Mesmo nome, outro carro; um erro recorrente e básico que precisa parar
Montadoras têm insistido em trazer ingredientes novos para receitas conhecidas e o consumidor não está gostando. Entenda o porquê.
Por Yuri Ravitz
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| Bonito, né? Eu até acho que é, mas... Foto: Divulgação |
Este é o novo Dodge Charger, a oitava geração de um clássico norteamericano que é extremamente popular e querido entre os entusiastas de todo o planeta. Ele foi lançado em dezembro de 2024 com carrocerias de duas e quatro portas pra fazer as vezes de novo Challenger também. O Charger é um muscle car de respeito, certo?
Era, pelo menos até a geração passada. O modelo que você vê na foto acima chegou unicamente com motorização 100% elétrica e agora pode receber um 3.0 de seis cilindros pra quem não quiser levar o EV. Cadê o V8? Algum HEMI ou Hellcat? Esqueça. O novo Charger não tem nenhuma configuração equipada com motor V8.
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| Este é um SIXPACK com motor de seis cilindros. A maior diferença é o para-choque frontal. Foto: Divulgação |
É isso mesmo. Um dos muscle cars mais icônicos da história do automóvel ganhou uma nova geração sem o principal ingrediente de sua receita consagrada. O resultado? Vendas pífias, um mico de mercado e uma empresa tentando resolver o problema, uma vez que milhões foram investidos nessa ideia e não dá pra ficar no prejuízo.
Como eu disse no meu Instagram: adoro carros elétricos, adoro esportivos e adoro esportivos elétricos, de verdade. Acontece que também adoro determinadas receitas e o Charger era uma que funcionava do jeitinho dela. Algumas coisas só dão certo se todos os ingredientes delas estão presentes; tire apenas um e tudo desmorona.
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| Conhece esse carro? Provavelmente não, mas o nome dele você conhece muito bem. Foto: Divulgação |
Eu comecei falando do Charger, mas quem realmente me motivou a escrever esse artigo foi esse cara aí de cima: o Lexus LFA. Sim, isso é um LFA. Não tô bebum e nem botei o estagiário pra escrever: isso aqui em cima é um Lexus LFA. Na verdade é um conceito de um novo LFA, porém seu conjunto mecânico agora é 100% elétrico.
Recebi o comunicado oficial hoje de manhã e, assim que li "LEXUS LFA" na notificação, corri pra abrir o e-mail. Me deparei com essa bela viatura (não tão bela quanto o original) e fui lendo até chegar no balde de água fria: esportivo BEV. Já disse e repito: posso lidar com um esportivo elétrico, mas não tolero um Lexus LFA elétrico.
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| LFA, um dos supercarros japoneses mais incríveis já feitos. Foto: Divulgação |
Cara... O LFA original era uma obra-prima. Visual de carro conceito futurista, motor V10 altamente melódico, detalhes icônicos como a saída tripla de escape... Uma obra de arte. Era um carro complexo e caro, pois não compartilhava componentes com nenhum outro. Era especial, único, bonito pra caramba e roncava como poucos.
Aí, alguém dentro da Lexus que aparentemente não tá observando o mercado decide ressuscitar o nome em um esportivo elétrico. O LFA, um modelo conhecido pela sinfonia marcante e singular do seu V10, agora pretende retornar como elétrico. É sério, Toyota? Não aprenderam com a Dodge e nem com a Mercedes-Benz? Jura?
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| O atual C63 é muito bonito, né? É. Pena que não honra os passados... Foto: Divulgação |
"Mas por que tá falando da Mercedes, Ravito?" - por causa desse cara aqui em cima: o atual C63 AMG. Inegavelmente bonito, mais veloz do que qualquer C63 anterior, mas com um 2.0 turbo eletrificado no lugar no tradicional V8. Mais um mico de mercado com vendas pífias e mais uma montadora tentando se virar nos trinta pra contornar.
Sabe por quê? Ele é bonito, rápido, tecnológico, mas ninguém liga. Ninguém liga porque não dá pra ver um C63 nele. Aquele sedan esporrento que ruge como um muscle car americano e gosta de fritar pneus não existe mais; só sobrou o nome. Junto do 2.0 turbo veio a tração integral e mais de duas toneladas de peso total. Virou um elefante.
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| Isso aqui é insuperável. Absoluto. Foto: Divulgação |
"Deixa eu deixar" uma coisa bem clara aqui: minha crítica não é necessariamente sobre os carros, mas sobre as decisões das empresas de gerar expectativa com nomes queridos e não respeitar as características que os tornaram queridos pra começo de conversa. Não são ataques aos produtos e sim aos engravatados que não pensaram.
"Mas as coisas evoluem, Ravito" - evoluir não significa perder a essência, senão não há evolução e sim transformação. EVOLUIR significa APRIMORAR algo respeitando suas características-chave, ou seja, aqueles elementos que são fundamentais quando a gente pensa naquele algo específico. Entendeu onde quero chegar, não é?
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| Mustang tradicional e Mustang elétrico; tem pra todos os gostos. Foto: AutoTrader |
Sabe o que é pior? Era muito fácil evitar isso e, quem sabe, não ter problemas com vendas. A Mercedes podia ter chamado de C53, pois faria sentido e ninguém reclamaria. A Dodge podia ter usado Banshee enquanto a Lexus devia chamar de LFE, LFH, qualquer coisa assim. São nomes que fariam muito mais sentido sem hate algum.
É por essas e outras que gosto da Ford. Até agora, a americana foi a única que fez o certo: criou o Mustang Mach-E, que é um espetáculo de carro, e deixou o Mustang tradicional do jeito que a gente ama, inclusive com motor V8 disponível. Essa de querer polemizar e ser comentado a qualquer custo não tá com nada; façam certo de primeira.
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| Camaro de quinta geração se inspira no primeiro e é um espetáculo. Foto: Divulgação |
Tem vários casos aí de sucesso no resgate de nomes clássicos. A Chevrolet, por exemplo, ficou oito anos sem vender Camaro e parou tudo quando voltou a fazer; mostrou um conceito animal em 2006, o povo ficou maluco (com toda razão) e lançou o modelo de rua em 2010 - seu antecessor saiu de cena em 2002. Sucesso total.
A BMW fez certo com a MINI. A própria Dodge fez certo com o último Challenger. Imagina sua banda favorita trocando o vocalista ou seu restaurante de lei mexendo no seu prato favorito... É a mesma coisa. Não tenho objeção nenhuma com coisas novas, mas faça-as inteiramente novas sem tentar criar um link impossível com o passado.
Ou faça o link direito. C63 e Charger são V8. LFA é V10.
Ou faça o link direito. C63 e Charger são V8. LFA é V10.







