Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por BYD do Brasil
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Todas as cores do Dolphin Mini, como a Polar Night Black de nossa unidade, são oferecidas sem custo. A linha 2026 acrescentou o tom Glacier Blue. |
Nós já falamos sobre carros históricos diversas vezes aqui no Volta Rápida, pois existem muitos deles, cada qual com seus próprios motivos. Alguns ficam marcados pelo visual icônico, outros pela experiência que proporcionam e mais outros por questões mais abrangentes como, por exemplo, o impacto mercadológico em uma determinada região. Nosso teste da vez é com um produto que foi apresentado ao planeta em 2023, há apenas dois anos, mas já fez muito barulho e tem sacudido o mercado brasileiro com força total.
Estamos falando do Dolphin Mini, um subcompacto de propulsão 100% elétrica comercializado pela chinesa BYD e que é, até o momento, seu carro mais barato no Brasil. Ele foi lançado por aqui em fevereiro do ano passado e já se consagrou como o EV mais vendido do país. Nós finalmente recebemos uma unidade do modelo chinês para a avaliação padrão de uma semana e rodamos mais de 900 quilômetros para descobrir seus acertos, seus erros e se toda a polêmica em torno dele é justificável. Confira!
Também chamado de Seagull, Dolphin Surf ou Atto 1, dependendo de onde é comercializado, o Dolphin Mini é o menor produto da Build Your Dreams construído sobre a arquitetura e-Platform 3.0, uma plataforma modular extremamente versátil e dedicada a veículos puramente elétricos - não por acaso, é sobre ela que todos os demais BYD elétricos à venda no Brasil também são feitos, incluindo o grandalhão Tan de sete lugares e o sedan-coupé Seal com seu desempenho brutal oriundo da dupla de motores elétricos.
O Dolphin Mini começou sua caminhada em solo nacional sendo oferecido unicamente com quatro lugares, justamente a configuração avaliada por nós, pelo preço de R$115.800; a versão com cinco lugares chegou poucos meses depois a R$119.800 e, até bem pouco tempo atrás, estava tabelada em R$122.800. Com a chegada da recém-apresentada linha 2026, a variante de quatro lugares saiu de cena e deixou apenas a de cinco passageiros por R$119.990, inclusive com uma nova opção de cor chamada Azul Glacier.
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Debaixo do capô do Dolphin Mini é possível ter acesso a vários componentes importantes. |
Um-ponto-muita coisa
O Dolphin Mini é produzido com uma única opção de motorização para todo o planeta. Trata-se de um motor elétrico instalado no eixo dianteiro, capaz de gerar até 75cv e 13,7kgfm de potência e torque máximos, sendo alimentado por uma bateria de 38kWh - há uma bateria de 30kWh disponível em outros mercados. Esse conjunto o leva de 0 a 100km/h em 14,9 segundos e a uma velocidade máxima de 130km/h limitada eletronicamente; já a bateria, segundo o PBEV (Inmetro), garante cerca de 280km de autonomia total.
O grande porém da coisa, como você já sabe, é que não dá para analisar veículos elétricos somente pelos números crus. O motor do Dolphin Mini nos remete aos 1.0 aspirados em termos números, contudo, na prática, o desempenho é surpreendentemente satisfatório; isso também vale para a bateria que, no uso real, garantiu algo na faixa dos 370km de autonomia sem grandes problemas e um uso comedido. Chegamos a gastar menos de 30% em um percurso entre cidades de aproximadamente 130km de distância e modo de condução Normal.
O pacote de itens de série do Dolphin Mini é fechado e não possui opcionais, seja com quatro ou cinco lugares. Ele engloba: seis airbags, faróis Full LED com luzes diurnas e ajuste elétrico de altura, banco do motorista com ajustes elétricos, chave presencial com partida por botão, freio eletrônico de estacionamento com auto hold, câmera e sensores de ré, seletor de modos de condução, retrovisores externos com ajustes elétricos e desembaçador, volante com ajustes de altura e profundidade, entre outros.
Há um pequeno cluster de instrumentos 100% digital, a tradicional central multimídia da BYD com tela giratória, piloto automático convencional (não adaptativo) e bancos inteiriços em revestimento sintético, porém, como se espera de um modelo de entrada, o Dolphin Mini não traz qualquer assistência semiautônoma de condução. Por fim, ele conta com freios a disco nas quatro rodas, aros 16 em grafite com acabamento brilhante e carregador doméstico incluso com tomada residencial.
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Balanços dianteiro e traseiro são extremamente curtos, o que deixou o entre-eixos avantajado em relação ao comprimento total. |
Urbano saidinho
O Dolphin Mini já se tornou figurinha comum nas ruas brasileiras, o que fez o ar de novidade se perder. Ainda assim, foi interessante ter esse contato mais próximo com o subcompacto chinês porque, na prática, ele não é tão pequeno quanto pode parecer; apesar do comprimento diminuto, sua altura total supera até mesmo os hatches compactos convencionais enquanto sua largura de 1,71m (tirando os espelhos) supera os subcompactos padrão. Pode se dizer que o Dolphin Mini é um bom meio-termo entre as categorias, sendo maior que os demais subcompactos e menor do que os compactos em alguns aspectos, mas como isso se reflete na prática?
A resposta pode ser obtida assim que abrimos as portas, pois ele se mostra um hatchback bastante espaçoso em vista do seu porte graças aos 2,50m de entre-eixos e aos 1,58m de altura; o único grande porém vai para o porta-malas de apenas 230 litros, menor que o de um Fiat Mobi. Encontrar a melhor posição para dirigir também não é difícil, todavia, os ajustes de altura e profundidade do volante deveriam ter mais amplitude - mesma queixa que fizemos sobre o King, o sedan híbrido plug-in da marca que avaliamos mês passado. Para travar e destravar o Dolphin Mini, basta se aproximar com a chave e apertar um botão na maçaneta da porta do motorista.
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Revestimento dos bancos imita couro. |
Com o pé no freio, o Dolphin Mini está pronto para ser ligado ao se apertar o botão à direita do volante. O painel de instrumentos é simples e direto ao ponto, exibindo o indicador de uso e recarga de energia à esquerda, velocímetro à direita e as informações do computador de bordo ao centro que podem ser selecionadas e/ou zeradas por botões no raio direito do volante. A central multimídia, por sua vez, é a mesma usada pelos outros modelos da BYD, diferenciando-se apenas pela quantidade mais limitada de recursos, mas apresentando o mesmo bom funcionamento e resolução de tela dos irmãos mais caros.
O acelerador do subcompacto chinês tem uma calibragem muito boa, mas o pedal do freio é excessivamente sensível e demanda um certo tempo até se acostumar para não realizar frenagens bruscas sem querer. O pequeno seletor de câmbio fica "escondido" à esquerda do conjunto de botões no console central, uma solução interessante por deixar o console e a coluna de direção livres para abrigarem outros recursos como, por exemplo, o carregador de smartphones por indução no topo do console central. A cabine, inclusive, traz superfícies de toque macio por diversos lados e discretos detalhes em laranja.
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Painel de instrumentos é simples, mas bastante informativo. |
Em movimento, o Dolphin Mini é bastante esperto e ágil, permitindo que se esqueça a cavalaria máxima tão limitada do seu pequeno motor elétrico. É possível escolher entre regeneração normal e alta, mas nós andamos com a alta o tempo inteiro; desse modo, o carro atua quase como um "one pedal", reduzindo drasticamente o uso do pedal do freio e deixando a condução mais confortável. O seletor de modos de condução traz 3 opções: Eco, Normal e Sport - experimentamos as três em diferentes ocasiões, entretanto, não sentimos diferença significativa no uso ou na direção como um todo.
O que chama a atenção de maneira negativa é o comportamento da suspensão, especialmente na traseira: parece que o Dolphin Mini traz gelatina no lugar dos amortecedores e molas. Do meio para a parte de trás da carroceria, o subcompacto sacode sem cerimônia e acompanha todas as ondulações da pista, fazendo os passageiros chacoalharem no processo. Também achamos ruim a escolha de pneus 175/55 R16; compostos 195 de perfil 55 ou 60, mais largos e ligeiramente mais altos, tornariam a condução bem mais agradável de forma geral.
Design: o Dolphin Mini não é o carro mais proporcional do mundo, pois acaba sendo alto demais para seu comprimento total, deixando-o com ar de "carro de brinquedo" e isso não é um elogio. Ainda assim, quando analisadas de forma isolada, suas linhas gerais agradam bastante e os detalhes do design mostram capricho do time responsável pelas linhas do chinês. O desenho atual, inclusive, é mais interessante do que a versão reestilizada que já estreou lá fora. Nota: 7
Interior: o acabamento do Dolphin Mini é inferior ao dos irmãos mais caros, afinal, trata-se de um modelo de entrada, mas ele ainda consegue surpreender com uma boa seleção de materiais e porções de toque macio por lugares variados. Ponto positivo para a BYD por oferecer opções que fogem do "all black", porém, ponto negativo por não disponibilizarem nenhuma configuração absolutamente sóbria; tem gente que prefere o "pretinho básico" e está tudo bem, mas não é possível ter isso ao se comprar um Dolphin Mini. Nota: 7
Mecânica: na prática, o motor elétrico de meros 75cv e 13,7kgfm de potência e torque máximos parece ser bem mais forte - méritos da eletrificação que amplia a eficiência energética e dispensa outros componentes mecânicos que roubam performance. A suspensão traseira é por eixo de torção como se espera nesse segmento, mas os freios a disco nas quatro rodas estão acima da média. Nota: 9
Tecnologia: por R$119.990 segundo a tabela atual (jul/25), o Dolphin Mini traz uma lista de recursos bastante satisfatória e que engloba quase todo o básico de um produto dessa faixa de preço hoje. O "quase" é porque faltam alguns recursos muito básicos como um simples limpador traseiro - na frente, como no Renault Kwid, há apenas um. Nota: 7
Conveniência: tudo o que dissemos na avaliação do King também vale aqui, portanto, nota igual. Nota: 10
Acomodações: o espaço para quatro adultos é adequado, sem sobras ou faltas. Há luzes de cortesia em LED, uma porta USB tipo A e outra tipo C para quem vai na frente, entretanto, a BYD esqueceu completamente dos que viajam na traseira - não há luzes de cortesia, saídas de ar, portas USB, absolutamente nada. O porta-malas é ínfimo e não comporta qualquer coisa além de sacolas de compras de mercado ou mochilas. Nota: 5
Funcionalidades: os comandos do retrovisor direito apresentaram uma falha deveras incômoda - ao realizar um breve toque para um ajuste fino da posição do espelho, o sistema fazia o retrovisor se virar totalmente naquela posição, nos obrigando a reajustar tudo novamente. O ar condicionado também apresentou um desequilíbrio de temperatura, oscilando entre muito frio ou quente, sem um meio-termo confortável para os dias de climas amenos. Por fim, tal qual aconteceu no King, o painel de instrumentos não exibe todas as informações em português do Brasil e nem mesmo permite ver o consumo de energia nas unidades mais conhecidas do brasileiro. Fora essas ocorrências, tudo funcionou normalmente. Nota: 5
Desempenho: ao volante, o Dolphin Mini parece mais forte do que os números sugerem e ele até consegue manter um bom ritmo na rodovia, desde que você esteja disposto a sacrificar a autonomia geral. Os freios também são bons, contudo, a suspensão precisa de mais atenção para, junto de pneus maiores, se adequar às condições brasileiras de rodagem. Nota: 6
Segurança: o Dolphin Mini já passou por alguns testes de segurança pelo mundo e tem se saído bem, mas a completa ausência de recursos semiautônomos de segurança joga contra o subcompacto chinês. Ele deveria, no mínimo, vir com frenagem autônoma de emergência. Nota: 6
Custo X Benefício: no cenário atual, o Dolphin Mini é um dos elétricos mais baratos do mercado brasileiro e seu conjunto é bastante interessante em vista do preço de tabela - não é à toa que tem vendido tanto. Ele só não é adequado aos que precisam de um porta-malas decente, costumam trafegar por pisos acidentados e/ou pegar a estrada; nesse caso, é melhor partir para algum concorrente ou colocar mais dinheiro para pegar um Dolphin tradicional. Se, por outro lado, seu uso for majoritariamente urbano e você quer experimentar a eletrificação total em sua vida sobre rodas, o Dolphin Mini é um dos ingressos mais acessíveis e nem chega a ser excessivamente básico para conseguir isso. Nota: 6
Avaliação final: 68/100
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Lanternas trazem LEDs para as luzes de posição, freio e ré, interligando-se por toda a traseira. Há luz traseira de neblina na parte inferior do para-choque. |
Considerações finais
Sete dias e mais de 900 quilômetros depois, não é difícil entender o sucesso do Dolphin Mini. A BYD conseguiu criar um produto interessante a um valor competitivo que, inclusive, serviu para sacudir a concorrência - é sempre bom lembrar que, depois de seu lançamento, modelos como o Renault e-Kwid, um de seus principais concorrentes, despencaram de preço. Quando avaliamos o subcompacto francês no começo de 2023, seu valor de tabela era de R$146.990 e hoje sai por R$99.990.
É verdade que a estratégia de lançamento do modelo foi altamente questionável e rendeu críticas negativas de nossa parte, todavia, o produto em si se mostrou bem pensado e equilibrado com poucos pontos que merecem acerto - e que podiam ter sido vistos antes da chegada da linha 2026. No final das contas, o fato é que o Dolphin Mini já fez por merecer seu lugar na história graças a todo o barulho que causou e ainda causa todos os meses, sustentando sua medalha de ouro entre os elétricos mais vendidos.
Motor: um motor elétrico no eixo dianteiro
Potência máxima: 75cv
Torque máximo: 13,7kgfm
Bateria: 38kWh
Autonomia: 280km (PBEV/Inmetro)
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrca
Pneus: 175/55 R16
Pneus: 175/55 R16
Comprimento: 3,78m
Largura: 1,71m
Entre-eixos: 2,50m
Largura: 1,71m
Entre-eixos: 2,50m
Altura: 1,58m
Peso: 1.239kg
Porta-malas: 230l
Porta-malas: 230l
0 a 100km/h: 14,9 segundos
Velocidade máxima: 130km/h (limitada eletronicamente)
Fotos (clique para ampliar):