Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Toyota do Brasil
Ele está de volta! Meses após nosso primeiro contato com o Toyota Corolla Cross na versão intermediária XRE, o SUV médio japonês retorna ao Volta Rápida em sua configuração mais completa possível: a XRX Hybrid. Dotada do mesmo conjunto mecânico híbrido que equipa o Corolla sedan, ela é oferecida atualmente por R$204.190 e nos foi cedida gentilmente pela montadora para a avaliação padrão de uma semana.
Vale lembrar que tanto o SUV quanto seu irmão sedan já estão na linha 2023 mais equipados e seguros; entretanto, nossa variante testada XRX Hybrid teve apenas uma atualização para o sistema de frenagem de emergência detectar pedestres e ciclistas. Alguns itens que eram exclusivos seus, como o painel de instrumentos digital e os recursos do pacote Safety Sense, agora podem ser encontrados nas versões XRV (híbrida mais barata) e XRE.
Embora as versões mais baratas tenham ficado mais equipadas, a XRX Hybrid ainda é a variante de topo e, por isso, conta com recursos que continuam sendo exclusivos dela. Começamos pelo acabamento interno em dois tons que decora bancos e portas, deixando o ambiente do SUV médio com um aspecto mais elegante e "premium" do que as demais configurações com interior monocromático. Há detalhes prateados, em preto brilhante e do tipo macio ao toque nas portas e painel.
O banco do motorista conta com ajustes elétricos e há um discreto teto solar do tipo tradicional, a mesma peça presente no sedan topo de linha e na versão GR-S do SUV - é legal tê-lo, porém, a Toyota já deveria ter adotado um teto panorâmico como nos rivais Jeep Compass e Volkswagen Taos. Por fim, há ar condicionado digital de duas zonas com saídas traseiras e todo o pacote Safety Sense que engloba piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa com correção de direção, farol alto automático e frenagem autônoma de emergência.
A mecânica do Corolla Cross é exatamente a mesma do sedan. Isso significa que, no caso do híbrido, temos como protagonista um motor 1.8 aspirado flex de quatro cilindros capaz de entregar até 101cv e 14,5kgfm. São números baixos para um 1.8, mas isso se deve ao fato do motor operar em ciclo Atkinson ao invés do tradicional Otto - seu regime de funcionamento é mais voltado ao menor consumo de combustível do que ao desempenho.
Junto dele se encontra um motor elétrico que gera até 72cv e 16,6kgfm, sendo alimentado por uma bateria de 1,3kWh; há um segundo motor elétrico que atua como alternador, motor de arranque e outras funções. Trata-se de uma arquitetura híbrida de pequeno porte, dedicada a reduzir consideravelmente o consumo de combustível ao diminuir a utilização do motor convencional. Tudo é controlado por uma transmissão automática do tipo CVT que trabalha com engrenagens ao invés das tradicionais polias com correia.
Falando em números, a potência máxima combinada é de 122cv, entretanto, a Toyota não informa o torque máximo combinado. O que se sabe é que o Cross híbrido consegue ir de 0 a 100km/h em cerca de 13 segundos e pode atingir máxima de 170km/h. Sobre o consumo, nossa média geral em percurso misto, com gasolina no tanque e ar condicionado ligado direto ficou na casa dos 19,5km/l.
Além dos itens exclusivos da versão, o Corolla Cross XRX Hybrid conta com uma boa lista de itens de série sem opcionais. Dentre os recursos disponíveis, nós temos: sete airbags, faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, faróis de neblina em LED, controles de tração e estabilidade, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, câmera de ré, sensores crepuscular e de chuva, volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade, apoio de braço dianteiro e traseiro, seletor de modos de condução, central multimídia com espelhamento para smartphones via cabo, entre outros.
Embora seja uma lista boa de equipamentos, não dá para deixar de sentir algumas faltas. A divisão brasileira da marca deveria ter adotado o freio de estacionamento eletrônico que possibilitaria a inclusão do útil Auto Hold, presente nos seus dois principais rivais, além do teto solar panorâmico que também se encontra neles. Ainda assim, o XRX é o topo de linha mais barato do trio dos principais SUVs médios do Brasil atualmente e é o único híbrido, configurando-se como um custo X benefício interessante nesse aspecto.
Rodamos pouco mais de 370km ao longo da semana com o Corolla Cross híbrido e, embora o comportamento do conjunto já fosse conhecido, a gente acaba esquecendo como é a vida real de tanto ler as opiniões e comentários virtuais de quem, claramente, nunca dirigiu ou sequer compreende o propósito do modelo. É fato que, em um meio onde as pessoas aprenderam a medir as coisas pela quantidade, ouvir que "um carro de mais de 200 mil reais tem apenas 122cv" é decepcionante, mas é imprescindível fazer algumas ponderações que são percebidas no uso diário.
A primeira delas é: o principal propósito de um híbrido é a economia de combustível. Segundo: apesar do motor 1.8 sozinho não esbanjar desempenho, lembre-se que há um motor elétrico pronto para atuar junto dele quando o sistema detectar a necessidade e que esse motor fornece potência e torque de maneira instantânea. Terceiro: "potência" é apenas um dos inúmeros fatores que influenciam no comportamento de qualquer carro. O Corolla Cross híbrido pode não ser emocionante e, é claro, anda menos do que o 2.0 aspirado, mas os comentários sobre ser "manco" e coisas parecidas não devem ser considerados.
Monitor de energia mostra tudo o que está acontecendo entre os motores e a bateria. |
Fizemos um vídeo explicando como o sistema híbrido funciona, mas não faz mal lembrar também em texto. Sendo assim, vamos lá: a bateria de 1,3kWh se encontra abaixo dos bancos traseiros e, quando totalmente carregada, garante uma autonomia de até 5km no modo somente elétrico. Sim, é bem pouco, pois lembramos que o sistema aqui foi projetado para reduzir o trabalho do motor a combustão e não substituí-lo. O motor a combustão tem três funções primárias: mover as rodas, alimentar o motor elétrico e alimentar as baterias. Já o motor elétrico primário, por sua vez, recebe energia da bateria e/ou do motor a combustão para movimentar as rodas e pode atuar sozinho em condições de baixa demanda de força, velocidade de cruzeiro ou carga suficiente na bateria.
Durante a condução, toda essa operação é gerenciada 100% pelo sistema, sem qualquer intervenção do motorista e totalmente imperceptível aos passageiros - exceto pelo barulho do motor 1.8 quando ligado. O conjunto funciona baseado em alguns fatores, contudo, o principal deles é o peso do condutor no pedal do acelerador: se pisar mais fundo, ele entenderá que você precisa de desempenho e priorizará o uso do motor a combustão ou até mesmo os dois motores juntos para que a entrega de força nas rodas dianteiras seja máxima, o que é o mais indicado para momentos como subidas ou ultrapassagens.
O grande ponto fraco do SUV médio é o espaço. |
Diante desses fatos, já é possível imaginar que o comportamento do Corolla Cross é, exatamente, aquilo que você demanda dele, o que descarta o conjunto mecânico da lista de pontos fracos. Nem mesmo o mal acabado escape aparente, alvo de um verdadeiro escarcéu na internet, pode ser considerado um ponto fraco por ser algo que não impacta em absolutamente nada o convívio com o modelo. Nossas principais queixas sobre o SUV médio sempre foram duas: o custo X benefício dentro da própria Toyota e o espaço interno.
Começando pelo primeiro: não faz sentido o Corolla Cross custar, em média, quase 20 mil reais a mais do que o sedan, principalmente por ser inferior em vários aspectos. Já o segundo ponto consegue ser ainda mais grave: com um entre-eixos e porta-malas menores que os do sedan, o Cross tem consideravelmente menos espaço interno e capacidade de bagagem do que o irmão sedan, uma incoerência de um produto que, teoricamente, é pensado para famílias. Comparando com Taos e Compass, o Cross é o mais apertado deles.
Design: tomaremos a liberdade de fazer uma análise puramente pessoal. Diante de toda a beleza do Corolla sedan, o Corolla Cross parece um tanto sem jeito, pois não apresenta a mesma harmonia do três-volumes. Não chega a ser feio, mas a referência do visual tão acertado do sedan permanece forte na nossa cabeça e não nos deixa apreciar o SUV da mesma forma. Nota: 7
Interior: o que a Toyota errou no design externo, acertou na cabine. Internamente, o Corolla Cross é idêntico ao sedan, o que significa que possui uma cabine elegante e bonita, sem excessos. Fica ainda melhor nessa versão graças aos detalhes claros, porém, não entendemos a iluminação ambiente azulada que só se acende à noite com o carro parado; em movimento, se escurece sozinha ao ponto de ficar imperceptível. A economia em alguns pontos plásticos que são macios ao toque no sedan também não pegou nada bem. Nota: 7
Mecânica: quantos híbridos flex você conhece? Além do Corolla sedan, o único que existe até o momento é o Corolla Cross, pois o Prius só bebe gasolina. Foi uma jogada genial da Toyota e, além disso, o fato de ser o único híbrido do segmento também joga a favor, embora não seja uma arquitetura das mais modernas - mas é uma das mais baratas. O câmbio CVT por engrenagens ao invés de polias trabalha bem e, no mais, há os mandatórios freios a disco nas quatro rodas. Pena que houve uma empobrecida na suspensão traseira que passou a ser por eixo de torção ao invés do sistema independente do sedan. Nota: 8
Tecnologia: a versão XRX corrige os pontos fracos das demais nesse quesito. É muito bem servida e o melhor é que não oferece opcionais, porém, não é perfeita. Alguns itens presentes no Cross estrangeiro e até mesmo nos rivais diretos ficaram de fora dele, numa clara decisão de corte de custos por parte da marca. Foi um vacilo que custará dois pontos. Nota: 8
Conveniência: quebra-sóis com espelho e iluminação, luzes de cortesia para todos, duas portas USB para quem vai atrás, apoios de braço, porta-copos para todos, abertura remota das janelas e teto na chave... Nesse aspecto, a Toyota fez a lição de casa. Nota: 10
Acomodações: os bancos do Corolla Cross são bons, entretanto, o assento é extremamente curto para as pernas, o que acaba incomodando aos mais altos. Os apoios de braço são usáveis mesmo com o banco do condutor na posição mais alta e quem vai atrás também não foi esquecido: há saídas de ar e duas portas USB dedicadas. Muito bom. Nota: 9
Funcionalidades: tudo no Corolla Cross funcionou corretamente o tempo inteiro. O assistente de farol alto deveria reativar o facho mais rápido, só isso. Nota: 10
Desempenho: embora não seja o foco principal de um híbrido, todo carro precisa ter um desempenho minimamente adequado para executar todas as tarefas da direção com segurança - sabemos disso, é claro. O Corolla Cross híbrido não anda como o convencional, mas dá conta do recado quando necessário. Nota: 8
Segurança: duas coisas contam a favor do SUV japonês nesse quesito. A primeira é o bom resultado do sedan no último teste pelo Latin NCAP em 2019, tirando nota máxima; uma vez que a plataforma e os recursos presentes são os mesmos, é de se esperar que o SUV repita o feito. A segunda é a farta presença de itens de segurança passiva e ativa. Entretanto, duas coisas também jogam contra: desde o teste com o sedan, o protocolo do Latin NCAP se atualizou e está mais rígido. Além disso, o SUV nunca passou por um teste exclusivo dele e as diferenças de carroceria podem ter um grande impacto no desempenho. Considerando tudo isso, nossa nota será por conta da incógnita, mas considerando a presença dos equipamentos e o bom resultado do sedan para um voto de confiança. Nota: 8
Custo X Benefício: se falarmos dentro da própria Toyota, o Corolla Cross simplesmente não traz nenhuma vantagem. Tem menos espaço interno, menos porta-malas, um tanque de combustível consideravelmente menor e menos refinamento interno do que o Corolla sedan e o pior: é bem mais caro. Por outro lado, se analisarmos apenas os SUVs médios, a coisa muda de figura. Pegando as versões top de Taos e Compass, a do Corolla Cross é a mais barata e nem por isso vem menos equipada, além de ser a única com motorização híbrida que faz dela a mais interessante para quem usará a maior parte no ambiente urbano. Se o tanque de combustível fosse maior, deixaria o japonês MUITO mais usável e interessante. Nota: 6
Avaliação final: 81/100
A versão XRX representa o Corolla Cross definitivo e tudo de melhor que ele pode oferecer, todavia, sem corrigir alguns dos principais pontos fracos do SUV médio. Ainda assim, ele continua tranquilo no posto de 2º mais vendido da categoria, o que mostra que nada disso tem feito o consumidor desistir da compra e joga qualquer possível crítica negativa pelo ralo. Até porque, falando das que mais "causam" na internet, poucas devem ser levadas a sério: a maioria é só para gerar buzz e alavancar a audiência de canais sem conteúdo sério.
Tal sucesso tem sua justificativa: apesar de nossas ponderações, o Cross consegue entregar praticamente todas as virtudes do sedan que o originou - e elas são muitas. É confortável, bom de dirigir e, no caso da versão top, entrega um nível de equipamentos muito bom aliado ao doce gostinho da eletrificação automotiva a um valor mais modesto do que os elétricos puros ou híbridos de maior porte, mostrando que quando se fala de motores, um já é bom, mas dois no mesmo carro são ainda melhores.
O modelo avaliado não possui concorrentes diretos na categoria SUV médio híbrido.
Concorrentes indiretos (entre 195 e 215 mil reais): Volkswagen Taos Highline, Jeep Compass Limited T270, CAOA Chery Tiggo 8
Motor: 1.8, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 101cv (E) / 98cv (G) a 5.200rpm
Torque: 14,5kgfm (E/G) a 3.600rpm
Motor elétrico: 72cv e 16,6kgfm
Bateria: 1,3kWh
Transmissão: automática CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 225/50 R18
Comprimento: 4,46m
Largura: 1,82m
Entre-eixos: 2,64m
Altura: 1,62m
Peso: 1.450kg
Porta-malas: 440l
Tanque: 36l
0 a 100km/h: 13 segundos
Velocidade máxima: 170km/h
Matéria em vídeo
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