sábado, 20 de setembro de 2025

Análise: Audi Q8 quer te pegar pelos sentidos, principalmente pela visão

Por Yuri Ravitz

A cor Azul Waitomo é oferecida sem custo. Já as pinturas Audi Exclusive custam 75 mil reais.

Carros são emocionais, não adianta. Mesmo a compra mais racional possível, com cada centavo contado, não se concretiza sem algum pitaco das emoções que dizem "esse é mais bonito" ou "aquele é mais legal que esse". Se eles são emocionais, os conteúdos produzidos sobre eles também devem ser, concorda? Pois bem. Eu concordo.

É justamente por isso que, a partir de agora, as produções do Volta Rápida serão mais emocionais, opinativas. Chega dos textos quilométricos e frios; os tempos são outros. No final das contas, a maioria de nós só quer ler (ou assistir algo) para se distrair e rir um bocado - SE (um SE bem grande) esse algo nos ajudar a tomar decisões, legal.

Rodas aro 23 são do mesmo modelo do A3 que testamos há alguns meses.

E não tinha nada melhor para começarmos uma abordagem mais emotiva do que o belo mamute germânico sobre rodas que você vê nas fotos: o Audi Q8, agora reestilizado desde o ano passado. Um dos maiores e mais caros produtos das quatro argolas chegou para mais uma análise completa pelas mãos do Ravito. Que momento, hein!?

Esse bicho é uma VISÃO, "vamo" combinar. A Audi o traz ao Brasil em versão única, chamada Performance Black, com o kit de carroceria S line e essas rodas gigantes aro 23 de série, tudo por R$794.990 - já aumentou 20 mil dinheiros desde o lançamento ano passado. Pois é... Custa mais do que a minha casa (e talvez a sua também).

Motor V6 fica "escondido" por várias coberturas plásticas.

O motor que movimenta esse belo Golias é um 3.0 V6 a gasolina, turbinado, que gera até 340cv e 51kgfm e é comandado por uma caixa automática de oito marchas. São 5,6 segundos no 0 a 100km/h e uma máxima de 210km/h, números que nos fazem pensar em modelos mais baratos que andam mais. Nada é perfeito, né...

Esse motor é do tipo híbrido-leve (daquela sigla MHEV, saca?), mas relaxa: não é como o sistema que a Stellantis usa. Aqui, quando o V6 é desligado, o ar condicionado continua funcionando normalmente pra todo mundo e ele faz isso até em movimento, mas em situações muito específicas e raras que chegam a dar uma moral no consumo.

No modo Dynamic, a suspensão a ar fica na altura mais baixa possível

Eu seeeeei: quem compra esse carro não liga pra consumo, já sabemos. Ainda assim, é interessante ver o que a tecnologia é capaz de fazer, proporcionando uma média de 14,3km/l a esse troglodita de 2.340kg durante uma viagem curta que fiz entre cidades. Já a média geral foi de 9,6km/l em pouco mais de 400km rodados, ainda muito bom.

Sobre desempenho, preciso dizer: esperava mais, principalmente pelo preço e por alguns rivais com mecânica plug-in como o Porsche Cayenne de entrada e o BMW X5. Entenda: não é manco, porém, quando você paga quase 800k num carro, o mínimo que você espera é poder dominar a estrada... e não é exatamente o que acontece aqui.

Motorista conta com três telas para comandar todas as funções do veículo.

Já em matéria de tecnologia embarcada, o Q8 dá um sacode. Além do kit de carroceria esportivo e das rodas aro 23 (que só ele traz nesse valor), tem suspensão a ar configurável, eixo traseiro esterçante, ar de quatro zonas, iluminação ambiente completa com 30 cores, faróis em Matrix LED e mais um monte pra ficar até amanhã listando.

E não acabou não, jovem. Você pode botar três opcionais presentes no nosso carro testado: o HUD por 20k, a visão noturna por 30k e os faróis em HD com laser por 26k pra fritar os coleguinhas na pista à noite. Se quiser ostentar de verdade, além de tudo, coloque os retrovisores em carbono por 8k e uma das cores Audi Exclusive por 75k.

É isso mesmo, meu caro e minha cara. Você não leu errado. Setenta e cinco mil reais pra deixar seu carango numa cor exclusiva. Um Kwid zero bala com desconto chorado ou uma cor misteriosa? Mas também, é aquilo: o programa Audi Exclusive tem praticamente todas as tonalidades já pensadas pelo Criador, então... Quem pode, pode.

Bancos dianteiros trazem fartura de ajustes elétricos.

O Q8 é um mamute de 4,99m de comprimento, 1,99m de largura (sem contar os espelhos) e 1,69m de altura. É bem maior do que a maioria dos carros nas ruas, o que o torna inconveniente de ser usado naqueles lugares cheios demais, ou seja: 99,9% do território brasileiro. Por outro lado, todo esse tamanho traz uma vantagem substancial...

...o conforto. Aqui são 5 lugares reais, pra cinco adultos andarem em paz. Os bancos trazem couro Valcona e os dianteiros têm ajuste até pras abas do assento e do encosto: é capaz de você gastar mais tempo brincando com eles do que dirigindo. Os quatro ocupantes principais também podem configurar sua climatização como quiserem.

Há muitos detalhes em preto brilhante e em prata pela cabine.

Painel e multimídia? Espetáculo. O painel em si tem várias possibilidades de visualização e o multimídia permite configurar praticamente tudo do carro, ambos equipados com telas de resolução excelente. Há até uma terceira tela dedicada aos ajustes do ar-condicionado, mas essa já acho exagero: os controles convencionais podiam estar lá.

O acabamento abusa das superfícies "soft touch" e a iluminação ambiente dá um show pela cabine toda: você pode colocar duas cores diferentes para os LEDs nas quatro portas, console, painel e região dos pés, ou pode desligar tudo, apenas uma parte... Customização é a palavra de ordem aqui, mas sem o exagero brega dos rivais conterrâneos.

Você pode configurar a iluminação ambiente do jeito que quiser: intensidade, cores, regiões...

Sobre os opcionais, vale dizer: o Head-Up Display e os faróis em Matrix com luz alta a laser são interessantes, mas a visão noturna, no final das contas, servirá mais pra mostrar aos amigos. Ela funciona bem, destacando animais e pedestres pra redobrar sua atenção com alertas sonoros, inclusive, mas você dificilmente lembrará de usá-la...

...especialmente porque os faróis Matrix são animais, ainda mais com o upgrade da luz alta a laser - que só funciona a partir de 70km/h e sem nenhum veículo à frente. Pois é: eu te iludi sobre "fritar" os colegas na pista, mas ainda é bacana de se ter. A única queixa aqui é que a função Matrix deveria se ativar a partir de uma velocidade mais baixa.

Grade traz moldura em preto brilhante.

Chegou a hora da verdade: vale a pena? Pra responder, vamos comparar o Q8 ao Porsche Cayenne de entrada, chamado apenas de E-Hybrid. Temos aqui um belo SUV alemão de 795 mil reais com mecânica híbrida plug-in, bem mais esperto de andar e com todas as vantagens da eletrificação avançada, além da grife Porsche. Acontece que...

...o Cayenne de entrada traz um visual bem mais comum e só fica tão equipado quanto o Q8 se você colocar opcionais - eixo traseiro esterçante, ar de quatro zonas e som assinado, o que já eleva bastante o valor. Resumindo: se você prefere tecnologia, vai de Audi, mas se prefere desempenho, eletrificação e grife, o Porsche é o teu negócio.

Lanternas interligadas trazem assinaturas luminosas customizáveis, assim como os faróis.

Comparando com o BMW X5 xDrive50e, de 787 mil reais, a situação é parecida: o BMW é híbrido plug-in, trazendo as mesmíssimas vantagens que o Cayenne de entrada oferece sobre o Q8. Em contrapartida, as fraquezas são as mesmas: o BMW é menos equipado e seu visual é mais comum, exigindo que se aumente o preço para nivelar o jogo.

Em relação ao Mercedes GLE 450d, a situação é curiosa: ele é o único com motor diesel e é o mais barato de todos, custando 745 mil. Seu desempenho é parecido com o do Q8, porém, mais uma vez, o nível de tecnologia embarcada e o visual deixam a desejar. Como você pode ver, a briga entre os grandalhões de luxo não é brincadeira.

Rodas aro 23 calçam pneus 285/35.

E aí, já se decidiu? Finge por alguns minutos que você ganhou na mega-sena. Seria difícil escolher, não é? Por isso que, mais uma vez, voltamos ao fator EMOCIONAL. Qual mexe mais com a sua cabeça? Qual deles faria você ficar olhando pra trás depois de estacionar com aquele "olhar 43"? Pronto, entreguei minha idade.

Se quiser a minha opinião: gostei, mas não sei se fecharia negócio. É fato que o Q8 aguça mais os meus sentidos do que os outros, principalmente no VISUAL, mas minha preferência por desempenho e eletrificação fatalmente me levaria ao Cayenne. X5, pra mim, só se for o M Competition, tal qual o GLE que eu só teria se fosse AMG.

Aqui, pra encerrar, vale uma observação interessante: eu cogitaria levar um Q8 "base" pra casa, algo que eu não faria com o BMW ou o Mercedes. Nem faria questão que fosse o RS Q8; esse aí mesmo já tá bem ok, mostrando a competência do produto mesmo com os pontos fracos destacados. É sobre isso, né? Sentidos...