Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)
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Todas as cores são oferecidas sem custo. A do nosso modelo testado se chama Laranja Jalapão. |
As picapes médias já foram as "meninas dos olhos" de muitas marcas e sonho de consumo de inúmeros brasileiros, mas isso é coisa do passado. Não por acaso, a grande maioria dos representantes atuais da categoria é constituída por modelos antigos munidos de pequenas novidades estéticas, mecânicas e/ou tecnológicas - em outras palavras, atualizações pontuais que são uma forma bem mais em conta de manter um determinado produto em dia e alinhado com as crescentes expectativas dos consumidores.
Apesar disso, ainda tem quem invista em uma arquitetura mais caprichada com condições de receber as mais recentes tecnologias disponíveis no setor. É o caso da Ford com a atual geração da picape Ranger, lançada no mercado brasileiro em 2023 e disponível atualmente na linha 2026 em nada menos do que sete versões com preços começando em R$238.900. Nós passamos sete dias com um exemplar do utilitário na versão Limited Plus, a mais cara de todas, para conhecer seus atributos e seu comportamento no uso diário.
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Há bases para racks e amarrações no teto e também na caçamba, favorecendo a versatilidade. |
Em sua melhor forma
Essa é a quinta geração do Ranger, apresentada ao mundo em novembro de 2021 como um produto global. Fabricado nos Estados Unidos, Tailândia (onde é feita a versão Raptor de alta performance), China e Argentina, entre outros países, o modelo oferecido no Brasil vem dos "hermanos" e a versão Limited Plus que nós testamos é tabelada atualmente em R$366.600. A picape é montada sobre uma versão atualizada da arquitetura T6 que estreou na geração passada (que nós testamos nas versões XLT e Black) e que também equipa o Bronco, na clássica construção de chassi por longarinas paralelas.
As mudanças foram profundas por todos os cantos. Externamente, o Ranger adotou a atual identidade visual da marca para suas picapes, apostando em um aspecto mais abrutalhado com grandes faróis e rodas de até 20 polegadas. Por dentro, o acabamento ficou consideravelmente mais sofisticado e a Ford trouxe modernidades como um cluster de instrumentos 100% digital, multimídia com tela vertical, entre outros. Também há variados sistemas semiautônomos de condução inéditos no modelo e novas motorizações, tudo para elevar o patamar da picape frente os rivais.
Atualmente, as configurações mais caras do Ranger trazem um motor 3.0 de seis cilindros em V, turbinado e a diesel, capaz de gerar até 250cv e 61,2kgfm de potência e torque máximos. São 50cv e 13,3kgfm a mais do que o 3.2 de cinco cilindros que equipava as variantes de topo da geração passada e, para completar, a nova transmissão automática de 10 marchas é mais moderna e versátil do que a anterior de seis velocidades, hoje presente apenas nas versões mais baratas com motor 2.0. Entre as médias, o único produto que se nivela ao Ranger nesse aspecto é o Volkswagen Amarok (que já testamos na versão top de linha).
Todo esse ganho de potência e torque máximos teve um grande impacto positivo no desempenho geral da picape, principalmente porque o acréscimo de peso em vista do modelo anterior foi de menos de 100kg; as relações peso X potência e peso X torque melhoraram substancialmente, o que se traduz em acelerações e retomadas mais eficientes. Já o sistema de tração 4WD possui quatro modos de operação: 2H (apenas traseira), 4H (integral permanente), 4L (integral reduzida) e 4A, no qual ele se comporta como um AWD, alternando entre tração traseira e integral automaticamente conforme o sistema detecta a necessidade.
A versão Limited vem bastante recheada de recursos, tais como: faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, ar condicionado digital de duas zonas com saídas traseiras, banco do motorista com ajustes elétricos (incluindo lombar), central multimídia vertical com tela de 12 polegadas, faróis de neblina por projetores de LED, acabamento interno em couro, protetor de caçamba, bases para racks de teto e na caçamba, sete airbags, lanternas com luzes de posição e freio em LED, iluminação ambiente em azul, entre outros.
A designação "Plus" é colocada pela Ford como um opcional de R$20.000 e acrescenta: rodas aro 20 diamantadas, painel de instrumentos 100% digital de 12,4", câmeras em 360º e um arsenal de recursos de segurança. Há piloto automático adaptativo, farol alto automático, assistente de permanência em faixas com correção de direção, leitor de placas de velocidade, monitoramento de pontos cegos e de tráfego cruzado na traseira, assistente de manobras evasivas, entre outros.
Os pouco mais de 750km que percorremos com o Ranger foram igualmente distribuídos entre cidade e estrada, sendo 50% para cada um. Vista de fora, a picape faz muito boa presença e parece mais exótica por causa do laranja escolhido - não é vívido como o Laranja Saara da versão Raptor, mas ainda é chamativo o suficiente para atrair olhares e conferir uma certa excentricidade ao conjunto. As belas rodas de 20 polegadas com acabamento diamantado e fundo em preto fosco reforçam a sofisticação.
Por dentro, as impressões são muito melhores do que em qualquer outra picape média à venda no Brasil hoje; a cabine é bem acabada com arremates corretos, acabamento decente e um bom equilíbrio entre tecnologia e tradição. O cluster digital de instrumentos da variante Limited Plus é o mesmo utilizado no gigante F-150, exibindo uma animação no ato da partida e todas as informações pertinentes durante a condução, tudo com alta resolução e funcionamento fluído. Em suma: até esse momento, é quase tudo perfeito.
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Variante top de linha traz fartura de detalhes cromados na parte externa. |
Dada a partida, que é surpreendentemente silenciosa para um motor a diesel, os primeiros quilômetros percorridos com o Ranger fazem a gente se sentir em um carro de passeio convencional - e a sensação só não é mais forte por causa do tamanho avantajado da picape, posicionando-nos acima dos demais veículos. As reações são bem tranquilas e o silêncio predomina por toda a cabine, mas uma coisa incomoda esporadicamente: em condições normais, a transmissão de 10 velocidades pula direto da 1ª para a 3ª, "ignorando" a segunda. Por conta disso, vez ou outra, o Ranger estica demais a primeira marcha sem a menor necessidade, uma vez que temos até a sétima velocidade para uso geral - as três seguintes (da 8ª até a 10ª) são overdrive.
Fora essa questão específica, a conversa entre o motor e a transmissão é bastante satisfatória assim como o comportamento da suspensão; dinamicamente é ótimo, entretanto, não é dos mais confortáveis. Acreditamos que parte da culpa seja das rodas de 20 polegadas da derivação Plus, calçadas em pneus 255/55 R20; a Limited padrão usa compostos 255/65 R18, o que significa 25mm de diferença na altura entre eles - lembre-se que a altura expressa pelo número do perfil é a porcentagem da largura, ou seja: 55% de 255 no primeiro caso (140mm) e 65% de 255 no segundo (165mm). Para compensar, o Ranger não fica "quicando" na traseira quando a caçamba está vazia, característica comum em picapes médias mais antigas e até mesmo na sua geração anterior.
Design: o desenho da quinta geração do Ranger apresenta uma clara evolução quando comparado ao seu antecessor. A picape faz boa vista e tudo conversa com tudo. Nota: 10
Interior: as quatro portas trazem apoios de braço revestidos em couro e as porções superiores das portas dianteiras contam com material de toque suave, o mesmo que se repete no tabelier (a "capelinha" logo acima do painel de instrumentos). As partes em plástico rígido passam uma boa impressão de qualidade e o sistema de iluminação ambiente, embora não mude de cor, deixa a cabine bastante interessante nos passeios noturnos. É uma pena que, como de costume, as portas traseiras não receberam as guias decorativas de LED. Nota: 9
Mecânica: munido do segundo motor mais poderoso do segmento, de uma transmissão de dez velocidades e de um sistema de tração seletiva completo (que permite até a operação como um AWD), o Ranger é imbatível nesse aspecto. Há freios por discos ventilados nas quatro rodas. Nota: 10
Tecnologia: o Ranger Limited tem tudo e mais um pouco, mas não é infalível - sentimos falta de ajustes elétricos para o banco do passageiro e de memórias para o do motorista. Nota: 9
Conveniência: há rebatimento elétrico dos retrovisores, alças para auxiliar no embarque e desembarque, estribos laterais, bases para racks tanto no teto quanto na caçamba... em suma, a falta sentida é a total ausência de uma capota qualquer para o compartimento de carga. A Ford oferece diferentes opções, porém, pelo menos a cobertura de lona deveria vir de série. Sentimos falta de paddle-shifters para trocas manuais; os botões na alavanca não são nada intuitivos e não combinam com a pegada moderna da picape. Nota: 8
Acomodações: há apoios de braço, luzes de cortesia e portas USB tipo A e tipo C para todos, na frente e atrás. O espaço geral é adequado, sem sobras ou faltas, mas não é a picape mais espaçosa do segmento. As saídas traseiras de ar condicionado são muito bem-vindas. Nota: 9
Funcionalidades: tudo no Ranger Limited Plus funcionou como deveria, sem travamentos ou bugs. Nota: 10
Desempenho: o V6 turbinado de três litros esbanja performance para ninguém botar defeito, entretanto, a sensação que a transmissão passa é a de que seu escalonamento poderia ser um pouco melhor - não é ruim, mas não é irretocável. A suspensão, de igual modo, poderia ser mais confortável, visto que a proposta da versão Limited Plus é mais "lifestyle" do que trabalho. Em uma comparação direta com o Amarok, o rival alemão ainda é superior no asfalto (especialmente por contar com um overboost de 272cv), contudo, o Ranger ainda é muito bom e chega a ser mais versátil no off-road. Por fim, o consumo médio de 10,7km/l em percurso misto ficou dentro do esperado em vista do peso e do desempenho do carro. Nota: 10
Segurança: a quinta geração do Ford Ranger passou pelo crivo do Latin NCAP no ano passado e praticamente gabaritou o teste, algo bastante incomum entre utilitários, obtendo cinco estrelas. O instituto ressaltou a qualidade estrutural da picape em todos os aspectos e também relatou o funcionamento adequado dos sistemas de segurança; a única ressalva negativa ficou para a baixa proteção do "efeito chicote" (o rebote repentino da cabeça em caso de colisões traseiras) nos ocupantes traseiros, ocasionada pelo encosto quase reto dos bancos de trás. Nota: 9
Custo X Benefício: ao preço de R$366.600, o Ranger Limited Plus é a segunda picape mais cara do Brasil atualmente, ficando atrás apenas do BYD Shark. Apesar disso, todo esse dinheiro se traduz em um dos produtos mais modernos da categoria, repleto de qualidades e com poucos contras como você pôde conferir nos tópicos anteriores. Alguns rivais se sobressaem unicamente em pontos específicos, a exemplo do Fiat Titano que é melhor em espaço interno ou o Mitsubishi L200 que é melhor fora do asfalto. Se, contudo, procura uma picape média e quer levar o melhor conjunto da obra, não há muito o que pensar. Nota: 8
Avaliação final: 92/100
O Ranger Limited Plus não é o tipo de picape que alguém compra porque precisa, e sim porque quer. É como se o seu cliente estivesse em busca de um modelo premium, mas quisesse uma embalagem mais "opressora e ostentadora", afinal, as picapes médias se tornaram verdadeiros gigantes do asfalto brasileiro e transmitem imponência como poucos veículos de passeio conseguem.
Mas os atributos do Ranger de quinta geração não se resumem a isso. A picape sintetiza o que muitos compradores sentem falta na categoria, trazendo modernidade e os recursos tecnológicos mais atuais a um segmento que parece um tanto estagnado de maneira geral, repleto de concorrentes que ainda estão um nível abaixo. É a forma que a Ford encontrou de mostrar aos rivais como é que se faz.
Motor: 3.0 turbo, 6 cilindros em V, 24 válvulas, diesel
Potência: 250cv a 3.250rpm
Torque: 61,2kgfm a 1.750rpm
Potência: 250cv a 3.250rpm
Torque: 61,2kgfm a 1.750rpm
Transmissão: automática de dez marcha
Tração: integral seletiva (4WD) com reduzida e opção de funcionamento sob demanda (AWD)
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados nas quatro rodas
Direção: elétrica
Pneus: 255/55 R20
Comprimento: 5,35m
Largura: 1,91m
Entre-eixos: 3,27m
Altura: 1,88m
Peso: 2.357kg
Caçamba: 1.250l
Carga útil: 1.023kg
Capacidade de reboque: 3.100kg (com freio)
Tanque de combustível: 80l
0 a 100km/h: 9,2s
Velocidade máxima: 188km/h
Fotos (clique para ampliar):