Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil
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Nosso exemplar veio na cor Cinza Strato com detalhes vermelhos, disponível por R$1.490. |
Errar é humano e às vezes pode ser maravilhoso. Digo isso porque foi na reta final de 2021 que escrevi um artigo onde colocava alguns pontos que me faziam duvidar dos rumores sobre a existência de um Pulse com pegada legitimamente esportiva, sob a grife Abarth. Eram apenas opiniões, pois a indústria automotiva é extremamente dinâmica e as coisas podem mudar em um piscar de olhos: o que seria de um jeito, de repente pode ser de outro e o que jamais aconteceria, do nada, pode vir a acontecer. Nunca é sábio afirmar com veemência que algo será feito ou não até que o fabricante se pronuncie oficial e publicamente a respeito.
Pois bem. Felizmente eu errei nos meus palpites e o nosso teste da vez é com o belo produto desse erro: o Pulse Abarth, a surpreendente versão esportiva do primeiro SUV compacto da marca italiana no Brasil. Passamos 10 dias com a novidade que atualmente custa a partir de R$149.990 e se posiciona no topo da pirâmide da linha do Pulse, lembrando que já testamos as versões Impetus e Drive com motor 1.3 aspirado e câmbio CVT. A variante apimentada foi lançada no Brasil em novembro de 2022 e é apenas a primeira, pois a Fiat já confirmou que teremos outros produtos da grife de alta performance em um futuro próximo.
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Visual do Pulse Abarth é mais robusto e "carregado" do que nas demais versões.. |
Barba, cabelo e bigode
O Pulse Abarth é o primeiro SUV da história da grife e foi desenvolvido no Brasil com o aval italiano. Diferente do Fastback Limited Edition que testamos há uns meses e oferece um mero aperitivo, o Pulse Abarth foi trabalhado pela divisão em todos os aspectos. Começa pelo visual que abre mão de quaisquer menções sobre a Fiat - os emblemas vão do brasão com o escorpião na grade dianteira e laterais até o escrito ABARTH em letras soltas na tampa do porta-malas. O para-choque dianteiro e os faróis, por sua vez, vieram do Fastback enquanto os apliques nos para-lamas e o para-choque traseiro são exclusivos do esportivo.
Ainda nas laterais, adesivos decorativos com o nome ABARTH vazado relembram o finado 500 Abarth e mudam de cor dependendo da tonalidade escolhida para a carroceria. Na mecânica, o escape foi pensado para fazer o Pulse esportivo roncar diferente de todos os demais carros equipados com esse motor, além da suspensão que ficou 13% mais rígida com nova geometria e barra estabilizadora na dianteira, molas e amortecedores mais firmes, além de um novo eixo traseiro mais resistente a torções, tudo sem mexer na altura da carroceria em relação ao solo.
Por fim, a cabine traz diferentes detalhes em vermelho como o friso horizontal que corta as saídas de ar e as costuras dos bancos, coifa do câmbio e volante. Há ainda discretas etiquetas com o escorpião e o nome ABARTH por diversos cantos, além de uma plaqueta ao lado direito do painel e animações exclusivas para o painel de instrumentos e a central multimídia para finalizar o tratamento visual que diferencia o esportivo dos irmãos convencionais, bem como o cluster com grafia única da versão.
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Conjunto mecânico do Pulse Abarth é o mesmo dos principais modelos da Jeep no Brasil atualmente. |
O veneno do veneno
O Pulse Abarth é o único da família do SUV compacto a receber o motor 1.3 "Turbo 270" da linha GSE, capaz de gerar até 185cv e 27,5kgfm, sendo controlado por uma caixa automática de seis marchas. Isso por si só já faria do Pulse um belo foguete, porém, o tratamento da Abarth confere uma calibragem própria do bloco turbinado para favorecer a performance em detrimento do consumo de combustível; ainda assim, utilizando apenas gasolina, nossa média geral de consumo foi de 13,1km/l em percurso misto e ar condicionado ligado na maior parte do tempo.
Pesando 1.281kg, 44 quilos a mais do que a versão Impetus e 23kg a menos do que o Fastback Limited Edition, o Pulse Abarth é o modelo brasileiro mais leve da Stellantis a receber o 1.3 turbo debaixo do capô e, como você bem sabe, leveza é sinônimo de performance e diversão. Ele pode ir de 0 a 100km/h em pouco mais de 7 segundos e atinge velocidade máxima de 215km/h, configurando-se como um dos SUVs compactos mais rápidos do Brasil atualmente, batendo de frente com o Citroën C4 Cactus turbinado cujo motor 1.6 turbo gera menos potência e torque, mas em contrapartida, movimenta menos massa.
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Cabine do Pulse Abarth é decorada por diferentes detalhes em vermelho, além de referências ao escorpião da divisão esportiva. |
Escorpião rei
Custando atuais R$149.990, o Pulse Abarth está no topo do portfólio do SUV italiano, sendo 18 mil reais mais caro do que o Impetus, top de linha entre as versões comuns; comparado ao Fastback, custa 2 mil reais a mais do que o Impetus e 11 mil reais a menos do que o Limited Edition. Sem opcionais, a lista de equipamentos do Pulse Abarth inclui: quatro airbags, faróis Full LED, cluster digital de instrumentos com tela de 7 polegadas e grafismos exclusivos, central multimídia com tela de 10,1 polegadas e espelhamento sem fio para smartphones, faróis de neblina em LED, bancos em couro com costura vermelha, entre todos os outros disponíveis para a versão Impetus.
Também há um conjunto de assistências de segurança que inclui: frenagem autônoma de emergência, farol alto automático e assistente de permanência em faixa com correção ativa de direção. O Abarth ainda traz alguns itens emprestados do Fastback como os faróis com setas em LED, conjugadas na barra superior de luz diurna/de posição, e o console central elevado com freio de estacionamento eletrônico, acionado via botão, junto do auto hold que mantém o carro parado sem a necessidade do pé no freio, mesmo com o câmbio em D.
Rodamos mais de 900km com o Pulse Abarth e, antes de falarmos do convívio diário, acho interessante iniciar a abordagem pelo primeiro contato ao vivo com o esportivo, o que me fez desfazer determinadas impressões de quando o vi pelas fotos de divulgação. Para começo de conversa, o Pulse Abarth é claramente mais robusto e encorpado do que os demais - isso se deve aos pneus mais largos que só ele usa, de 215mm, e às bitolas mais largas que exigiram um leve acréscimo de volume aos apliques plásticos dos para-lamas. Além disso, o para-choque dianteiro vindo do Fastback é, na nossa opinião, muito mais bonito do que a peça original do Pulse. Em suma, o Abarth consegue passar uma sensação diferente logo no visual e isso sempre é interessante quando falamos de carros com a proposta de entregar diversão ao volante.
Dada a partida, o ronco do 1.3 turbo também chama atenção: é bem grave e mais alto do que em um Toro ou Renegade, por exemplo, o que ajuda na imersão da experiência que o italiano apimentado deseja entregar. Na saída, é preciso dosar o pé no pedal do acelerador, pois o Pulse Abarth é "nervosinho" mesmo no modo normal de condução, embora, seu comportamento geral ainda seja bem melhor do que no Impetus que testamos no ano passado. Já a transmissão apresenta o mesmo bom comportamento que experimentamos no Fastback Limited Edition, sem segurar marchas sem necessidade como nos modelos da Jeep; com o pé suave no acelerador, as trocas ocorrem entre 1.800 e 2.500rpm. Apesar disso, é preciso lembrar que estamos em um carro esportivo e, portanto, qualquer reação mais animada desperta o italiano e transforma seu comportamento.
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Mesmo sem o modo POISON ativado, painel pode mostrar gráfico de Força G, pressão da turbina e porcentagem de entrega de potência. |
Não é necessário recorrer ao pequeno botão vermelho no volante para ver do que o Pulse Abarth é capaz, mas caso queira fazê-lo, basta pressionar o "POISON" (veneno em inglês) para ativar o modo esportivo; o painel de instrumentos adota um fundo avermelhado com a graduação das rotações por minuto (RPM) mais precisa e, além disso, a sensibilidade do pedal do acelerador aumenta consideravelmente enquanto a interferência dos controles de tração e estabilidade na direção é menor. Resumindo, o carro fica bem mais solto e pronto para a briga, respondendo com mais rapidez ao acelerador e esticando mais as marchas - que podem ser trocadas manualmente pelos paddle-shifters ou na própria alavanca. A sensibilidade do pedal aumenta tanto que alguns juram haver um "aumento de potência" quando, na verdade, são só as respostas mais imediatas do carro.
Paralelo a isso, o Abarth também se mostra um carro agradável para o dia-a-dia através do ótimo comportamento da suspensão, oferecendo o equilíbrio correto entre firmeza e conforto; firmeza para os momentos onde se exige mais dele, garantida por bitolas e pneus mais largos, e conforto conferido pelos pneus de bom volume para suportar o asfalto lunar do Brasil e a altura inalterada da suspensão, o que não deixa o SUV nervosinho raspar nos típicos obstáculos urbanos como rampas, calçadas e coisas afins. As acomodações são boas graças aos bancos confortáveis, porém, o espaço é a conta exata, sem folgas ou possibilidade de esticar as pernas dos passageiros; nesse ponto, o console central elevado vindo do Fastback atrapalha e deixa a cabine ainda mais justa.
Design: enquanto o visual carregado do Pulse não fica tão harmonioso nas versões comuns, aqui, caiu como uma luva. Os adesivos laterais e detalhes em vermelho dividem opiniões, entretanto, o Abarth agradou de modo geral e atraiu olhares nas ruas, algo que proprietários de esportivos também gostam de causar. Nota: 9
Interior: a análise aqui é muito parecida com a abordagem sobre a cabine do Pulse Impetus. A diferença é que daremos um ponto a mais por toda a decoração exclusiva do Abarth que deixou o ambiente mais interessante, mas longe de ser infalível. Mais uma vez, os desalinhamentos de peças agridem aos olhos dos mais detalhistas - como nós. Nota: 7
Mecânica: se o 1.3 turbo já leva carros maiores e mais pesados com eficiência, imagine-o encarregado de mover o "corpinho" do Pulse Abarth. É uma pena que nem mesmo a versão verdadeiramente esportiva tenha recebido os freios a disco nas quatro rodas - adotou discos dianteiros mais robustos e só. Vamos tirar dois pontos por isso. Nota: 8
Tecnologia: a lista de equipamentos do Pulse Abarth é a mesmíssima do Fastback Limited Edition - para o bem e para o mal, excetuando-se apenas pela ausência do start-stop. Mesma coisa, mesma pontuação. Nota: 8
Conveniência: novamente, daremos a mesma nota do Fastback Limited Edition por ser a mesma coisa nesse tópico. Nota: 9
Acomodações: aqui, a nota seria a mesma do Pulse Impetus, porém, há a grata surpresa das saídas traseiras de ar condicionado que, até o momento, são exclusividade dessa versão do pequeno utilitário. Nota: 6
Funcionalidades: mais uma vez, a nota será a mesma do Fastback Limited Edition, mas isso se mostra algo positivo no Pulse, pois significa que a Fiat tem buscado corrigir as falhas do SUV compacto. Nota: 9
Desempenho: o Pulse Abarth é "o cão chupando manga". Anda muito e está sempre pronto para a briga, além de transmitir muita confiança no rodar e segurança para se fazer tudo - chega ao ponto de não passar a sensação da velocidade real a que se está viajando, podendo render multas caso o condutor não esteja atento ao painel de instrumentos. Freios e suspensão também cumprem seus papéis com eficiência, apesar de não serem os mais modernos. Nota: 10
Segurança: seguimos com a incógnita de sempre, aguardando que o Latin NCAP, enfim, avalie o Pulse para sabermos mais sobre sua qualidade estrutural. Os recursos de segurança estão presentes em massa e isso é bom, entretanto, eles não podem fazer milagres sem uma carroceria adequada. Nota: 5
Custo X Benefício: custando na faixa dos 150 mil reais, o Pulse Abarth é o único SUV compacto do mercado com proposta verdadeiramente esportiva e isso, por si só, já é o seu grande diferencial. Seu desempenho supera a grande maioria dos rivais e se equipara a alguns poucos outros, o que também pode ser dito de seu pacote tecnológico que traz tudo o que um veículo desse preço pede atualmente. O grande problema do esportivo é o dos demais Pulse: na prática, mal pode ser chamado de SUV. Embora seja "altinho", o espaço interno e o porta-malas são bastante limitados, dignos de hatchback, o que nos leva ao veredito - é uma compra excelente para quem busca um esportivo relativamente acessível, contudo, não é a melhor opção para quem quer um SUV. Nota: 8
Avaliação final: 79/100
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Na traseira, ponteira funcional de escape contrasta com os "extratores fake" de ar no para-choque, presentes unicamente pelo estilo. |
Considerações finais
A Stellantis tem estado de olhos bem abertos nas variadas oportunidades que o mercado automotivo brasileiro oferece e tem buscado explorar quase todas. Dessa vez, o grupo viu que havia espaço para um SUV compacto de pegada esportiva e não pensou duas vezes antes de preencher essa lacuna, aproveitando o prestígio de sua grife de alta performance para unir o útil ao agradável. O Pulse Abarth chegou para atender aos anseios dos que, enjoados da mesmice, buscam uma desculpa interessante para se rebelar e sair um pouco da rotina.
Entretanto, apesar de suas qualidades, prefira encará-lo como um pequeno esportivo em forma de SUV do que como um SUV com pegada esportiva; isso porque, como utilitário, o compacto italiano deixa a desejar e evidencia as fraquezas que o Pulse padrão já apresenta desde o lançamento. Olhando apenas para o lado Abarth e o esforço da Fiat em fazer um carro genuinamente divertido e com personalidade própria, é possível passar por cima dos contras e apreciar as benesses do brinquedinho envenenado sem qualquer moderação - que é, exatamente, o que ele pede.
O modelo avaliado não possui concorrentes na categoria SUV compacto esportivo.
Concorrentes indiretos (entre 140 e 160 mil reais): Honda HR-V EX ou EXL, Nissan Kicks Exclusive, Hyundai Creta Limited ou Platinum, Chevrolet Tracker LTZ ou Premier 1.0 turbo, Renault Captur Zen, Intense ou Iconic, Volkswagen Nivus Highline, Renault Duster Iconic TCe, Volkswagen T-Cross Comfortline, Jeep Renegade Longitude, Citroën C4 Cactus Shine Pack THP, Toyota Corolla Cross XR
Motor: 1.3 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 185cv (E) / 180cv (G) a 5.750rpm
Torque: 27,5kgfm (E/G) a 1.750rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/50 R17
Comprimento: 4,11m
Largura: 1,77m
Entre-eixos: 2,53m
Altura: 1,54m
Peso: 1.281kg
Porta-malas: 320l (medida real aproximada)
Potência: 185cv (E) / 180cv (G) a 5.750rpm
Torque: 27,5kgfm (E/G) a 1.750rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/50 R17
Comprimento: 4,11m
Largura: 1,77m
Entre-eixos: 2,53m
Altura: 1,54m
Peso: 1.281kg
Porta-malas: 320l (medida real aproximada)
Tanque: 47l
0 a 100km/h: 7,5 segundos
Velocidade máxima: 215km/h
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