma retomada de 50 a 120km/h, por exemplo, pode ser feita em insanos 3 segundos. Não é um modelo concebido para ser esportivo, contudo, nenhum outro veículo "normal" na pista pode se engraçar com o C40. Além de tanta potência e torque disponíveis o tempo inteiro, não existe uma caixa de marchas padrão entre o motor e as rodas, o que deixa toda a operação muito mais ágil e resulta em uma condução que não deixa motivos para reclamações, tamanha a rapidez com a qual o sueco faz tudo.

Outro ponto que impressiona é a estabilidade do utilitário de luxo. Lembrando que o pesado banco de baterias se encontra no assoalho e que a tração é permanente nas quatro rodas (que são de 20 polegadas), ele oferece todos os ingredientes para fazer curvas de um jeito que poucos SUVs teriam condição de reproduzir. Isso também se deve ao conjunto de suspensão que é mais duro do que um produto premium pediria, mas essa dureza é proposital para que o peso e a força bruta do C40 não o façam sair dos eixos por conta de uma suspensão "boba". Bolsas de ar resolveriam todo o problema, entretanto, também encareceriam demais o carro e, nesse caso, não há margem para isso.

Rodas de 20 polegadas trazem raios que parecem lâminas de um estilete.

O C40 também incorpora algumas das novidades introduzidas no XC40 elétrico como o sistema de partida inteligente: não há um botão convencional. Basta entrar no carro com a chave, pisar no freio e mover a alavanca de câmbio para D ou R que o freio de estacionamento se desativa automaticamente e o veículo está pronto para ser conduzido. Também há o One Pedal Drive, recurso que deixa o pedal do acelerador com função dupla, movendo o carro quando pressionado e freando quando aliviado.

A central multimídia, embora use a mesma tela de sempre, agora conta com sistema Android e diversas funções integradas com o Google, a exemplo do Maps que pode exibir o trânsito em tempo real. O motorista também pode pedir para o sistema ler notícias em voz alta, além de configurar todos os parâmetros do carro pelo display vertical. Por fim, a Volvo fornece um carregador padrão do Tipo 2 com a outra ponta em tomada industrial de três pinos; apesar de ser chamado de "carregador doméstico", ele precisa de uma tomada fêmea do mesmo padrão para ser usado, pois o plug doméstico padrão não serve.

Faróis de neblina também são por projetores de LED.

Avaliação geral

Design: o desenho do C40 é, sem trocadilhos, chocante. É um Volvo de linhas inusitadas como não víamos há bastante tempo e pode até não ser muito fotogênico, mas causa uma ótima impressão pessoalmente. O caimento abrupto da traseira não é tão harmonioso quanto a dianteira, porém, o discreto aerofólio e as grandes lanternas em LED mostram que o objetivo é, de fato, ser excêntrico e atrair olhares nas ruas. Deu certo e foi exatamente o que o C40 fez por onde passamos. Nota: 9

Interior: dono de um desenho exterior tão chocante, o C40 merecia um interior com mais personalidade própria. Embora o cockpit seja o mesmo do XC40 (o que não é necessariamente ruim), ele busca expressar essa personalidade nos detalhes como a opção do carpete em azul e a topografia iluminada do parque de Abisko, ambos inexistentes no irmão até agora. O resultado final é bem interessante e fica ainda melhor com o teto totalmente em vidro, mas a marca insiste em não estender os enxertos decorativos às portas traseiras - é um detalhe mínimo, contudo, são quase meio milhão de reais em carro e, mediante isso, todo detalhe importa. No mais, o acabamento continua primoroso como de costume nos Volvo modernos. Nota: 9

Mecânica: a configuração de um motor por eixo é maravilhosa, pois a tração permanente nas quatro rodas deixa o C40 extremamente seguro e confiável no asfalto. Como se não bastasse, são dois motores poderosos que, sozinhos, já entregam números de fazer inveja a qualquer carro convencional; juntos fazem, no bom sentido, um estrago. A suspensão independente e os freios a disco nas quatro rodas garantem que tudo saia como o planejado. Nota: 10

Tecnologia: até o momento, o C40 chega importado da Bélgica na configuração mais equipada possível, o que significa que tem tudo e mais um pouco. Os sistemas de condução semiautônoma estão entre os melhores do mercado e ele ainda traz os inéditos faróis Pixel LED que são, por falta de palavra melhor, sensacionais - eles vão, literalmente, desenhando o feixe de luz baixa na pista de acordo com a posição do volante e a velocidade do carro, seccionando a luz alta dos outros veículos para ninguém ser incomodado. É uma lista de equipamentos condizente com a pedida de seis dígitos e quase "meia milha". Nota: 10

Conveniência: maçanetas externas que se iluminam no escuro ao destravar do carro, retrovisores externos fotocrômicos, extensores para as pernas nos assentos dianteiros, apoios de braço, portas USB para todos, porta-revistas nos bancos, luzes de cortesia... é um carro premium que faz questão de dizer isso a seus ocupantes na forma de tratá-los. Nota: 10

Acomodações: os bancos do C40 vêm dos finados XC40 R-Design, ou seja, possuem uma pegada esportiva sem abrir mão do conforto. As acomodações são muito boas até para os mais altos e pesados (como este que vos escreve) com apoios laterais decentes e encostos de cabeça funcionais, projetados para a frente, permitindo que a cabeça seja repousada sem que se perca a atenção ao volante. O que não dá para entender é porque a Volvo insiste em não oferecer um ajuste de ventilação do ar condicionado ou temperatura independente para os passageiros de trás, uma vez que as saídas já estão ali e estamos falando de um modelo bem caro. Nota: 9

Funcionalidades: tudo no C40 funcionou corretamente o tempo inteiro. O que nos intrigou foram as sucessivas mensagens de erro exibidas no painel, informando que "tal sistema apresentou falha e o veículo deve ser levado ao concessionário". Foram apenas alarmes falsos, pois tudo no carro funcionou como deveria, então, pode haver algum problema de software que acusa tais erros sem que eles existam. Ainda assim, é o tipo de coisa que não pode acontecer, especialmente porque pode ocasionar preocupações desnecessárias ao proprietário. Perderá três pontos por isso. Nota: 7

Desempenho: são 408cv e 67,3kgfm de potência e torque máximos, disponíveis de maneira instantânea o tempo todo, nas quatro rodas, sem uma caixa de marchas no meio do caminho para roubar parte dessa força ou atrasar o processo de transferência dessa força para as rodas. Resumidamente, é um canhão... ou um relâmpago. Nota: 10

Segurança: eis o tópico que a Volvo considera como o número 1 na sua lista de prioridades. Além de dispor de todos os recursos imagináveis, o C40 já foi premiado pelos institutos que realizam testes de colisão com o ranking mais alto disponível graças a todo o trabalho da engenharia com sua estrutura - um exemplo é o Top Safety Pick Plus, a avaliação mais alta possível pelo instituto IIHS. Nota: 10

Custo X Benefício: já ficou claro que o C40 é repleto de qualidades e poucas falhas, mas o fato de ser um elétrico ainda afeta seu custo X benefício por conta da rede limitadíssima de pontos de recarga, o que acaba restringindo o pleno uso do carro. Se a maior parte do seu uso for em um grande centro urbano, o problema é amenizado, porém, se precisa sair da cidade com frequência, o problema se torna mais sério e um híbrido se mostra mais interessante - a Volvo oferece o XC60 T5 por preços muito próximos e desempenho bastante parecido, além de uma autonomia muito maior e uma circunstância de uso mais interessante para o cenário Brasil atual. Quando tivermos uma infraestrutura decente de estações, não há dúvidas de que o C40 (e outros elétricos) melhorarão muito nesse aspecto. Nota: 6

Avaliação final: 90/100

Há um discreto aerofólio funcional ao fim do vidro da tampa do porta-malas
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Considerações finais

O C40 é uma vitrine de ideias que a Volvo pretende aplicar em seus carros a partir daqui. O design exótico se une a soluções que visam simplificar e melhorar a relação homem X máquina, assim como o desempenho que vai muito além do que qualquer carro normal conseguiria, mas sem números exagerados para um veículo que não foi concebido com esportividade em primeiro lugar e que objetiva ser um bom companheiro diário. É uma interessante união da emoção com a razão.

Além disso, parece que o pessoal da Volvo anda assistindo filmes de ficção científica, pois o C40 nos faz sentir em um futuro utópico por vários motivos: primeiro pela otimização de tarefas graças a recursos inteligentes, segundo pela priorização do conforto e bem-estar dos ocupantes, terceiro pelo desempenho acima da média e, por último, mas não menos importante, as linhas impactantes que parecem ter saído do último longa-metragem com temática futurista, em uma gostosa interpretação da vida imitando a arte.


O modelo avaliado não possui concorrentes diretos na categoria SUV coupé compacto elétrico.

Concorrentes indiretos (entre 400 e 440 mil reais): BMW X3 xDrive 30e, Audi Q5 S line Black, Land Rover Evoque SE, R-Dynamic SE ou R-Dynamic HSE, Jaguar E-Pace R-Dynamic S


Ficha técnica

Motor: dois motores elétricos (um para cada eixo)
Potência máxima: 408cv
Torque máximo: 67,3kgfm
Bateria: 78kW
Autonomia: 444km (ciclo WLTP)
Tração: integral
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 235/45 R20 na dianteira, 255/40 R20 na traseira
Comprimento: 4,43m
Largura: 1,85m
Entre-eixos: 2,70m
Altura: 1,58m
Peso: 2.185kg
Porta-malas: 413l

0 a 100km/h: 4,7 segundos
Velocidade máxima: 180km/h (limitada eletronicamente)


Matéria em vídeo



Fotos (clique para ampliar):