sábado, 20 de maio de 2023

2023 Fiat Pulse Abarth 1.3 AT6; aprecie sem moderação

Em um movimento inusitado e bem pensado, Stellantis resgata a Abarth no Brasil com versão esportiva do Pulse. Testamos o brinquedo por mais de 900km.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Nosso exemplar veio na cor Cinza Strato com detalhes vermelhos, disponível por R$1.490.

Errar é humano e, às vezes, pode ser maravilhoso. Digo isso porque foi na reta final de 2021 que escrevi um artigo onde colocava alguns pontos que me faziam duvidar dos rumores sobre a existência de um Pulse com pegada legitimamente esportiva, sob a grife Abarth. Eram apenas opiniões, pois a indústria automotiva é extremamente dinâmica e as coisas podem mudar em um piscar de olhos: o que seria de um jeito, de repente, pode ser de outro e o que jamais aconteceria, do nada, pode vir a acontecer. Nunca é sábio afirmar que algo será feito ou não, até que o fabricante se pronuncie oficial e publicamente a respeito.

Pois bem. Felizmente, eu errei nos meus palpites e o nosso teste da vez é com o delicioso fruto desse erro: Pulse Abarth, a surpreendente versão esportiva do primeiro SUV compacto da marca italiana no Brasil. Passamos 10 dias com a novidade que, atualmente, custa a partir de R$149.990 e se posiciona no topo da pirâmide da linha do Pulse, lembrando que já testamos as versões Impetus e Drive com motor 1.3 aspirado e câmbio CVT. A variante apimentada foi lançada no Brasil em Novembro de 2022 e é apenas a primeira, pois a Fiat já confirmou que teremos outros produtos da grife de alta performance em um futuro próximo.

Visual do Pulse Abarth é mais robusto e "carregado" do que nas demais versões..

Barba, cabelo e bigode

O Pulse Abarth é o primeiro SUV da história da grife e foi desenvolvido no Brasil com o aval italiano. Diferentemente do Fastback Limited Edition que testamos há uns meses e oferece um mero aperitivo, o Pulse Abarth foi trabalhado pela divisão em todos os aspectos. Começa pelo visual que abre mão de quaisquer menções sobre a Fiat - os emblemas vão do brasão com o escorpião na grade dianteira e laterais até o escrito ABARTH em letras soltas na tampa do porta-malas. O para-choque dianteiro e os faróis vieram do Fastback, enquanto que os apliques nos para-lamas e o para-choque traseiro são exclusivos do esportivo.

Também nas laterais, adesivos decorativos com o nome ABARTH vazado relembram o finado 500 Abarth e mudam de cor dependendo da tonalidade escolhida para a carroceria. Na mecânica, o escape foi pensado para fazer o Pulse esportivo roncar diferente de todos os demais carros equipados com esse motor, além da suspensão que ficou 13% mais rígida com nova geometria e barra estabilizadora na dianteira, molas e amortecedores mais firmes, além de um novo eixo traseiro mais resistente a torções, tudo sem mexer na altura da carroceria em relação ao solo.

Por fim, internamente, detalhes em vermelho decoram o painel em um friso horizontal que corta as saídas de ar e as costuras dos bancos, coifa do câmbio e volante. Discretas etiquetas com o escorpião e o nome ABARTH, além de uma plaqueta ao lado direito do painel e animações exclusivas para o painel de instrumentos e a central multimídia finalizam o tratamento visual que diferencia o esportivo dos irmãos convencionais, bem como o cluster com grafia única da versão.

Conjunto mecânico do Pulse Abarth é o mesmo dos principais modelos da Jeep no Brasil atualmente.

O veneno do veneno

O Pulse Abarth é o único da família do SUV compacto a receber o motor 1.3 "Turbo 270" da linha GSE, capaz de gerar até 185cv e 27,5kgfm, sendo controlado por uma caixa automática de seis marchas. Isso, por si só, já faria do Pulse um belo foguete, porém, o tratamento da Abarth confere uma calibragem própria do bloco turbinado para favorecer a performance em detrimento do consumo de combustível; ainda assim, utilizando apenas gasolina, nossa média geral de consumo foi de 13,1km/l em percurso misto e ar condicionado ligado na maior parte do tempo.

Pesando 1.281kg, 44 quilos a mais do que a versão Impetus e 23kg a menos do que o Fastback Limited Edition, o Pulse Abarth é o modelo brasileiro mais leve da Stellantis a receber o 1.3 turbo debaixo do capô e, como você bem sabe, leveza é sinônimo de performance e diversão. Ele pode ir de 0 a 100km/h em pouco mais de 7 segundos e atinge velocidade máxima de 215km/h, configurando-se como um dos SUVs compactos mais rápidos do Brasil atualmente, batendo de frente com o Citroën C4 Cactus turbinado cujo motor 1.6 turbo gera menos potência e torque, mas, em contrapartida, movimenta menos massa.

Cabine do Pulse Abarth é decorada por diferentes detalhes em vermelho, além de referências ao escorpião da divisão esportiva.

Escorpião rei

Custando atuais R$149.990, o Pulse Abarth está no topo do portfólio do SUV italiano, sendo 18 mil reais mais caro do que o Impetus, top de linha entre as versões comuns; comparado ao Fastback, custa 2 mil reais a mais do que o Impetus e 11 mil reais a menos do que o Limited Edition. Sem opcionais, a lista de equipamentos do Pulse Abarth inclui: quatro airbags, faróis Full LED, cluster digital de instrumentos com tela de 7 polegadas e grafismos exclusivos, central multimídia com tela de 10,1 polegadas e espelhamento sem fio para smartphones, faróis de neblina em LED, bancos em couro com costura vermelha, entre todos os outros disponíveis para a versão Impetus.

Também há o conjunto de assistências de segurança que inclui: frenagem autônoma de emergência, farol alto automático e assistente de permanência em faixa com correção ativa de direção. O Abarth ainda traz alguns itens emprestados do Fastback como os faróis com setas em LED, conjugadas na barra superior de luz diurna/de posição, e o console central elevado com freio de estacionamento eletrônico, acionado via botão, junto do auto hold que mantém o carro parado sem a necessidade do pé no freio, mesmo com o câmbio em D.

Independentemente da cor da carroceria, o teto vem sempre em preto brilhante.

Briguento!

Rodamos mais de 900km com o Pulse Abarth e, antes de falarmos do convívio diário, acho interessante iniciar a abordagem pelo primeiro contato ao vivo com o esportivo, o que me fez desfazer determinadas impressões de quando o vi pelas fotos de divulgação. Para começo de conversa, o Pulse Abarth é claramente mais robusto e encorpado do que os demais - isso se deve aos pneus mais largos que só ele usa, de 215mm, e às bitolas mais largas que exigiram um leve acréscimo de volume aos apliques plásticos dos para-lamas. Além disso, o para-choque dianteiro vindo do Fastback é, na nossa opinião, muito mais bonito do que a peça original do Pulse. Em suma, o Abarth consegue passar uma sensação diferente logo no visual e isso sempre é interessante quando falamos de carros com a proposta de entregar diversão ao volante.

Dada a partida, o ronco do 1.3 turbo também chama atenção: é bem grave e mais alto do que em um Toro ou Renegade, por exemplo, o que ajuda na imersão da experiência que o italiano apimentado deseja entregar. Na saída, é preciso dosar o pé no pedal do acelerador, pois o Pulse Abarth é "nervosinho" mesmo no modo normal de condução, embora, seu comportamento geral ainda seja bem melhor do que no Impetus que testamos no ano passado. Já a transmissão apresenta o mesmo bom comportamento que experimentamos no Fastback Limited Edition, sem segurar marchas sem necessidade como nos modelos da Jeep; com o pé suave no acelerador, as trocas ocorrem entre 1.800 e 2.500rpm. Apesar disso, é preciso lembrar que estamos em um carro esportivo e, portanto, qualquer reação mais animada desperta o italiano e transforma seu comportamento.

Mesmo sem o modo POISON ativado, painel pode mostrar gráfico de Força G, pressão da turbina e porcentagem de entrega de potência.

Não é necessário recorrer ao pequeno botão vermelho no volante para ver do que o Pulse Abarth é capaz, mas caso queira fazê-lo, basta pressionar o "POISON" (veneno em inglês) para ativar o modo esportivo; o painel de instrumentos adota um fundo avermelhado com a graduação das rotações por minuto (RPM) mais precisa e, além disso, a sensibilidade do pedal do acelerador aumenta consideravelmente, enquanto que a interferência dos controles de tração e estabilidade na direção é menor. Resumindo, o carro fica bem mais solto e pronto para a briga, respondendo com mais rapidez ao acelerador e esticando mais as marchas - que podem ser trocadas manualmente pelos paddle-shifters ou na própria alavanca. A sensibilidade do pedal aumenta tanto que alguns juram haver um "aumento de potência" quando, na verdade, são só as respostas mais imediatas do carro.

Paralelo a isso, o Abarth também se mostra um carro agradável para o dia-a-dia através do ótimo comportamento da suspensão, oferecendo o equilíbrio correto entre firmeza e conforto; firmeza para os momentos onde se exige mais dele, garantida por bitolas e pneus mais largos, e conforto conferido pelos pneus de bom volume para suportar o asfalto lunar do Brasil e a altura inalterada da suspensão, o que não deixa o SUV nervosinho raspar nos típicos obstáculos urbanos como rampas, calçadas e coisas afins. As acomodações são boas graças aos bancos confortáveis, porém, o espaço é a conta exata, sem folgas ou possibilidade de esticar as pernas dos passageiros; nesse ponto, o console central elevado vindo do Fastback atrapalha e deixa a cabine ainda mais justa.

Pulse Abarth tem "cara" de Fastback para se diferenciar dos outros.

Avaliação geral

Design: enquanto o visual carregado do Pulse não fica tão harmonioso nas versões comuns, aqui, caiu como uma luva. Os adesivos laterais e detalhes em vermelho dividem opiniões, entretanto, o Abarth agradou de modo geral e atraiu olhares nas ruas, algo que proprietários de esportivos também gostam de causar. Nota: 9

Interior: a análise aqui é muito parecida com a abordagem sobre a cabine do Pulse Impetus. A diferença é que daremos um ponto a mais por toda a decoração exclusiva do Abarth que deixou o ambiente mais interessante, mas longe de ser infalível. Mais uma vez, os desalinhamentos de peças agridem aos olhos dos mais detalhistas - como nós. Nota: 7

Mecânica: se o 1.3 turbo já leva carros maiores e mais pesados com eficiência, imagine-o encarregado de mover o "corpinho" do Pulse Abarth. É uma pena que nem mesmo a versão verdadeiramente esportiva tenha recebido os freios a disco nas quatro rodas - adotou discos dianteiros mais robustos e só. Vamos tirar dois pontos por isso. Nota: 8

Tecnologia: a lista de equipamentos do Pulse Abarth é a mesmíssima do Fastback Limited Edition - para o bem e para o mal, excetuando-se apenas pela ausência do start-stop. Mesma coisa, mesma pontuação. Nota: 8

Conveniência: novamente, daremos a mesma nota do Fastback Limited Edition por ser a mesma coisa nesse tópico. Nota: 9

Acomodações: aqui, a nota seria a mesma do Pulse Impetus, porém, há a grata surpresa das saídas traseiras de ar condicionado que, até o momento, são exclusividade dessa versão do pequeno utilitário. Nota: 6

Funcionalidades: mais uma vez, a nota será a mesma do Fastback Limited Edition, mas isso se mostra algo positivo no Pulse, pois significa que a Fiat tem buscado corrigir as falhas do SUV compacto. Nota: 9

Desempenho: o Pulse Abarth é "o cão chupando manga". Anda muito e está sempre pronto para a briga, além de transmitir muita confiança no rodar e segurança para se fazer tudo - chega ao ponto de não passar a sensação da velocidade real a que se está viajando, podendo render multas caso o condutor não esteja atento ao painel de instrumentos. Freios e suspensão também cumprem seus papéis com eficiência, apesar de não serem os mais modernos. Nota: 10

Segurança: seguimos com a incógnita de sempre, aguardando que o Latin NCAP, enfim, avalie o Pulse para sabermos mais sobre sua qualidade estrutural. Os recursos de segurança estão presentes em massa e isso é bom, entretanto, eles não podem fazer milagres sem uma carroceria adequada. Nota: 5

Custo X Benefício: custando na faixa dos 150 mil reais, o Pulse Abarth é o único SUV compacto do mercado com proposta verdadeiramente esportiva e isso, por si só, já é o seu grande diferencial. Seu desempenho supera a grande maioria dos rivais e se equipara a alguns poucos outros, o que também pode ser dito de seu pacote tecnológico que traz tudo o que um veículo desse preço pede atualmente. O grande problema do esportivo é o dos demais Pulse: na prática, mal pode ser chamado de SUV. Embora seja "altinho", o espaço interno e o porta-malas são bastante limitados, dignos de hatchback, o que nos leva ao veredito - é uma compra excelente para quem busca um esportivo relativamente acessível, contudo, não é a melhor opção para quem quer um SUV. Nota: 8

Avaliação final: 79/100

Na traseira, ponteira funcional de escape contrasta com os "extratores fake" de ar no para-choque, presentes unicamente pelo estilo.

Considerações finais

A Stellantis tem estado de olhos bem abertos nas variadas oportunidades que o mercado automotivo brasileiro oferece e tem buscado explorar quase todas. Dessa vez, o grupo viu que havia espaço para um SUV compacto de pegada esportiva e não pensou duas vezes antes de preencher essa lacuna, aproveitando o prestígio de sua grife de alta performance para unir o útil ao agradável. O Pulse Abarth chegou para atender aos anseios dos que, enjoados da mesmice, buscam uma desculpa interessante para se rebelar e sair um pouco da rotina.

Entretanto, apesar de suas qualidades, prefira encará-lo como um pequeno esportivo em forma de SUV do que como um SUV com pegada esportiva; isso porque, como utilitário, o compacto italiano deixa a desejar e evidencia as fraquezas que o Pulse padrão já apresenta desde o lançamento. Olhando apenas para o lado Abarth e o esforço da Fiat em fazer um carro genuinamente divertido e com personalidade própria, é possível passar por cima dos contras e apreciar as benesses do brinquedinho envenenado sem qualquer moderação - que é, exatamente, o que ele pede.


O modelo avaliado não possui concorrentes na categoria SUV compacto esportivo.

Concorrentes indiretos (entre 140 e 160 mil reais): Honda HR-V EX ou EXL, Nissan Kicks Exclusive, Hyundai Creta Limited ou Platinum, Chevrolet Tracker LTZ ou Premier 1.0 turbo, Renault Captur Zen, Intense ou Iconic, Volkswagen Nivus Highline, Renault Duster Iconic TCe, Volkswagen T-Cross Comfortline, Jeep Renegade Longitude, Citroën C4 Cactus Shine Pack THP, Toyota Corolla Cross XR


Ficha técnica

Motor: 1.3 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 185cv (E) / 180cv (G) a 5.750rpm
Torque: 27,5kgfm (E/G) a 1.750rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/50 R17
Comprimento: 4,11m
Largura: 1,77m
Entre-eixos: 2,53m
Altura: 1,54m
Peso: 1.281kg
Porta-malas: 320l (medida real aproximada)
Tanque: 47l

0 a 100km/h: 7,5 segundos
Velocidade máxima: 215km/h


Matéria em vídeo



Fotos (clique para ampliar):