sábado, 6 de agosto de 2022

2022 Fiat Strada Volcano 1.3 CVT; o multitarefa moderno

A linha 2022 da picape trouxe o esperado câmbio automático como principal novidade, além de outras mudanças menores. Testamos por uma semana no nosso uso padrão.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Nossa unidade de teste veio na cor Cinza Silverstone que custa R$2.290 à parte.

Faz pouco tempo que a linha 2023 da nova geração do Fiat Strada foi apresentada, trazendo novidades mínimas em tecnologia e acabamento, contudo, foi a linha 2022 que recebeu o recurso que, talvez, fosse o mais aguardado na picape desde o seu lançamento: o câmbio automático. Oferecida nas versões Volcano e na inédita Ranch que também estreou na linha passada, a nova transmissão chegou para deixar a picape mais competitiva e a Stellantis nos cedeu um exemplar da configuração Volcano para conferir como a picape se comporta com a nova caixa. Atualmente, seu preço é tabelado em R$120.990.

Emblema "AT" na traseira é a única mudança visual.

O que mudou?

Na linha 2022, a versão Volcano manteve a opção de câmbio manual de cinco marchas, mas, recebeu a nova opção do câmbio automático tipo CVT que estreou no Pulse e também se encontra no Cronos 2023, além de uma leve melhora no acabamento interno com nova moldura em preto brilhante no console central e, por fim, carregador de smartphones por indução. As rodas aro 16 com acabamento diamantado e pneus de uso 100% asfalto, antes oferecidas como opcionais, passaram a vir de série em substituição às antigas rodas de 15 polegadas com pneus de uso misto.

Mecanicamente, o 1.3 aspirado da família GSE/Firefly foi recalibrado para atender as novas normas L7 do Proconve, passando a gerar até 107cv e 13,7kgfm de potência e torque máximos com etanol - são 2cv e 0,4kgfm a menos em relação aos 1.3 feitos antes das mudanças obrigatórias. No mais, o Strada de segunda geração segue o mesmo de sempre, trazendo freios a disco somente na dianteira e suspensão traseira por eixo de torção com feixe semielíptico no lugar das tradicionais molas helicoidais.

No detalhe, a alavanca da nova transmissão e o carregador de smartphones por indução.

Seja bem-vindo, novato!

Antes de falarmos mais sobre o Strada Volcano com câmbio automático, vale lembrar que já avaliamos a picape no último bimestre de 2020 nessa mesma versão, mas, com câmbio manual. Como não há outras diferenças significativas entre os anos/modelo, nossa avaliação será focada em como o utilitário se comporta no uso diário com a nova transmissão.

Rodamos pouco mais de 500km ao longo dos sete dias em que ficamos com a picape, o que nos permitiu fazer alguns paralelos com a unidade do primeiro ano/modelo que testamos em 2020 e, assim, aferir as alterações que a Fiat realizou para deixar o produto mais competitivo. De cara, notamos o sumiço da ligeira "quicada" que a picape fazia na traseira quando roda sem carga; como não relataram nenhuma mudança na suspensão, pode ser que os 41kg extras da versão automática em relação a manual sejam os responsáveis.

Antes opcionais, rodas de 16 polegadas agora são de série.

Assim como no Pulse que avaliamos em Maio, o Strada se move de maneira altamente tranquila e confortável com a nova transmissão. No uso urbano, ela mantém o motor sempre abaixo dos 2.000rpm e mostrou ter um bom relacionamento com o 1.3 aspirado, garantindo um desempenho dentro do esperado e um nível de consumo de combustível excelente: nossa média geral com gasolina no tanque foi de 16,5km/l.

Entretanto, algumas ressalvas não podem deixar de ser feitas: a capacidade de carga da Volcano automática é de 600kg ao invés dos 650kg da Volcano manual e, além disso, o motor 1.3 ainda não é o mais indicado para quem pretende utilizar toda essa capacidade disponível. São fortes os rumores de que a picape receberá, para a linha 2024, o 1.0 turbo que estreou no Pulse, tornando-se apta a cumprir as tarefas comerciais com a eficiência esperada.

Interior do novo Strada é simples e agradável.

No mais, gostamos de ver que alguns dos pontos destacados na avaliação com a Volcano manual foram revisados como, por exemplo, o acabamento interno que ficou um pouco mais bonito com as molduras em preto brilhante, embora continue muito pobre para um carro desse preço. O carregador de smartphones por indução foi uma ótima adição e o melhor: é inclinado, dando mais segurança e firmeza para o aparelho colocado ali não sair da posição. Por fim, o encosto do banco traseiro parece estar um pouco mais inclinado e, portanto, mais confortável para quem viaja ali.

Ao mesmo tempo, antigas queixas parecem ter sido ignoradas. Os faróis Full LED são excelentes, porém, deveriam ter recebido um controle elétrico de altura do facho para não ofuscar os demais motoristas quando a caçamba estiver cheia e a traseira do carro abaixar. Também sentimos falta do ajuste de profundidade do volante que continua oferecendo apenas o de altura e, por último, dos pneus de uso misto: poderiam ser oferecidos como opcionais junto das rodas de 16 polegadas.

Faróis principais em LED e faróis de neblina halógenos.

Avaliação geral

Design: sendo um derivado do Palio, o primeiro Strada trazia as mesmas linhas do compacto. Com a troca de geração e a despedida do hatch, o visual externo da picape passou a ser inspirado no Toro e a Fiat acertou em cheio nas linhas. O desenho ficou bastante harmonioso e é difícil encontrar quem não tenha gostado do resultado final. A versão Volcano faz ainda mais vista com os faróis em LED e as rodas aro 16. Nota: 10

Interior: enquanto o exterior mostrou bastante inspiração da parte de quem fez, a história foi totalmente oposta no interior. A cabine até consegue agradar com a iluminação toda branca dos comandos e o desenho inusitado do padrão dos bancos, mas, a inspiração geral veio claramente do Mobi quando podia, por exemplo, ter vindo do Argo ou até mesmo do Pulse. Ter um carro mais caro que lembra outro bem mais barato, principalmente na parte que é mais vista durante o uso do carro, não é a melhor das escolhas. Nota: 4

Mecânica: o 1.3 Firefly é um de nossos "queridinhos" quando se fala de motor e, embora não seja o mais moderno do momento, cumpre seu papel e ainda é estupidamente econômico. Seu casamento com a caixa CVT (essa sim, bastante atual) também ficou ótimo. A plataforma MPP é uma salada de componentes de arquiteturas variadas e resultou em um carro relativamente leve, o que é bom, mas, ainda não sabemos a qualidade da estrutura. A suspensão traseira por feixe semielíptico se comporta muito bem, porém, os freios mereciam discos nas quatro rodas. Nota: 7

Tecnologia: apesar de ficar abaixo da versão Ranch, a Volcano já traz todos os equipamentos que o Strada pode ter - a Ranch se diferencia apenas por detalhes estéticos. A lista de itens não é ruim, mas, peca na falta de alguns recursos que um carro de 120 mil reais deveria trazer. Retrovisor fotocrômico, por exemplo, seria ótimo. Nota: 8

Conveniência: há luzes de cortesia apenas na dianteira, quebra-sóis com espelho e sem luz própria, porta-revista somente no banco do passageiro, apoio de braço dianteiro, volante com ajuste apenas de altura e porta-objetos no console central e nas portas. São três portas USB ao todo, sendo duas na dianteira (uma do tipo C) e uma na traseira. O santo-antônio com base para rack de teto é de série, assim como a capota de lona e o protetor plástico em toda a caçamba - que conta com iluminação própria para ela. Na caçamba ficou muito bom, mas, a cabine poderia ser melhor. Nota: 7

Acomodações: os bancos são confortáveis, entretanto, o espaço é limitado, principalmente na traseira. Só leve quatro adultos em passeios curtos. Já a caçamba comporta 844 litros. Nota: 6

Funcionalidades: tudo funcionou perfeitamente o tempo inteiro, sem travamentos ou bugs, como tem que ser. Nota: 10

Desempenho: o 1.3 aspirado não esbanja desempenho, mas, dá conta do recado no uso cotidiano; no trabalho pesado, não é o mais indicado. A suspensão cumpre seu papel com maestria, absorvendo todos os defeitos da pista sem batidas secas ou barulhos. É um carro gostoso de dirigir e de andar. Nota: 8

Segurança: a versão Volcano não traz muito mais além dos quatro airbags, controles de tração e estabilidade. É apenas o mínimo que se espera de qualquer carro moderno, mas, a incógnita do desempenho da picape nos testes de colisão continua; já se passaram dois anos do lançamento e a Fiat nunca realizou nenhum. Pra piorar, o Strada combina componentes estruturais de diversos carros que não se saíram bem nos seus respectivos testes. O prognóstico não é nada favorável. Nota: 2

Custo X Benefício: falando apenas de picapes, a faixa de preço do atual Strada Volcano com câmbio automático o coloca contra dois modelos: Volkswagen Saveiro e Renault Oroch. A picape da VW custa 340 reais a menos na versão top de linha Cross, também é cabine dupla e traz um motor 1.6 mais forte, contudo, só tem duas portas e o câmbio é unicamente manual. Já a opção da Renault custa 3.890 a menos na intermediária Intense e também traz um motor 1.6 mais forte, além das quatro portas, mas, só conta com câmbio manual. Para resumir, leve o Strada se você quer a comodidade da transmissão automática e só usará a caçamba esporadicamente para cargas leves ou médias - se precisa de toda a capacidade de carga, então parta para os concorrentes. Nota: 6

Avaliação final: 68/100

Diferentemente do Toro, a tampa da caçamba do Strada é inteiriça e abre na vertical.

Considerações finais

Falando de maneira geral, o novo Strada deu certo e dá para entender seu sucesso no mercado brasileiro: é uma picape relativamente acessível e conta com uma boa gama de versões para atender a necessidades variadas. A Volcano, sendo a segunda mais cara da linha, é mais voltada a quem quer a picape como único carro da casa, oferecendo certos mimos que não existem nas variantes mais baratas, nem nos seus principais rivais de preço. Agora com a opção do câmbio automático, isso ficou ainda mais evidente.

Apesar disso, algumas perguntas ainda precisam ser respondidas e alguns pontos precisam ser revisados pela Fiat. A falta de um crash test é uma dessas perguntas e, ao nosso ver, a marca poderia ter disponibilizado a nova transmissão na intermediária Freedom que traz o mesmo motor. Seria uma opção mais em conta para quem busca mais conforto no uso diário e não faz questão dos mimos da Volcano. Resumindo a ópera: o novo Strada é um bom produto e ficou melhor com o câmbio CVT, principalmente se comparado ao manual, mas, ainda precisa melhorar em determinados aspectos.


Concorrentes diretos (pela categoria picape compacta): Volkswagen Saveiro Cross

Concorrentes indiretos (entre 110 e 130 mil reais): Renault Oroch Intense



Ficha técnica

Motor: 1.3, 4 cilindros em linha, 8 válvulas, flex
Potência: 107cv (E) / 98cv (G) a 6.250rpm
Torque: 13,7kgfm (E) / 13,2kgfm (G) a 3.500rpm
Transmissão: CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos sólidos na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/55 R16
Comprimento: 4,48m
Largura: 1,73m
Entre-eixos: 2,73m
Altura: 1,57m
Peso: 1.215kg
Caçamba: 844l
Carga útil: 600kg
Capacidade de reboque com freio/sem freio: 400kg
Tanque: 55l

0 a 100km/h: 12 segundos
Velocidade máxima: 165km/h


Matéria em vídeo



Fotos (clique para ampliar):