sábado, 7 de setembro de 2024

2024 Volkswagen Tiguan Allspace R-Line 2.0 AT8; entre tapas e beijos

Apesar de defasado e mais fraco, o maior SUV da Volkswagen no Brasil ainda pode agradar aos que não querem eletrificar a garagem. Testamos por dez dias e mais de 1.700km.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volkswagen do Brasil

Nossa unidade testada veio na cor Branco Puro. Todas as cinco cores disponíveis não possuem custo extra.

Toda vez que um produto qualquer é atualizado, espera-se que o fabricante corrija os pontos fracos e/ou erros apontados pelos consumidores até aquele momento, a fim de entregar algo verdadeiramente novo e otimizado para a clientela. Além disso, as atualizações servem para ajustar aquele determinado produto segundo algum parâmetro específico: novas exigências em forma de leis, observância sobre o que os clientes mais usam/gostam e não fazem tanta questão, entre outros pontos.

É exatamente por isso que nem sempre uma atualização significa uma melhora geral. Você ganha de um lado e perde de outro, a exemplo do que aconteceu com a viatura de nossa avaliação mais recente: o Volkswagen Tiguan Allspace. Maior SUV da marca no Brasil, ele passou por um hiato de dois anos entre outubro de 2021 e out/23, data em que finalmente retornou ao país com o aguardado facelift, porém, com mudanças não tão interessantes em outros tópicos. Será que ainda vale a pena? Nós fomos descobrir.

Nome "Allspace" se dá pela carroceria maior, feita para sete lugares. Lá fora existiu uma carroceria ligeiramente menor.

O que mudou?

Oferecido somente na versão R-Line, o Tiguan Allspace 2024 ganhou novos para-choques, nova grade frontal, novos faróis mais tecnológicos, lanternas redesenhadas e novas rodas de 19 polegadas com pneus de medidas diferentes dos utilizados no pré-facelift. Mecanicamente, o motor adotou uma nova calibragem por conta das normas mais exigentes de emissões, medidas que também afetaram o Tiguan oferecido em outras regiões dentro das Américas como os Estados Unidos, entre outros países.

O problema todo é que, na verdade, essa reestilização demorou demais a chegar no Brasil, pois foi lançada na metade de 2020. Lá fora, no mercado europeu, o Tiguan já está na terceira geração que foi apresentada em setembro do ano passado e trouxe novidades interessantes em todos os aspectos. Apesar de tudo, a Volkswagen ainda não dá qualquer pista sobre o futuro do SUV médio em solo tupiniquim, mas especula-se que ele seja substituído pelo futuro Tayron, versão alongada do novo Tiguan.

O motor ainda é o 2.0 TSI de sempre, mas a nova calibragem o deixou bem mais manso.

Foi bom enquanto durou

Além do atraso, outra grande polêmica do Tiguan Allspace 2024 está onde os olhos não vêem. O motor 2.0 turbo "TSI" a gasolina continua, mas está mais fraco: agora são até 186cv e 30,6kgfm de potência e torque máximos, uma diferença significativa perante os 220cv e 35,7kgfm do modelo pré-facelift. Além disso, a transmissão DSG de sete velocidades foi trocada por uma caixa automática convencional de oito marchas, enquanto o sistema de tração integral 4MOTION também saiu de cena, deixando apenas as rodas dianteiras como motrizes.

Com tudo isso, o Tiguan ficou sensivelmente mais lento: são 9,3 segundos para ir de 0 a 100km/h, mas alguns testes independentes apontam pouco mais de 10 segundos na prova, enquanto o pré-facelift podia levar menos de 7 segundos. As retomadas também ficaram mais lentas e os novos pneus, de medidas 235/50 R19, são mais estreitos e altos do que os 255/45 R19 do antecessor. Para compensar, ele ficou mais confortável e econômico: nossa média geral ficou em 14km/l alternando entre modo Eco e Normal, sempre com o carro cheio.

Na cabine, o novo volante traz controles do tipo touch.

Um pouco mais, um pouco menos

O Tiguan Allspace 2024 também teve alterações no pacote tecnológico. O sistema de som assinado pela Dynaudio, introduzido em 2020, saiu de cena junto do amplificador de 400 watts e o subwoofer, mas os oito alto-falantes distribuídos entre as quatro portas continuam. A função auto hold, que mantém o carro freado e parado automaticamente mesmo com o câmbio em D, também foi perdida, embora o freio de estacionamento continue com acionamento eletrônico. O seletor de modos de condução trocou o comando giratório por um botão fixo.

Por outro lado, ele ganhou os avançados faróis IQ.Light com função Matrix, direcionais e inteligentes, capazes de adaptar a distribuição de luz baixa e alta de acordo com a velocidade e os veículos à frente. Há ainda um novo sistema de iluminação ambiente com guias de LED customizáveis nas quatro portas e mais recursos de condução semiautônoma como o assistente de permanência em faixa que trouxe junto o Travel Assist, capaz de auxiliar na centralização do veículo e que amplia o conforto ao volante junto do ACC.

No mais, há o novo volante da marca com controles capacitivos - não há botões físicos, mas você precisa pressionar na região desejada para fazer o comando. O ar condicionado de três zonas adotou controles touch até na traseira, como no elétrico ID.4, e o painel digital de instrumentos recebeu grafismos mais modernos. Os faróis de neblina foram substituídos pelas luzes "all weather", capazes de ampliar o farol baixo para um ângulo de quase 180º e que também servem como luzes estáticas de conversão.

Banco do motorista traz ajustes elétricos e três posições de memória.

Sem risadinhas

Rodamos mais de 1.700km ao longo dos dez dias em que ficamos com o Tiguan Allspace 2024. Levamos algum tempo até nos acostumarmos com o pedal do acelerador, pois ele parece demasiadamente sensível e rende algumas pequenas aceleradas mais bruscas, mas é tranquilo de ser operado após esse contato inicial. Apesar do tamanho e do peso, o Tiguan se movimenta com bastante leveza e nos faz esquecer do seu porte, o que é muito bom.

A nova transmissão automática não é esperta como a antiga caixa de dupla embreagem, porém, funciona com decência e muita suavidade; o único incômodo fica para algumas ocasiões onde ela segura marcha sem necessidade, principalmente no modo Normal de condução - o Eco melhora bastante. Resumidamente, de maneira geral, o Tiguan R-Line ficou bem mais pacato e dócil, além de mais econômico e um pouco mais suave nos defeitos da pista.

Teto panorâmico é bastante amplo e até a abertura da seção frontal é grande.

O problema é que o Tiguan R-Line era, basicamente, um "Golf GTI para a família" e isso acabou. A falta da tração integral não será tão sentida pela maioria, entretanto, o desempenho geral ficou bem mais ameno, o que exigirá mais planejamento na hora das ultrapassagens e retomadas de velocidade, por exemplo, especialmente se você for dono de um exemplar pré-facelift. É importante ressaltar que o SUV não se tornou insuficiente, contudo, deixou de ser um canhão nas horas em que você o requisita; agora, suas acelerações estão mais próximas dos SUVs compactos com motor 1.0 turbo que são menos potentes, todavia, são bem mais leves.

Apesar de tudo, o comportamento dinâmico continua primoroso e é impressionante como as curvas são feitas com pouquíssima rolagem de carroceria. A suspensão (que é independente nas quatro rodas) ainda não é das mais amigáveis com os buracos e defeitos do asfalto, mas passa por eles de forma bem mais tranquila por conta dos novos pneus de perfil mais alto. Por fim, os freios com discos nas quatro rodas se mostraram mais do que adequados e completam um conjunto que, mesmo sem arrancar sorrisos como antes, ainda mostra muita competência de maneira geral, algo típico dos produtos alemães.

Bancos traseiros podem correr na horizontal e os encostos podem ser reclinados.

No mais, o Tiguan Allspace 2024 manteve as mesmas qualidades de sempre. Os bancos são muito bons e, agora, os dianteiros também trazem ventilação além do aquecimento; o do passageiro não possui ajustes elétricos, mas conta com regulagem de altura e até lombar, localizada na lateral do encosto. O multimídia ainda é o Discover Media, com tela de 8 polegadas e espelhamento do GPS nativo no cluster digital de instrumentos; sua tela não é grande como a do VW Play, mais moderno e utilizado no restante da gama, porém, a interface é bem mais estável e fluída, atendendo a tudo o que se propõe.

Os faróis são ainda mais sofisticados que os do ID.4 e são excelentes na condução noturna, pois ambos os projetores atuam tanto em luz baixa quanto alta e são inteligentes; quando você aciona o farol alto, por exemplo, eles direcionam o feixe no centro do campo de visão. O som também é muito bom mesmo sem a assinatura da Dynaudio e o subwoofer, bem como o teto solar panorâmico com boa amplitude tanto do vidro fixo quanto da abertura da parte da frente. Em suma, ainda é um ótimo SUV familiar para quem não tem interesse em eletrificar a garagem ou experimentar um chinês.

Os dois projetores de cada farol atuam para luz baixa e alta. O sistema é totalmente adaptativo.

Avaliação geral

Design: o Tiguan de segunda geração é quase uma unanimidade em matéria de visual e o facelift não deixou isso se perder. Na verdade, ficou ainda mais interessante e sedutor, arrancando elogios e atraindo olhares nas ruas. É uma pena que acabe apelando para as falsas saídas de escape no para-choque; não precisava. Fora isso, achamos lindo. Nota: 10

Interior: entrar no Tiguan Allspace causa um mix de reações. O onipresente Active Info Display está ali e funciona bem como sempre, mas o fato de trazer o mesmíssimo design de modelos bem mais baratos (e antigos) pode incomodar bastante em um carro de quase 300 mil reais. Já o acabamento é muito bom: há soleiras iluminadas nas portas dianteiras e todo o painel é em soft touch assim como a parte superior das portas dianteiras, enquanto as traseiras recebem apoios de braço em couro, os mesmos apliques decorativos do restante da cabine e até mesmo as guias de iluminação ambiente personalizável. Não é o habitáculo mais moderno do planeta, porém, agrada bastante. Nota: 9

Mecânica: o motor 2.0 turbo que equipa o SUV é um bloco moderno, eficiente e econômico, mas seu enfraquecimento jogou um balde de água fria nos fãs. Ter tração somente dianteira não é nenhum crime, embora o sistema integral fosse interessante em uma tocada mais agressiva. Já a transmissão, suspensão e freios são muito bons para a proposta do carro. Nota: 8

Tecnologia: felizmente, tecnologia embarcada continua sendo um dos pontos fortes do Tiguan Allspace. Se tivesse um conjunto de câmeras em 360º ficaria perfeito. A perda do som Dynaudio não afetou a qualidade sonora significativamente. De resto, tem tudo e mais um pouco. Nota: 9

Conveniência: há quatro portas USB pela cabine, sendo duas para a primeira fila e duas para a segunda fila. Os retrovisores externos possuem rebatimento elétrico, luzes de cortesia e até desembaçador, abrindo ou recolhendo com o travar/destravar do carro. A chave presencial, inclusive, manteve o acionamento por sensores nas maçanetas e também pode abrir ou fechar o teto solar. O capô é sustentado por amortecedor, tal qual deveria ser em todo veículo dessa faixa de preço. Resumidamente, o Tiguan sabe agradar ao proprietário. Nota: 10

Acomodações: os bancos são ótimos e há fartura de espaço para quase todo mundo. Os quebra-sóis trazem espelho e iluminação em ambos e há um interessante compartimento no console central que pode se transformar em até dois porta-copos separados. A segunda fila pode ser deslocada para a frente, acrescentando alguns preciosos centímetros para quem vai lá atrás. Já a terceira fila, como de costume, é adequada somente para crianças, porém, a Volkswagen errou feio ao não disponibilizar absolutamente nada para quem viaja ali: luz de cortesia, porta USB, saída de ar... nada. O vacilo custará três pontos. Nota: 7

Funcionalidades: tudo no Tiguan Allspace 2024 funcionou o tempo inteiro como deveria. Nota: 10

Desempenho: a essa altura do campeonato, a matéria deixa claro que o Tiguan R-Line não é mais o "foguetinho" de antes. Seu desempenho geral se nivela ao das finadas versões do SUV equipadas com motor 1.4 turbo e câmbio DSG de seis marchas que, embora fossem mais fracas, pesavam consideravelmente menos. Trocando em miúdos, não dá para dizer que a performance é ruim, entretanto, também não arrancará suspiros. Os donos do modelo pré-reestilização sentirão uma grande diferença, mas se isso é o suficiente para descartar a troca, depende de cada um. Pelo menos o comportamento dinâmico continua primoroso e o consumo de combustível melhorou. Nota: 7

Segurança: o Tiguan Allspace foi avaliado pelo Latin NCAP em 2019 e obteve nota máxima. O protocolo do instituto mudou de lá para cá e ficou mais rigoroso, contudo, o SUV alemão também recebeu os equipamentos exigidos para garantir a pontuação mais alta, portanto, mesmo sem um reteste, as expectativas são boas. Nota: 9

Custo X Benefício: custando R$286.590 pela tabela atual (ou R$294.790 se você incluir o teto solar, que é opcional), o Tiguan Allspace tem o Jeep Commander como único concorrente direto em preço e proposta. O SUV alemão enfrenta o americano na versão Overland com motor 2.0 a diesel ou a gasolina, ambos turbinados e aliados a uma transmissão automática de nove marchas com tração integral seletiva. De maneira geral, o desempenho do Commander é superior, perdendo apenas no aspecto dinâmico. Na verdade, eles são bastante nivelados entre si e a escolha pelo Tiguan deverá ser dos que optam por mais economia ao invés de performance. No pacote tecnológico, o Commander ataca oferecendo os dois bancos dianteiros com ajustes elétricos e som da Harman Kardon enquanto o Tiguan revida com ar de três zonas, iluminação ambiente personalizável e os faróis Matrix adaptativos, além dos bancos com aquecimento e resfriamento. No final das contas, mesmo diante dos contras, o Tiguan ainda é um carro muito bom. Nota: 7

Avaliação final: 86/100

Lanternas mantiveram o formato, mas o arranjo interno das luzes é todo novo.

Considerações finais

As expectativas em cima da reestilização do Tiguan Allspace eram muito altas. Falava-se até que o SUV voltaria com motorização híbrida, entretanto, a verdade foi bem diferente e acabou por decepcionar quem era fã do modelo alemão. Acontece que essa decepção se deu mais pela expectativa em si (e a demora, vale acrescentar) do que pelo produto de fato, pois acredite: ainda é um automóvel interessante e que cativa no uso diário. O rodar sólido combinado ao interior bem acabado e sóbrio, junto do comportamento dinâmico afiado e o pacote tecnológico decente fazem dele um ótimo companheiro para o dia-a-dia.

É uma pena que os quase 300 mil reais pedidos já se nivelem a modelos híbridos ou 100% elétricos, além de concorrentes a combustão com motores mais poderosos e desempenho geral superior. Em contrapartida, se você não tem olhos para isso e busca apenas um bom veículo familiar para cair na estrada de vez em quando e levar a casa toda junto, talvez o "match" entre você e o Tiguan acabe acontecendo. Existem opções (bem) mais baratas e quase tão boas quanto se você não precisa dos sete lugares, entretanto, se não pode ou não quer abrir mão deles, mesmo entre tapas e beijos, esse pode ser o seu carro.

Detalhes externos são em preto brilhante com molduras cromadas.

Ficha técnica

Motor: 2.0 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina
Potência: 186cv a 4.360rpm
Torque: 30,6kgfm a 1.600rpm
Transmissão: automática de oito marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Pneus: 235/50 R19
Comprimento: 4,72m
Largura: 1,85m
Entre-eixos: 2,78m
Altura: 1,65m
Peso: 1.718kg
Porta-malas: 710l (5 lugares) / 216l (7 lugares)
Tanque: 58l

0 a 100km/h: 9,3 segundos
Velocidade máxima: 199km/h


Fotos (clique para ampliar):