quinta-feira, 22 de maio de 2025

Crônica Rápida: não gosto de motores aspirados, mas gosto do Nissan Versa

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Nissan do Brasil

Nosso exemplar testado veio na cor Branco Aspen, disponível sem custo adicional.

Olá! Meu nome é Yuri Ravitz, nasci em 1990, sou jornalista automotivo e não gosto de motores aspirados. Na verdade, dizer que não gosto é um pouco de exagero; o que eu tenho é uma preferência bem justificada pelos turbinados. Meu contato mais próximo com carros turbo começou pelos idos de 2018 e 2019 e foi ali que percebi, como entusiasta, como eles conseguem entregar uma performance geral bastante superior, o que me gerou uma preferência quase instantânea, imediata. Ainda assim, eu consigo dizer sem qualquer desconforto que tenho um apreço genuíno pela atual geração do Nissan Versa.

Versa traz linhas limpas e muito bem acertadas.

Já tivemos três contatos com diferentes exemplares da atual geração do Versa aqui no Volta Rápida: testamos a extinta configuração de entrada Sense com câmbio manual em fevereiro de 2022, a top de linha Exclusive em maio de 2023 após ter passado alguns meses fora das lojas e, por fim, a intermediária Advance em dezembro de 2023 já com os retoques de meia-vida introduzidos no mesmo ano. Dessa vez nós voltamos a conviver por uma semana com a variante Sense, porém, apenas a transmissão automática é oferecida. Como o sedan compacto japonês consegue continuar cativando mesmo sem alterações mais profundas? É o que você vai entender nos parágrafos abaixo.

Versão de entrada Sense segue com pneus 195/65 R15, mas ganhou rodas de liga leve.

Bem afeiçoado

O que me faz começar a gostar da atual geração do Versa é, de longe, o design. Na minha opinião, temos aqui o sedan compacto mais bonito e bem acertado visualmente de toda a categoria. Tudo conversa com tudo por todos os cantos e as linhas conseguem entregar um misto raro de elegância e esportividade em doses iguais. Mesmo a versão de entrada Sense, dotada de um aspecto geral mais simples, faz boa presença; em relação às variantes mais antigas, sua aparência melhorou por causa das novas rodas de 15 polegadas em liga leve e os faróis de neblina integrados às luzes diurnas na porção inferior do para-choque. Em outras palavras, já não passa tanto um ar de "carro capado".

Bancos trazem um misto de tons escuros entre cinza e azul.

Quando testamos o Versa Sense em 2022, a configuração com câmbio automático custava pouco mais de 100 mil reais; hoje é tabelada em R$115.690, uma diferença superior a 10 mil reais que se traduz em alguns equipamentos a mais. O Sense atualmente conta com: seis airbags, trio elétrico (travas, retrovisores e vidros das quatro portas), chave presencial com partida por botão, computador de bordo, bancos em tecido, ajuste de altura do volante e do banco do motorista, sensor de ré, entre outros. Dentre as novidades há faróis de neblina com luzes diurnas integradas, rodas de liga leve e central multimídia, exatamente os equipamentos que sentimos falta na primeira avaliação. Ponto para a Nissan por ter incluído os itens.

Central multimídia traz tela de 7 polegadas e espelhamento via cabo com smartphones.

Quem não mudou nada foi o conjunto mecânico. O Versa segue equipado unicamente com motor 1.6 aspirado, de quatro cilindros em linha e flex, capaz de gerar até 113cv e 15,3kgfm e aliado a uma transmissão automática do tipo CVT. Não são números empolgantes, contudo, não deixam a desejar mediante os meros 1.105kg da configuração de entrada do sedan japonês. Já o CVT é do tipo "raiz", sem oferecer trocas manuais na alavanca ou por aletas no volante; ele até conta com simulação de seis marchas, porém, elas só funcionam quando o acelerador é pressionado até o final ou com o modo Sport ativado (por um botão "escondido" na manopla de câmbio) e o condutor não tem como trocá-las de forma alguma.

Manopla de câmbio traz o botão do modo Sport perto do pomo, na listra branca.

Vim a passeio

Dessa vez rodei pouco mais de 600km a bordo do Versa Sense 2025 e, além do motor aspirado, outra característica que normalmente me afasta dos carros é a transmissão CVT. Acontece que o CVT da Nissan, assim como os da Honda e da Toyota, é bem acertado e não gera tanto incômodo mesmo em um motorista que declaradamente não curte esse tipo de caixa automática. Ainda assim, é fato que a condução do sedan seria muito mais interessante se o câmbio continuamente variável fosse atrelado a um motor turbo como, por exemplo, o 1.0 TCe que estreou no Renault Kardian e que chegará ao novo Nissan Kicks. Quando você precisa de mais desempenho, não há milagre: ao se pisar mais fundo, a caixa joga as rotações lá em cima sem cerimônia e o carro leva algum tempo a desenvolver velocidade.

Espaço interno é comedido, sem sobras.

Já relatei isso sobre outros carros em outras avaliações (como a do novo Sentra) e alguns leitores me questionaram sobre isso significar uma "falta de motor", o que não é o caso. O problema é que por se tratar de um motor naturalmente aspirado em uma calibração mais conservadora, ele só conseguirá entregar mais desempenho se for esticado - em outras palavras, levado a rotações mais altas. Essa é a diferença crucial que existe entre eles e os turbinados; munidos de turbocompressores pequenos, que já começam a atuar em giros mais baixos, os turbinados não precisam ser tão esticados para extrair seu potencial, o que torna a direção menos cansativa e muito mais eficiente. Ainda assim, como comecei o texto, eu gosto do Versa.

Há apoio de braço retrátil para o motorista.

Gosto do Versa porque, de um modo geral, sua condução é bastante pacata e agradável. É um carro simples, sem infinitos botões e recursos que nunca serão utilizados; a direção é leve, o rodar é confortável (especialmente o Sense com as rodas aro 15 e pneus de perfil 65) e o desempenho é suficiente na maioria dos casos. Além disso, o clássico 1.6 aspirado compartilha de toda essa simplicidade sendo um motor conhecido e de cuidados mais fáceis, menos dispendiosos para os que não estão dispostos a ficar gastando com isso. Em outras palavras, é um produto bastante equilibrado, correto e que cativa pela simplicidade... além da beleza.

Lanternas trazem lâmpadas convencionais para todas as funções.

Se indico? Com certeza, mas com algumas ressalvas. O espaço interno não é dos melhores e, infelizmente, a suspensão traseira ainda tende a abaixar mais do que o desejado com o carro cheio, podendo fazer a carroceria raspar em quebra-molas - uma característica irritante compartilhada com o Hyundai HB20S, por exemplo. Encaro o Versa como uma opção interessante para quem pensa em trabalhar com transporte por aplicativos ou quer um veículo 0km sem grandes emoções ou avanços tecnológicos, apenas o conforto para ir e voltar de seus deslocamentos rotineiros. Tudo funciona corretamente e sua discrição também é uma qualidade que não deve ser menosprezada, especialmente em tempos de violência alarmante nos grandes centros urbanos.