Fluido vitalício; o termo que trouxe enorme prejuízo a milhões de carros e seus donos
A expressão designada para os óleos de algumas transmissões automáticas gerou uma compreensão equivocada em milhões de proprietários mundo afora.
Por Yuri Ravitz
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Imagine o seguinte cenário: você comprou seu primeiro carro com câmbio automático de olho em uma condução mais confortável e tranquila. Como é apenas o primeiro, você decide dar uma olhada no manual do proprietário pra saber se esse tipo de veículo exige alguma manutenção especial ou diferente, afinal, o seguro morreu de velho, né?
Ao folhear o manual, eis que uma expressão lhe salta aos olhos: fluido vitalício. "Peraí. Vitalício refere-se a algo que dura a vida toda, então... quer dizer que o óleo da caixa automática é eterno? Nunca precisarei trocá-lo? Que maravilha!" E assim a coisa vai. Você nunca olha, nem o segundo, nem o terceiro dono... Até que a bomba explode.
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Um belo dia, aquela transmissão automática simplesmente para de funcionar e você fica sem entender nada porque sempre dirigiu direitinho e teve cuidado com seu carro, respeitando as manutenções e os prazos. Você pode até não saber o que aconteceu, mas a gente sabe: a culpa foi do "fluido vitalício" no manual que induz ao erro.
Componentes mecânicos se desgastam por natureza. Os óleos de um carro, dentre as inúmeras funções que eles possuem, também atuam retendo os resíduos desse desgaste ao longo do tempo. Se eles retém detritos, logo, ficam contaminados com o tempo e precisam de troca, certo? Então como é possível existir um fluido vitalício?
Na verdade, o problema todo é esse: não existe.
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Não existe peça ou conjunto mecânico que dure pra sempre; de igual modo, não existe fluido ou óleo que dure pra sempre. Um "fluido vitalício" significa que pode durar o mesmo tempo da vida útil do componente, ou seja: se a caixa automática do carro XYZ aguenta 200 mil quilômetros, o fluido dela durará os mesmos 200 mil quilômetros.
O lance todo é conhecer as especificações diretamente com o fabricante da transmissão - e nem toda montadora produz suas próprias caixas. É muito comum utilizarem câmbios terceirizados como ZF, Getrag, Jatco, Tremec, entre outras. Ao entender quanto tempo sua transmissão pode durar você consegue entender quando precisará cuidar dela.
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Ao ler no manual que o fluido da transmissão era vitalício, muitas pessoas simplesmente entenderam que jamais precisariam se preocupar com isso, ignorando o fato de que não existe nada "eterno" em carros como mencionamos acima. Era só questão de tempo até que as bombas estourassem... e muitas estouraram. Muitas mesmo.
Muitas transmissões de inúmeros veículos ao redor do planeta extrapolaram seus limites, rodando até literalmente quebrar ou parar completamente por uma total impossibilidade de continuar operando. Consequentemente, inúmeros proprietários se viram em um beco sem saída e com contas estratosféricas de reparo... e isso ainda acontece.
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Beleza, Ravito. Se não dura pra sempre, então como que a gente faz pra essa encrenca toda não acontecer?
O primeiro passo é, não ironicamente, olhar o manual: esse termo não costuma aparecer nos carros mais atuais porque a indústria já entendeu todo o prejuízo que isso causou, porém, caso apareça, você deve buscar quem é o fabricante da transmissão do seu carro. É uma informação fácil de se conseguir nos dias de hoje graças ao papai Google.
O ideal, na verdade, é sempre consultar a concessionária antes de qualquer coisa. Se não der resultado, procure uma empresa especializada em câmbios automáticos. Se também não conseguir, aí sim vale a informação do fabricante do câmbio, assim você pode buscar dados diretamente com ele e resolver seus problemas - ou impedir que aconteçam.
E sim: é possível utilizar uma transmissão após o fim da vida útil. Será preciso recondicioná-la completamente, o que não é barato mas garantirá a continuidade do uso; solenoides, engrenagens, filtros, tudo o que for necessário trocar de acordo com o modelo da caixa em questão... além, é claro, do "fluido vitalício".
