quarta-feira, 22 de junho de 2022

2021 Toyota SW4 SRX 2.8 AT6; a essência da moda

Um dos carros mais polêmicos da internet brasileira, o Toyota SW4 recebeu novidades interessantes para se adequar aos novos tempos. Testamos a versão mais barata por uma semana.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Toyota do Brasil

A cor Branco Perolizado do nosso carro de teste sai por R$2.430 à parte.

Os SUVs dos dias atuais são modelos essencialmente urbanos, de porte compacto, recheados de tecnologia embarcada e focados em aliar desempenho satisfatório a bons índices de consumo de combustível. Se você tem 30 anos de idade ou mais, sabe que as coisas eram completamente diferentes nesse segmento que hoje domina as ruas de inúmeros países; antigamente, SUV era "bicho bruto" e focado em levar seus passageiros a qualquer lugar, sem grandes confortos ou refinamentos variados, mas, com muita valentia.

A maioria dos ditos "utilitários" de hoje não se enquadra mais nisso, entretanto, ainda é possível encontrar alguns poucos sobreviventes que proporcionam essa experiência raiz aliada a alguns toques obrigatórios de modernidade. Nossa avaliação da vez é com um exemplar que se mantém firme e forte justamente por entregar essa pegada diferenciada que seu público-alvo tanto aprecia: é o Toyota SW4, o SUV derivado da picape Hilux que passou por um facelift e, ao mesmo tempo, recebeu boas novidades mecânicas e tecnológicas para se enquadrar nos tempos modernos.

Utilitário da Toyota é grandalhão e se sobressai por onde passa.

O que mudou?

Externamente, o SW4 recebeu um novo conjunto ótico quase que totalmente em LEDs; apenas as luzes de ré e de neblina traseiras são por lâmpadas comuns. Os faróis de projetor redesenhados mantiveram as luzes diurnas integradas, mas, adotaram máscara negra e passaram as luzes de posição conjugadas com as setas de direção para a parte inferior do novo para-choque, posicionadas abaixo dos novos faróis de neblina que também são por projetores.

A grade dianteira, por sua vez, cresceu e adotou acabamento em preto brilhante sem perder os frisos cromados laterais que se prolongam por cima dos faróis. No mais, as novas rodas e lanternas são as únicas alterações no restante do design, uma vez que o interior não recebeu mudanças - ao menos nessa versão SRX, pois, as atuais Diamond e GR-S trazem acabamento interno exclusivo e um visual externo diferenciado.

Motor 2.8 turbodiesel estreou na atual geração do Hilux.

Quanto mais, melhor

Atualmente na linha 2022, o SW4 não oferece mais motorização flex. O conjunto mecânico é o mesmo para as três versões do utilitário, composto pelo motor 2.8 turbodiesel de quatro cilindros em linha que passou por mudanças para entregar até 204cv e 50,9kgfm de potência e torque máximos; são 27cv e 5kgfm a mais em relação ao 2.8 dos modelos pré-facelift. A transmissão é a mesma automática de seis velocidades de antes que oferece trocas na alavanca ou nos paddle-shifters atrás do volante.

Falando de tração, trata-se de um sistema integral seletivo do tipo 4WD com opções 4x2 (tração apenas traseira), 4x4 normal e 4x4 reduzida que o condutor pode alterar através de um seletor giratório no console central, próximo da alavanca de câmbio. Também há um botão para ativar o bloqueio eletrônico do diferencial traseiro, tudo para permitir que o SW4 vá ao máximo de lugares possíveis.

Novas central multimídia e tela de 4,2 polegadas no cluster de instrumentos são as únicas novidades internas.

Já era hora!

Apesar do SW4 já estar na linha 2022, o exemplar cedido para nós pela Toyota é da linha 2021, então, listaremos os itens de série dela para depois mencionarmos o que foi acrescentado nos modelos 2022. Sem opcionais, a versão SRX traz: sete airbags, ar condicionado digital com saídas traseiras, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, bancos dianteiros com ajustes elétricos, faróis Full LED adaptativos, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, acabamento interno mesclando couro e imitação de madeira, entre outros.

A linha 2021 trouxe novidades como o sistema de som da JBL com nove alto-falantes (incluindo um subwoofer), piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa, sistema de frenagem autônoma de emergência, ventilação para os bancos dianteiros e a mesma central multimídia que equipa os atuais Corolla e Corolla Cross. Já a linha 2022 acrescentou ar condicionado de duas zonas, câmeras em 360 graus, monitoramento de pontos cegos e de tráfego cruzado traseiro e, por fim, detecção de pedestres e ciclistas como recurso adicional do sistema de frenagem automática.

Acabamento interno traz couro preto com costura branca nos bancos, partes do painel e portas.

Fortuna nipônica

Antes de falar do nosso dia-a-dia com o SW4, não há como deixar passar o tópico que rende infinitas discussões na internet: o preço. Custando atuais R$390.790, o SW4 na versão SRX com sete lugares encareceu mais de 165 mil reais desde o lançamento da atual geração em 2016 e se posiciona facilmente como um dos mais caros do seu segmento, além de ser um dos SUVs de marca generalista mais caros do Brasil. Vale lembrar que a SRX é a variante de entrada na linha 2022; acima dela se encontram a Diamond e a GR-S que chega a R$433.590.

O que mais surpreende nessa história é que nem isso parece abalar as vendas do japonês, uma vez que ele se mantém confortavelmente na segunda posição dos rankings mensais dos SUVs médio-grandes, atrás apenas do Jeep Commander que, ao contrário do que muita gente pensa, está longe de ser um rival direto do SUV nipônico. Juntos, eles são os únicos do segmento a comercializar mais de 1.000 unidades ao mês, batendo com folga modelos como Chevrolet Trailblazer, CAOA Chery Tiggo 8, Mitsubishi Pajero Sport, entre outros.

Design do SUV mudou completamente quando comparado aos modelos anteriores.

Versão remasterizada

Rodamos mais de 500km ao longo da semana com o SW4 SRX e devemos dizer que ele proporciona um mix de sensações dignas de despertar amor em uns, ódio em outros. É um dos pouquíssimos SUVs do Brasil que ainda são construídos sobre chassi por longarinas, o que faz dele um veículo muito diferente do que os carros convencionais construídos por monobloco. Isso somado o fato de ser um derivado direto da picape Hilux deixa claro o que você já deve ter imaginado: ao volante, o SW4 é a quase a mesma coisa de uma picape média-grande.

O quase fica por conta da ausência de alguns contratempos típicos de picape que não existem no SUV. Além da traseira ser mais estável e não ficar quicando, o espaço interno é excelente nas duas filas principais: é possível acomodar quatro ou até cinco adultos com folga tanto lateral quanto para as pernas. Apesar disso, ele ainda é bastante "banheirão", se assemelhando a um carro americano de concepção mais antiga: a direção é pesada em manobras por ainda ser hidráulica e a carroceria tende a sacudir mais do que o desejável nos desníveis de pista.

O espaço na segunda fila de bancos é excelente.

Essa é, exatamente, a característica que diferencia o SW4 dos demais SUVs do mercado hoje em dia: seu comportamento rústico, sem muito refinamento ou precisão. Não é um modelo feito para quem busca o prazer de uma direção afiada e dinâmica, mas, sim, a sensação de estar em um pequeno "tanque" capaz de vencer qualquer obstáculo que se apresentar - nesse ponto, precisamos ser justos: poucos carros fazem isso como o SW4. E o melhor é que, de fato, ele é perfeitamente capaz de passar por coisas que outros veículos teriam dificuldade graças ao seu conjunto mecânico e a características como o enorme vão livre do solo de quase 28cm; em um SUV compacto ou médio comum, o vão fica entre 16cm e 23cm.

O porém começa quando se presta atenção ao interior e lembramos dos quase 400 mil reais pedidos pela Toyota. A cabine é demasiadamente simples para um produto desse preço: há muito plástico rígido e de aspecto barato em lugares que são macios ao toque em modelos bem mais em conta. As mínimas porções em couro no painel tentam amenizar, porém, parecem mais uma solução improvisada para nos fazer esquecer da pobreza visual do conjunto; nem o bonito cluster de instrumentos escapa, pois, passa a mesma impressão de que deveria ser muito melhor. Enquanto a falta de refinamento no andar não chega a ser um incômodo, toda essa simplicidade do interior decepciona, principalmente por sabermos que a Toyota pode fazer bem melhor do que isso.

Telinha central no cluster de instrumentos reúne informações variadas.

Para compensar, as acomodações são boas de maneira geral, exceto pelo ajuste de profundidade do volante que se move muito pouco. Os bancos são confortáveis para todos, até mesmo na terceira fila que também conta com saídas de ar condicionado dedicadas e que pode ganhar mais espaço para as pernas através do deslocamento da segunda fila de assentos. Quando não estão em uso, os bancos da terceira fila podem ser levantados para ampliar o porta-malas, se mantendo paralelos às janelas por uma pequena trava ajustável que é encaixada em um gancho; é importante manter tudo bem firme, pois, eles podem cair durante a condução se estiverem frouxos e dar um susto em todos.

Outras coisas que até são bem-vindas, mas, que pareceram mais um enxerto do que uma solução bem pensada são o sistema de som da JBL e o assistente de permanência em faixa. Começando pelo primeiro, são nove alto-falantes ao todo, porém, muito mal distribuídos: seis se encontram apenas na dianteira, enquanto que dois ficam nas portas traseiras e o último, um subwoofer, se encontra lá nos fundos. Já o assistente de faixa é muito sensível e insiste em frear o carro enquanto o corrige na guia, o que causa bastante estranheza e atrapalha a condução, principalmente pela frenagem ser quase sempre desnecessária. Pelo menos o piloto automático adaptativo se mostrou muito bom.

Conjunto ótico frontal é inteiramente em LEDs.

Avaliação geral

Design: o SW4 mudou da água para o vinho na troca de geração e o facelift só melhorou o que já era bom. As linhas quadradas deram lugar a um visual arrojado e sofisticado, digno de Lexus. O melhor é que mesmo sendo grandalhão, tudo é visivelmente proporcional e conversa entre si. Nota: 10

Interior: visto de dentro, o SW4 não parece o mesmo carro que se vê por fora. Enquanto o exterior transpira modernidade, o interior parece uma atualização de algum projeto dos anos 90. Entenda - é bem montado e acomoda com decência, contudo, simplesmente não condiz com o visual externo e o preço de tabela, inclusive pelo acabamento. Nota: 3

Mecânica: mais potência e torque máximos não fazem mal a ninguém, então, as novidades no 2.8 turbodiesel foram muito bem-vindas. A caixa automática não é a mais moderna do mundo, mas, cumpre seu papel. No mais, a suspensão traseira por eixo de torção pode ser relevada diante da pegada mais bruta do SW4 e os freios por discos ventilados nas quatro rodas garantem a eficiência na hora de parar as quase 2,2 toneladas do utilitário. Nota: 9

Tecnologia: finalmente, o SW4 recebeu alguns recursos que são mais do que obrigatórios para um veículo de seu preço, porém, ainda tem espaço para melhorar. A adoção da central multimídia que estreou no atual Corolla foi um movimento muito bem pensado, mas, algumas das novidades que chegaram apenas na linha 2022 já deviam ter sido introduzidas no modelo 2021 que testamos - o ar de duas zonas e as câmeras em 360, por exemplo. Isso fez a linha 2021 desvalorizar rápido demais, algo que não é de praxe da Toyota e que não pegou nada bem. Nota: 6

Conveniência: há luzes internas de cortesia para todos e externas nos retrovisores, quebra-sóis com espelho e iluminação, ajuste próprio de ventilação do ar condicionado para a segunda e terceira fila, além de uma tomada de 220v na base do console central voltada para a segunda fila. Inexplicavelmente, só há uma única porta USB em todo o interior e ela fica próximo da alavanca de câmbio, ou seja: se alguém mais quiser usar, ficará querendo. Por fim, cadê o sistema de fechamento e abertura remota de janelas que até o Corolla Cross (que custa menos da metade) tem? Nota: 6

Acomodações: os bancos dianteiros são os melhores lugares, pois, trazem ajustes elétricos e ventilação. A segunda fila também agrada pela abundância de espaço e permite inclinar o encosto para deixar as viagens mais confortáveis. A terceira fila ainda não é o mundo ideal, mas, já é melhor do que no Jeep Commander, por exemplo. Há saídas de ar condicionado dedicadas a todos e o espaço para a cabeça é bom até para a turma dos fundos, entretanto, ainda é melhor deixar as crianças lá atrás. Nota: 8

Funcionalidades: tudo no SW4 funcionou corretamente, sem travamentos ou qualquer tipo de defeito. O que deveria ser melhor é o assistente de permanência em faixa que tirará um ponto do total por não ser um recurso vital, mas, que está presente e, sendo assim, deve funcionar perfeitamente. Nota: 9

Desempenho: acredite se quiser, mas, o SW4 não parece pesar tudo o que pesa quando está em movimento. É verdade que o comportamento dinâmico não é dos melhores e isso desagrada, porém, se serve de consolo, não falta força para fazer absolutamente nada no utilitário. Ultrapassagens, subidas e demais obstáculos são vencidos sem esforço, esteja o carro cheio ou não. A suspensão tem o curso longo demais, o que deixa o SUV mais "bobo" do que deveria. Não abuse dele nas curvas. Nota: 8

Segurança: no último crash test realizado pelo Latin NCAP com a dupla Hilux e SW4, em Agosto de 2019, ambos obtiveram nota máxima tanto pela boa estrutura quanto pelo correto funcionamento dos dispositivos de segurança. O protocolo do instituto está mais rígido agora, mas, a Toyota incorporou os mandatórios assistentes semiautônomos de segurança para garantir a permanência da nota máxima na eventualidade de um novo teste. Como a estrutura já foi aprovada, não há porque acreditar que seria diferente nos dias de hoje. Nota: 10

Custo X Benefício: o SW4 é bom de dirigir, legal de andar e topa qualquer parada, porém, não consegue justificar toda a quantia pedida pela Toyota. É verdade que ele continua vendendo muito bem para o carro que é e o preço que custa, mas, a nítida impressão é que se vende muito mais pelo peso da marca do que pelo produto em si. Basicamente, você tem opções melhores e mais baratas em qualquer um dos aspectos que forem analisados, o que nos leva à pergunta de um milhão de dólares: para quem o SW4 é indicado nos dias de hoje? Na nossa opinião, ele só vale se você precisa dos sete lugares para acomodar adultos em todos eles e não tem acesso fácil a uma concessionária de marca premium, o que também é um fator de grande peso na compra de um 0km. Se pretende levar crianças na última fila, há outras opções mais em conta, também dotadas de motorização diesel e/ou tração integral seletiva que possuem, praticamente, a mesma capacidade todo-terreno do SW4. Para resumir a ópera, é legal e convence ao dirigir, mas, deveria custar bem menos. Nota: 5

Avaliação final: 74/100

Luzes traseiras de neblina são cada vez mais raras nos carros brasileiros.

Considerações finais

Com a proliferação e o domínio global dos SUVs, o mercado passou a oferecer literalmente qualquer tipo de SUV: compacto, médio, grande, urbano, off-road, para famílias pequenas, famílias grandes... qualquer pessoa pode escolher o melhor tipo de SUV para seu uso pessoal. Apesar disso, os que sentem falta de como as coisas eram feitas no tempo de nossos pais e avôs acabaram sem muitas opções, especialmente se fazem questão da nostalgia dos utilitários abrutalhados, barulhentos e valentes de décadas passadas.

Para esse público (que não é pequeno), o SW4 se mostra uma luz no fim do túnel e entrega exatamente o que ele procura: robustez e força combinadas a uma embalagem atraente com direito a toques de modernidade, pois, nos dias de hoje, até os mais "cascudos" já estão conectados e procuram certas mordomias. Depois de tantos SUVs que parecem carros de passeio crescidos, dirigir o SW4 foi uma experiência interessante que nos transportou para alguns anos atrás, nos conectando com a verdadeira essência dessa que é a atual moda automotiva.


Concorrentes diretos (pela categoria SUV de sete lugares): Mitsubishi Pajero Sport HPE-S, Chevrolet Trailblazer Premier

Concorrentes indiretos (entre 370 e 410 mil reais): Volvo XC40 Recharge Pure Electric, BMW X3 xDrive30e X-Line plug-in hybrid, Land Rover Discovery Sport SE diesel mild-hybrid ou R-Dynamic SE gasolina ou diesel mild-hybrid, Volvo XC60 Recharge Inscription T8 Plug-in Hybrid, Jaguar E-Pace R-Dynamic S, Audi Q5 Prestige ou S-Line, Lexus NX 350h Luxury


Ficha técnica

Motor: 2.8 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel
Potência: 204cv a 3.400rpm
Torque: 50,9kgfm a 2.800rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: integral seletiva (4WD)
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados nas quatro rodas
Direção: hidráulica
Pneus: 265/60 R18
Comprimento: 4,79m
Largura: 1,85m
Entre-eixos: 2,74m
Altura: 1,83m
Peso: 2.175kg
Porta-malas (5 assentos/7 assentos): 500l/180l
Carga útil: 575kg
Capacidade de reboque (sem freio/com freio): 750kg/3.000kg
Tanque: 80l

0 a 100km/h: 11,7 segundos
Velocidade máxima: 180km/h


Matéria em vídeo



Fotos (clique para ampliar):