terça-feira, 2 de maio de 2023

Testamos: como picape, o Ford Maverick é um ótimo...esportivo!?

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)

Nosso segundo Maverick veio na exótica cor Azul Malacara, disponível sem custo como as demais.

Avaliar um carro por uma única vez é normal. Por duas vezes, começa a ser um pouco incomum, mas ainda está dentro da normalidade. Três vezes já é bem raro, entretanto, acaba acontecendo por questões de atualizações que o fabricante promove naquele modelo, o que demanda uma nova oportunidade de conferir como as mudanças impactaram no convívio com aquele veículo. O que dizer, então, de uma segunda avaliação de um mesmíssimo carro - mudando apenas a cor? Mesma versão, equipamentos, mecânica, tudo.

Faz quase um ano desde que tivemos nosso primeiro contato presencial com o inédito Ford Maverick que é, atualmente, um dos produtos mais baratos da marca no Brasil e é oferecido em versão única - o que mudará em breve, pois a montadora já prepara o lançamento da versão híbrida. Na ocasião, rodamos 650km ao longo dos sete dias que ficamos com o utilitário para atestar suas qualidades e defeitos; dessa vez, aproveitamos o segundo contato para focar no que, ao nosso ver, deveria ser o grande apelo comercial da picape no país.

A caçamba é ótima para quem precisa de algo além de um porta-malas, mas não abuse do peso.

O diferentão da turma

O Maverick foi lançado no Brasil em Fevereiro de 2022, porém, ainda é uma figurinha raríssima de se ver pelas ruas. Isso não se deve ao preço de R$244.890, bem menor que o das picapes médias e um pouco acima de um Fiat Toro, mas sim, por suas características; os pouco mais de 600kg de capacidade máxima de carga ficam na mesma faixa de um Strada, que é bem menor e mais barato, enquanto que a capacidade de reboque de 500kg fica abaixo do que o entusiasta de carros americanos está acostumado.

Além disso, o Maverick parece ser enorme por fotos, mas é deveras "baixinho" na vida real: os 1,73m de altura são os mesmos do rival italiano, contudo, o comprimento de 5,07m é maior. Ou seja: em uma comparação direta, o Maverick custa mais do que um Toro com motor turbodiesel, porém, não tem a mesma capacidade de carga, algo que o comprador habitual de picapes costuma valorizar bastante. Desse modo, como a picape americana consegue se sobressair diante das demais?

Na DIVERSÃO.

O Maverick é, basicamente, um sedan médio com caçamba.

Para começar, o Maverick é oferecido em uma gama muito interessante de cores que vão dos exóticos Laranja Delhi, Vermelho Aurora ou Azul Atlas até os discretos Preto Astúrias, Branco Ártico ou Prata Orvalho, todas absolutamente sem custo adicional. Seu conjunto mecânico traz o conhecido 2.0 EcoBoost, um quatro cilindros turbinado que só bebe gasolina e gera até 253cv e 38,7kgfm, aliado a uma caixa automática de oito marchas e sistema de tração integral sob demanda, do tipo AWD, tudo para garantir um 0 a 100km/h próximo dos 7 segundos, número excelente para uma picape.

Junte isso aos freios a disco nas quatro rodas, suspensão traseira independente, pneus de uso misto e, por fim, ao fato de ser um carro dificílimo de se ver parado ao seu lado no semáforo. Voilá: temos uma picape que possui um forte apelo esportivo e, de certa forma, exótico que pouquíssimas outras conseguem fazer parecido - tudo isso sem precisar custar meio milhão de reais. Enquanto todas as picapes do Brasil são oferecidas com foco em produtividade, o Maverick goza de um certo status que deveria ser explorado pela diversão que proporciona, ao mesmo tempo em que se mostra um ótimo veículo para o dia-a-dia.

Quase 1.000km percorridos ao longo dos sete dias com ele.

Esqueça o fora-de-estrada. Ele até consegue encarar terrenos difíceis, apesar de ser baixo para uma picape, mas é no asfalto que o Maverick se sente em casa. O bicho gosta de estradas e as devora com muito gosto, entregando um comportamento dinâmico que ninguém espera de uma carroceria desse tipo - o que nos faz perguntar, mais uma vez, o porquê de a Ford não ter voltado seu marketing a esses atributos. 

É claro que não é perfeito. Lembrei como a ausência dos paddle-shifters (que sempre uso em meus carros) é desagradável, especialmente em um carro tão gostoso de dirigir, além da falta inexplicável de míseros sensores traseiros de estacionamento em um "corpitcho" de mais de 5 metros de comprimento - a câmera ajuda, mas os sensores deveriam estar junto.

Já a pobreza do retrovisor com chavinha dia/noite, admito, não me faz sentir falta do sistema fotocrômico, uma vez que o motorista brasileiro passou a achar que pode usar farol alto indiscriminadamente, mesmo de dia, incomodando a tudo e a todos com sua ausência de noção. Se algum desses aparece no retrovisor, é só ir ali e abaixar o pequeno seletor, escurecendo o espelho e me livrando do incômodo - o que não ocorre nos fotocrômicos que só funcionam de noite.

Para fechar o segundo contato com chave de ouro - literalmente.

Da pequena janela no vidro traseiro que faz o ar circular muito melhor pela cabine aos pescoços que viram por onde se passa, o segundo contato com o Maverick me fez lembrar de como a menor picape da Ford consegue agradar pelos detalhes e, de lambuja, ser um ótimo esportivo, dentro das limitações possíveis e do fato de deixar a desejar como utilitário.

Mas é aquilo: como eu disse, todo mundo vende picapes no Brasil com esse apelo desde sempre. Boa de barro, aguenta tudo, 15 toneladas na caçamba... Ok, picapes nasceram para o trabalho, contudo, a história automotiva já mostrou que mesmo essas carrocerias podem render veículos puramente voltados ao prazer de dirigir. E esse, sem sombra de dúvida, é um deles.