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A cor Cinza Strato é oferecida por R$1.490 à parte. Não há opção sem o teto em Preto Vulcano. |
O ser humano, de um modo geral, é uma criatura bacana e interessante, mas tem vezes que vou te contar, viu... Tem vezes em que a gente não sabe o que quer, ou não conseguimos decidir o que gostamos ou não. Nessas horas, nosso julgamento fica falho e as decisões, como consequência óbvia, quase sempre dão ruim.
"Mas isso não é normal, Ravito?" sim, até é. O problema é quando queremos colocar esses julgamentos e opiniões falhos como se fossem fatos sólidos, tipo, tentando se posicionar como autoridade no assunto. O Fiat Pulse Abarth é um exemplo claro disso, mas como? Vem com o tio Ravito que você vai entender tintim por tintim.
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Mudanças visuais se resumem ao novo para-choque, nova grade frontal e novas rodas aro 18. |
Quando ele foi lançado há cerca de três anos, choveram críticas negativas por todos os lados. Mas peraí: não é desse tipo de carro que os comentaristas de internet vivem dizendo sentir falta? Os divertidos, com personalidade, ronco empolgante e os caramba... Só o câmbio manual fica de fora, mas o "pack reclamão" tá todo presente aqui.
"A marca X tinha que pegar esse motor e colocar no carro Y" - geralmente se referindo a um bloco maior que a montadora podia colocar em um modelo menor, receita clássica e bem-sucedida na criação de esportivos. Pois é: a Fiat fez exatamente isso e, ainda assim, os tecladistas chiaram até dizer chega. Será que as coisas vão mudar agora?
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A nova grade traz filetes verticais e o nome ABARTH por extenso ao invés do escudo. |
Motivos pra isso não faltam, pois a linha 2026 do esportivo trouxe melhorias variadas e subiu pouco de preço: era R$149.990 quando o testamos em 2023 (leia aqui) e agora custa R$157.990, apenas 8 mil reais de diferença. Ele ganhou teto panorâmico, banco elétrico para o motorista e rodas aro 18 em preto brilhante, tudo de série.
Já as mudanças visuais dividem opiniões. O para-choque dianteiro novo ficou legal e a grade, idem, mas a troca do brasão da Abarth pelas letras soltas, na minha opinião, foi um retrocesso. Já as rodas aro 18 ficaram tops e, por fim, ele ganhou os mesmos faróis de neblina por projetores de LED do Fastback 2026. Coisa fina, muito boa.
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Bancos dianteiros são novos e o do motorista traz ajustes elétricos. |
Por dentro, os bancos dianteiros receberam um revestimento bem mais caprichado, com o escorpião estilizado, e as portas dianteiras ganharam uma parte maior em revestimento macio. Já o teto panorâmico é o mesmo do Fastback, ou seja: não abre como um teto solar, apenas deixa entrar mais luz. Sua cortina tem acionamento elétrico.
O que não mudou (e nem precisava) foi a mecânica. Ele segue com o motor 1.3 turbo flex de até 185cv e 27,5kgfm atrelado a uma caixa automática de seis marchas. Pois é: ele não foi enfraquecido como os outros carros da Stellantis equipados com o Turbo 270, o que significa que ele continua sendo o cão chupando manga. Graças a Deus.
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Detalhe em tecido imitando fibra de carbono atravessa o painel de um lado ao outro. |
Vou te falar uma coisa: pode não parecer e você pode não acreditar, mas esse bicho instiga. Provoca, sério. Se o visual não te empolga, acredito que ele comece a convencer ao se apertar o botão de partida. O 1.3 turbo ronca grave, encorpado, diferente de todos os outros modelos com esse motor, ressoando pela cabine e chamando atenções.
É nessa hora que você solta um discreto "eita", pois não estava esperando. No painel, dá pra deixar o indicador de pressão do turbo exposto o tempo todo junto do mostrador de entrega de potência, mais dois recursos que lembram que você não tá em um carro qualquer. Ainda assim, o Pulse Abarth pode ser dirigido calmamente.
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Painel digital traz tela de 7 polegadas. |
"É beberrão, Ravito?" - só se você quiser furar o assoalho com o pé direito. Andando na maciota (com umas esticadas esporádicas porque né...), consegui quase 17km/l na estrada usando gasolina e com ar ligado, uma média excelente considerando o que esse bicho pode fazer. No urbano, dá pra se manter entre 10 e 13km/l.
Mas quando você pisa, meua migo... aí o Peppino (o italiano irritado que protagoniza o jogo Pizza Tower) acorda e você começa a sorrir. O câmbio reduz uma ou duas marchas (com uma certa lentidão), o giro sobe, você ouve a turbina assobiando e ele avança com vontade. São 7,6 segundos no 0 a 100km/h, tempo raro nesse segmento.
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Laterais e traseira não sofreram alterações. |
O ronco em alta não é tão bonito quanto em baixa, porém, ouvir o turbocompressor trabalhando deixa tudo bem mais legal. Já sobre a dinâmica, diria que é bem equilibrado pra um carro com pneus de perfil 45; podia ser mais rígido, o que o deixaria mais afiado em troca de afetar o conforto e a usabilidade no dia-a-dia, então, tá bom assim.
Na verdade, o Pulse Abarth tem seus pontos fracos (claro), mas nenhum deles pode ser atribuído ao conjunto mecânico. Fazendo uma leitura menos emocional e mais racional, a gente vê que determinadas escolhas foram pensadas pra que ele fosse um "brinquedo" o mais usável possível pra quem quisesse... e deu certo.
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Motor Turbo 270 é usado por modelos Fiat e Jeep. |
"Quais são os pontos fracos, Ravito?" - vamo lá. Além do câmbio lento que já falei ali em cima, senti falta do monitor de pontos cegos que o Fastback ganhou e o Pulse merecia, pelo menos no Abarth. Faltou capricho nas portas traseiras e o espaço interno, que já não era grande coisa, piorou com os novos bancos dianteiros mais "cheinhos".
O pacote ADAS é bem básico e sequer traz piloto automático adaptativo - EU não sinto falta, mas tem gente que vai sentir. Por fim, o teto panorâmico podia abrir como um solar tradicional; sei que muita gente nunca abre essas coisas na vida, porém, é melhor eu não querer e poder fazer caso queira do que querer e nunca poder.
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Para-choque traseiro traz acabamento que imita difusor de ar. |
Pra fechar a tampa: vale a pena? Se você não precisar tanto assim de espaço interno, vale e muito. São menos de 160 mil reais em um carro de desempenho pra ninguém botar defeito, usável no dia-a-dia sem desconfortos (como seria num Sandero RS) e com um pacote tecnológico interessante, deixando poucas faltas.
Lembre-se que o conceito de "esportivo de verdade" vai além dos supercarros. A fórmula do Pulse Abarth é a mesma de inúmeros esportivos consagrados e queridos que existiram em variadas décadas e fizeram por merecer seu lugar na história automotiva. A criação da Fiat não é exceção e, se Carlo Abarth estivesse vivo, ficaria satisfeito.